Gabriel Mithá Ribeiro confirma, esta sexta-feira, num artigo de opinião assinado por si e publicado pelo jornal Observador, que saiu da Assembleia da República depois de ter ficado fora do governo-sombra escolhido por André Ventura, pessoa que descreve como um "predador narcísico" que "abusa de poder" e que tem um "demónio vingativo".
"Desvinculei-me do Chega, pois não toleraria a mim mesmo arrastar-me numa das mais escandalosas práticas de parasitismo social e subsidiodependência, a condição de deputado-joguete nas mãos de um líder narcísico incompatível com qualquer forma de sujeito coletivo, que tratou de destruir os fundamentos de uma instituição sólida que lhe servisse de filtro existencial", escreve a certa altura o ex-parlamentar.
No artigo, Mithá Ribeiro descreve os "7 pecados mortais" de André Ventura, a quem acusa, diversas vezes, de ser "narcísico": "Desprezo [pelo ideal reformista]", "Inconsciência [moral]", "Negligência [cívica]", "Frieza [desumana de líder de ignorantes]", "Soberba [de violador do exercício de função soberana]", "Irresponsabilidade [de brincar ao governo sombra]" e "Imaturidade [de políticos destruidores de povos]".
Mithá Ribeiro acusa ainda o ex-líder de não conseguir "conter o demónio vingativo contra quem o critique" e preferir "prejudicar uma sociedade inteira a correr o risco de expor o seu ego ao desconhecimento de determinada matéria".
Segundo o investigador, doutorado em Estudos Africanos e natural de Moçambique, Ventura chegou-o a impedir de falar sobre racismo na Assembleia da República. "Impediu-me de falar sobre o assunto no Parlamento e, até hoje, o tema foi banido do radar político e cívico do Chega na mais cobarde irresponsabilidade social, cívica, civilizacional", atira, acrescentando que "um outro militante recomendou não falar do assunto por causa do risco de ser uma nova Joacine".
Para Mithá Ribeiro, o líder do Chega "não compreende a essência ideológica do seu próprio partido político", que está "cada vez mais disfuncional no sentido patológico do termo".
"A sua personalidade tóxica envenena o que ele mesmo semeou numa direita que não mais se pode permitir a si mesma ser infantil, primária, imoral, irracional, irresponsável, submissa a um dono", condena, comparando mesmo André Ventura a José Sócrates.
"A sua impossibilidade de olhar o meio envolvente sem o filtro narcísico move-o numa cruzada insana contra o sujeito coletivo. Tal pulsão existencial alimenta no núcleo duro do seu poder interdependências pessoais deprimentes, moralmente dissolventes e socialmente danosas no caso de ser governo. O país provou do mesmo veneno com o Partido Socialista de José Sócrates", conclui.
Recorde-se que Gabriel Mithá Ribeiro foi eleito deputado na XV, XVI e XVII legislaturas, sempre pelo círculo de Leiria, tendo sido reconduzido como secretário da mesa da Assembleia da República em junho passado, depois das eleições legislativas antecipadas.
No verão saiu da vice-presidência do partido, depois de ter sido afastado do cargo de coordenador do gabinete de estudos do Chega por André Ventura e renunciou ao mandato de deputado, em setembro.
Sabe-se agora que o facto de ter ficado fora do governo-sombra do partido pesou na decisão do professor, que acabou também por desistir da sua candidatura a presidente da Câmara Municipal do Pombal, nas autárquicas que se realizaram no último domingo.
Mithá Ribeiro foi substituído no Parlamento por Rui Fernandes.
Leia Também: Chega propõe Francisco Gomes para substituir Mithá Ribeiro na Mesa da AR