Em declarações à Lusa, por telefone, a partir de Paris, onde se encontra em pré-campanha para as eleições presidenciais de Janeiro de 2026, Marques Mendes comentou este episódio dizendo que "aquilo que aconteceu não devia ter acontecido".
Afirmando basear-se na declaração oficial feita pelo executivo de Luís Montenegro, Mendes afirmou que "não houve qualquer autorização do Governo português" para a escala, nos Açores, das três aeronaves que os Estados Unidos da América venderam a Israel.
"Acho bem que esta questão, que nunca devia ter acontecido, seja devidamente explicada no parlamento português", pede, considerando ser "óbvio e natural" que, em democracia, essas explicações aconteçam na Assembleia da República.
O ex-presidente do PSD e candidato presidencial apoiado pelos sociais-democratas defende que as explicações devem existir, não porque os esclarecimentos dados até ao momento sejam escassos, mas "porque é normal em democracia" que tal aconteça no parlamento.
"Quando acontece uma situação desta natureza, é natural que sejam dadas explicações ao parlamento. É natural. É tão óbvio e natural que nem tem, a meu ver, discussão", reforçou.
No sábado, em Chaves, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou que "o Governo não interveio em nenhum ato" que possa ser entendido como a venda de armamento militar a Israel, na escala dos caças F-35.
A explicação foi dada já depois de, na sexta-feira, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, explicar ter existido uma falha administrativa dos serviços que impossibilitou a emissão de um alerta político que permitisse ao executivo exercer uma decisão de oposição.
"O que ocorreu foi uma falha na avaliação dos serviços do caso concreto relativamente a comunicação feita pelos Estados Unidos de que tinham aviões seus a passar, a estacionar e a parar na base das Lajes", sustentou a 03 de outubro, no final da última reunião do Conselho de Ministros.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) fez saber, na quinta-feira, que a escala ocorreu sem comunicação prévia ao chefe da diplomacia portuguesa, garantindo ter existido uma "falha de procedimento".
Marques Mendes reagiu ainda à Lusa à detenção, por parte de Israel, de quatro portugueses que seguiam na Flotilha Global Sumud em direção à Faixa de Gaza para entregar ajuda humanitária, entre os quais está a coordenadora do Bloco de Esquerda, afirmando que "tudo o que já aconteceu [era] previsível".
"Toda a gente sabia que o resultado final ia ser este. Sabia a Mariana Mortágua [líder do Bloco de Esquerda], sabia eu e sabiam todas as pessoas que acompanham estas matérias. Aquela flotilha ia ser, a dada altura, intercetada, os seus integrantes iam ser detidos e, depois, repatriados para os seus países. Toda a gente já sabia isto. Deixemo-nos de hipocrisias", disse.
"Também era isto que os ativistas pretendiam, os ativistas sabiam muito bem que não iam chegar a Gaza, o que eles pretendiam era chamar a atenção para esta causa, era protestar quando fossem detidos, portanto, conseguiram os seus objetivos", afirmou.
Para Marques Mendes, "o Governo português agiu de forma fortíssima, acompanhando, dando proteção diplomática, questionando as autoridades de Israel pelos meios legítimos e diplomáticos para que tratassem com dignidade as pessoas detidas e as repatriassem para Portugal".
"O Governo português não pode ser criticado por nada, agiu com toda a correção", reforçou, sublinhando que, "independentemente se gostar, ou não, desta iniciativa, são portugueses e merecem -- e têm direito -- a toda a proteção consular e diplomática".
Os portugueses que vão são repatriados hoje, devendo ser recebidos pelas 22:30 no Aeroporto Humberto Delgado, anunciaram os grupos Flotilha Humanitária e Palestina em Português.
As forças israelitas intercetaram a flotilha entre a noite de quarta-feira e a manhã de quinta-feira, com cerca de 50 embarcações, detendo os participantes, incluindo quatro cidadãos portugueses: a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, a atriz Sofia Aparício e os ativistas Miguel Duarte e Diogo Chaves.
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