Esta noite, Pedro Passos Coelho deu a sua primeira grande entrevista desde que passou de primeiro-ministro a líder do maior partido da oposição. Essa foi, aliás, a questão que marcou o início da entrevista na antena da SIC.
Questionado sobre se está disposto a ficar na oposição durante os próximos quatro anos, Passos Coelho esclareceu desde logo que "essa é uma responsabilidade" enquanto líder do PSD. No entanto, não deixou de lembrar o ‘jogo político’ que levou à mudança de Governo, em novembro do ano passado
“Havia um Governo que saiu das eleições e que foi derrotado sem ter apresentado uma proposta de Orçamento. A expetativa de que o país e eu temos é que o Governo [de Costa] possa lá estar quatro anos. Nessa medida, esse é o papel da oposição. Eu lá estarei a liderar o PSD e ao mesmo tempo irei sinalizando aquilo que pode ser o caminho alternativo, o que faríamos se estivéssemos lá, que projeto estaríamos a concretizar e o que os portugueses podem escolher quando forem chamados a fazê-lo”.
Algo é certo: no caso de nova crise política, Passos não será protagonista
“Se algum problema sobrevier é porque houve um problema dentro da própria maioria [parlamentar]”, vincou Passos, recusando a leitura de que são precisas novas eleições. “Acho que o país não precisa de andar sempre em eleições. Nas últimas legislativas escolheu com clareza quem gostava que governasse, os deputados tiverem um entendimento diferente dos eleitores e fizeram uma outra escolha", destacou.
Neste momento, antevê que "aquilo que se espera é que [António Costa] possa coerentemente governar, mas não sei se vai ser fácil ou não”. Há, contudo, temáticas que, sublinhou, podem facilmente levar a desentendimentos dentro da própria maioria parlamentar, sendo uma delas as visões económicas que cada um dos partidos tem sobre o país.
“Em matérias como estratégias económicas, é sabido que o Bloco e o PCP não têm relativamente à economia social de mercado a mesma posição de abertura do PS”, referiu o líder social-democrata.
Por outro lado, “há os problemas que resultam dos compromissos europeus”. Neste plano, os alvos das críticas de Passos são claros: “Tanto o PCP como Bloco são partidos que não estão muito habituados a Governar e acham que é mais fácil ficar de fora para criticar”. Ainda assim, “mas agora que apoiam um Governo, terão de resolver essas contradições”.
Sobre Bruxelas e o Orçamento
O rumo da entrevista focou-se, posteriormente, no plano europeu. A pergunta inicial foi se Passos Coelho realmente acusou o atual Executivo de se “ajoelhar perante Bruxelas”, mas o social-democrata esclareceu que não, que aquilo que fez foi "ironizar a posição do Bloco de Esquerda (BE" perante a Comissão Europeia, e recordou a história dos gregos do Syriza.
“Durante vários anos, o BE afirmava que o Governo não se impunha perante Bruxelas e se ajoelhava perante Bruxelas. E quando apareceu o Syriza, a ligação foi muito enfatizada, por dizer que o partido iria mudar a maneira como os governos se relacionam com a Comissão Europeia. Aquilo que veio a acontecer foi um embate que penalizou bastante os gregos que acabaram por ter de firmar um terceiro resgate com condições bastante severas. Agora, o BE acusa o Syriza de se ajoelhar perante a Europa, mas eles cá não se ajoelham porque acham que o PS se pode ajoelhar”, sustentou.
Ainda sobre cedências a Bruxelas, o líder 'laranja' destacou que na posição em que Portugal estava em 2011, se havia coisa que Portugal não devia fazer era impor exigências, afirmando, por isso, que a ‘sorte’ de António Costa é maior do que aquela que ele, Passos, teve quando se tornou primeiro-ministro: “Quem pede dinheiro não impõe grandes condições, o melhor que pode fazer é aplicar-se nas transformações. Hoje, felizmente, o país tem uma margem de liberdade que não tinha quando eu cheguei ao Governo em 2011”.
Sem negar que o seu executivo estava ciente de que “as metas eram dificilmente alcançáveis com os meios" que tinham, Passos Coelho vincou que uma "posição mais arrogante" teria acabado em maiores dificuldades para o país. Foi aqui que José Sócrates entrou na conversa. “Se tivéssemos feito um confronto maior teríamos ficado sem dinheiro e teriamos de fazer o que fez o anterior primeiro-ministro, que foi pedir ajuda outra vez", justificou.