"A sociedade não pode ser usada como cobaia", alertou a vice-presidente do ELLIS - European Laboratory for Learning and Intelligent Systems, lembrando que atualmente nenhum produto é colocado no mercado sem ser testado previamente, à exceção do que se passa com os serviços digitais.
"Isto é uma irresponsabilidade", criticou Núria Oliver, uma das oradoras do painel sobre "a contribuição da universidade e a revolução tecnologia", do V Encontro Internacional de Reitores da Universia 2023, que está a decorrer em Valência.
A especialista lembrou que existem produtos na Internet que são "usados por crianças de dois anos": "Porque é que os serviços digitais que usamos todos os dias não passam por uma entidade reguladora? Isto é uma irresponsabilidade."
Núria Oliver defendeu que é preciso regulamentação que "garanta que o uso é sempre seguro antes de se lançar um produto", lembrando que está a ser desenhado um diploma legal, que conta já "com três mil emendas".
A União Europeia está a criar uma Lei da Inteligência Artificial, que deverá reforçar a regulamentação da utilização da inteligência artificial e determinar os riscos da sua aplicação.
Segundo a representante da organização sem fins lucrativos para a promoção da Inteligência Artificial, o diploma deverá "estará concluído no próximo ano".
Conhecida pelo seu trabalho em modelos computacionais do comportamento humano e interação entre o homem e o computador, Núria Oliver alertou ainda para o impacto da IA nas salas de aulas, nomeadamente o uso de ferramentas como o ChatGPT.
"Vamos perder a capacidade de pensar, de escrever, porque vamos ceder à tentação do algoritmo?", questionou a especialista, lembrando que "o processo criativo até hoje tem sido um processo humano".
No entanto, disse, as pessoas "têm medo quando veem uma página em branco" e por isso é preciso garantir que não irão cair na tentação do mais fácil, concluiu a co-presidente da ELLIS.
Apesar dos alertas, os especialistas presentes no Encontro Internacional de Reitores defenderam que não se deve abrandar os avanços da ciência relacionados com a IA, por considerarem que vão trazer benefícios para a aprendizagem.
Foi o caso da diretora de estratégia de investigação em IA conversacional da Google AI, Pilar Manchón, que defendeu que se deve "investir mais na parte responsável da investigação".
Apesar de reconhecer que alguns instrumentos de IA, como é o caso do polémico ChatGPT, ainda "não está suficientemente madura" nem "está preparada para trabalhar como" os humanos, a especialista disse que poderão ser bastante úteis tanto para alunos como professores.
Além disso, a IA "já fugiu do nosso controlo. Já não conseguimos colocar o génio de volta na lâmpada", acrescentou a também oradora convidada do V Encontro Internacional de Reitores Universia 2023, que está a decorrer na Cidade das Artes e das Ciências, e conta com a presença de cerca de 700 reitores e dirigentes do ensino superior de 14 países, entre os quais Portugal.
O encontro organizado pelo Banco Santander foi inaugurado pela presidente do Banco Santander, Ana Botín, e pelo presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez.
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