O primeiro "abanão" ocorreu nas eleições regionais de 09 de outubro de 2011, com o PSD a conquistar o pior resultado de sempre neste tipo de sufrágio, obtendo menos votos do que toda a oposição junta, mas a manter a maioria absoluta na Assembleia Legislativa.
O "terramoto" aconteceu a 29 de setembro de 2013, quando o PSD perdeu sete das 11 câmaras do arquipélago, incluindo o principal município, Funchal.
"Em apenas dois anos, a governação regional viu-se nas ruas da amargura, deparou-se com o pior dos 'horrores políticos' que podia imaginar. Entrou num choque de entropia e o processo de erosão foi rápido", resumiu o sociólogo Ricardo Fabrício, docente da Universidade da Madeira.
Ricardo Fabrício, natural da Madeira, afirmou à agência Lusa que "sem recursos, com as expectativas penhoradas, por via de um plano de ajustamento económico e financeiro regional, celebrado em janeiro de 2012, aconteceu o safanão" no mapa político do arquipélago com as autárquicas do ano seguinte.
Para o investigador do Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, vários fatores explicam esta mudança numa região que não conheceu outra governação que não a do PSD.
Ricardo Fabrício apontou o "esgotamento sistémico dos recursos (financeiros, políticos, sociais) que ocorreu numa conjuntura difícil na sequência da crise financeira de 2008 e da intervenção externa em Portugal".
"Talvez a particularidade de tudo isto tenha a ver com a forma como estes acontecimentos foram, inesperadamente, turbinados na Madeira, imagine-se, sob os auspícios de um governo da mesma família política do PSD-Madeira", assinalou Ricardo Fabrício, acrescentando: "Vendo bem, o PSD-M 'foi ao tapete' com 'fogo amigo'".
Segundo o sociólogo Paquete de Oliveira, professor emérito do ISCTE-IUL -- Instituto Universitário de Lisboa, foram "fatores cumulativos e em conjunto" que desencadearam aqueles resultados políticos, destacando a crise nacional e internacional que "afetou de um modo bastante contundente a Madeira".
Paquete de Oliveira, natural da Madeira, apontou, também, "um certo cansaço" em relação ao presidente do Governo Regional, assim como o "desencanto político" resultado de um plano de ajustamento económico-financeiro regional motivado pela dívida.
"Sobretudo aqueles que apoiavam Alberto João Jardim começaram a ver muitos desvarios e que a fatura começava a ser paga", observou.
Ao ser questionado se da deslocação de votos do PSD para outros partidos se pode depreender alguma ingratidão do eleitorado face ao legado de Jardim, Ricardo Fabrício argumentou que "os eleitores dão os seus votos quando recebem ou veem as suas expectativas satisfeitas".
"Eu diria que foi assim na Madeira durante quase 40 anos. O dr. Jardim e o PSD-M satisfizeram expectativas de uma parte muito significativa da população. Goste-se ou não das expectativas satisfeitas ou do custo a suportar pela sua satisfação, a verdade é que este fenómeno aconteceu", declarou.
Recordando o "'boom' infraestrutural que a Madeira viveu durante anos e anos" ou "as taxas de desemprego baixas que a Madeira vivenciou até o início do século XXI", o investigador reconheceu que, entretanto, as coisas começaram a degradar-se e ocorreram mexidas no tabuleiro político.
"Isso é ingratidão? Penso que não. As coisas são mesmo assim", disse.