Algoritmos podem ser manipulados para "privilegiar certos resultados"

Os algoritmos das redes sociais foram moldados para "gerar lucro às plataformas" mas podem ser manipulados para privilegiar determinados resultados, considera o investigador José Moreno.

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© Matt Cardy/Getty Images

Lusa
03/05/2025 22:33 ‧ há 6 horas por Lusa

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Redes Sociais

Os algoritmos das redes sociais são desenhados para se moldarem aos gostos do utilizador e sobretudo para "gerar lucros às plataformas", considerou o investigador do MediaLab do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL), em declarações à Lusa.

 

É evidente que "os donos das plataformas e as pessoas que as gerem podem mexer no algoritmo, portanto há sempre a possibilidade de manietarem o algoritmo de alguma forma para privilegiar determinados resultados", disse.

Para José Moreno, o X, de que Elon Musk é proprietário, é "um caso paradigmático da influência do setor político sobre uma plataforma de redes sociais", sendo possível "identificar algumas alterações no modo de funcionamento da plataforma, nomeadamente do ponto de vista do algoritmo, que indicam um favorecimento de certo tipo de conteúdos mais ligados à direita".

"Os partidos de extremo estão mais à vontade para puxar certos temas que são mais problemáticos" e desta forma ganham facilmente destaque nas redes sociais, disse.

"Hoje o partido realmente populista em Portugal é o Chega", disse, assinalando que, quando foi criado, há mais de 25 anos, o Bloco de Esquerda era visto como um partido populista de esquerda "exatamente porque tinha um discurso completamente diferente daquele que existia até então, um discurso muito mais virulento também, com temas completamente diferentes, temas de esquerda, naturalmente, mas com o mesmo tipo de abordagem".

Na opinião de José Moreno, estes partidos têm mais propensão para abordar "certos temas que são mais problemáticos, usar um certo tipo de comunicação política que é mais incisiva, mais emotiva, mais virulenta", em contraste com os partidos moderados, "porque têm que apelar a uma fração do eleitorado que é mais conservadora desse ponto de vista".

Para o eurodeputado do PS Bruno Gonçalves, não se pode "cair na tentação de achar que uma rede funciona contra a mensagem e deixar de lá estar" porque, a partir do momento em que se deixa de "debater e refutar, é também o momento em que as pessoas ficam mais expostas a determinados discursos de ódio".

Bruno Gonçalves defende que "é também responsabilidade do legislador garantir que todos os algoritmos na União Europeia (UE) são livres, transparentes e neutros", tema em que o eurodeputado diz estar a trabalhar no Parlamento Europeu para contribuir para "uma promoção de uma estratégia saudável e soberana da UE".

Ser neutro, para o socialista, é garantir que "toda a gente tem oportunidade de expor as suas opiniões", e o que não pode acontecer "é que seja favorecida uma opinião em detrimento de outra".

João Oliveira, eurodeputado do PCP, considera que o espaço comunicacional deve estar sujeito a regras. O também candidato nas próximas autárquicas sustentou que não é possível considerar que as redes sociais, "só porque são propriedade de alguém", podem estar isentas das regras de transparência porque tal seria estar "à margem das regras do regime democrático".

"A promoção de forças de extrema-direita, de discursos racistas e xenófobos, por muito que alimente o negócio que as redes sociais têm do 'clickbait', não pode ser admissível", defende João Oliveira.

Para Francisco Louçã, antigo líder do Bloco de Esquerda e candidato às eleições legislativas por Braga, a rede social X, detida por Elon Musk, é um exemplo da interferência direta dos algoritmos nas mensagens direcionadas a eleitores.

"É verdade que Elon Musk chegou a manipular o algoritmo em benefício próprio para garantir que os seus postos de apoio a Donald Trump tivessem mais alcance", disse, criticando a "batota". Contudo, é marcando presença nas redes sociais que também se pode combater o extremismo, considerou.

O deputado da Iniciativa Liberal, Mário Amorim Lopes, admitiu à Lusa que o partido já discutiu internamente o uso do X uma vez que constataram que "o algoritmo privilegia muito o confronto, a polarização" porque isso "também dá 'engagement'".

Os algoritmos, defendeu, devem ser "'open source'", ou seja, o código deve estar acessível e de forma a poder ser escrutinado e "deve haver um enquadramento regulatório para que não sejam usados como um instrumento político para favorecer um ator A, B ou C".

Vários indícios apontam que, no caso das eleições em fevereiro na Alemanha, existiram esforços de manipulação do algoritmo das redes sociais, no X e no TikTok, para fazer passar mensagens de apoio à extrema-direita, de acordo com a Democracy Reporting International (DRI) e a organização não-governamental Global Witness.

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