Nuno Melo, ministro da Defesa Nacional e também presidente do CDS-PP, esclareceu, esta sexta-feira, que as suas declarações acerca da flotilha humanitária foram feitas enquanto líder do partido político. Note-se que nas embarcações seguiam quatro portugueses, incluindo a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua.
Nuno Melo afirmou aos jornalistas, na quinta-feira passada, que a Flotilha Global Sumud era "uma iniciativa panfletária, em direção a um território ocupado por uma organização terrorista, responsável por um ataque que vitimou mais de 1.200 pessoas em Israel".
"É para apoio a uma organização assim, considerada terrorista pela União Europeia, que estas pessoas [quatro cidadãos portugueses] se mobilizam em direção a um território que está em guerra?", disse o líder do CDS-PP, referindo-se ao grupo terrorista responsável pelo ataque no sul de Israel, em outubro de 2023, que causou 1.200 mortos e fez 251 reféns.
Já na sexta-feira, Nuno Melo salientou que "esta flotilha não resolve nada do problema humanitário" e que é preciso "paz", "tanto na Palestina como em Israel".
"Realmente naquilo que tem a ver connosco obriga-nos a tomar uma posição que basicamente é esta: Nós entendemos que esta flotilha não resolve nada no problema humanitário", notou.
Mais tarde, enquanto discursava numa iniciativa de campanha para as eleições autárquicas, o presidente do CDS-PP ressalvou que falava como líder de um partido e não como ministro da Defesa Nacional.
"Quando aquilo que dizemos ou aquilo que fazemos é distorcido e o que chega ao destinatário é uma coisa diferente do que aquilo que nós pensamos, então realmente acaba por ser a ideia de democracia tal e qual nós a temos presente que começa a ser posta em causa", começou por dizer.
E acrescentou: "É por isso que eu faço questão de dizer que estou aqui como presidente do CDS, eu não estou aqui ministro da Defesa".
Nuno Melo sublinhou que, embora exerça a função de ministro, "isso não significa que o CDS, que é um partido que esta numa coligação de Governo, se tenha diluído nesse Governo".
"O CDS é um partido político que soma o espaço político à Direita, mas é um partido político e, enquanto partido político, o CDS tem opinião, o CDS tem o direito de ter opinião e o CDS expressa essa opinião. É o que faço enquanto presidente do CDS", complementou.
Portugueses detidos por Israel aguardam deportação "sem comida nem água"
Recorde-se que, na quarta-feira passada, dia 1 de outubro, Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte, que se encontravam nas embarcação da flotilha rumo a Gaza, foram detidos pelas forças israelitas. Soube-se, mais tarde, que um quarto português também estava a bordo de um dos barcos.
Na sexta-feira, os portugueses receberam a visita do cônsul de Portugal em Israel e Mariana Mortágua - que se encontra numa cela com 12 pessoas - pediu para que fosse transmitida uma mensagem à sua família, onde revelou estar "sem comida e sem água".
"Mãe, estou bem, mas não nos tratam bem, sem comida nem água durante 48 horas. Convoquem manifestação", terá pedido a deputada, numa mensagem escrita à mão que foi entregue à mãe da deputada pelo cônsul.
A embaixadora Helena Paiva, que também visitou os portugueses, "pôde confirmar que todos se encontravam bem de saúde apesar das condições difíceis e duras à chegada ao porto de Ashdod e no centro de detenção", indicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), numa nota enviada à Lusa.
"Não foram sujeitos a violência física, não obstante queixas várias - queixas estas que levaram a um protesto imediato por parte da embaixadora de Portugal em Israel", segundo o Palácio das Necessidades.
De salientar ainda que os quatro portugueses aceitaram ser "deportados de forma voluntária e de imediato" e foram informados de que as autoridades israelitas os colocarão "nos primeiros voos disponíveis destinados à Europa, a expensas do governo israelita, podendo sofrer atrasos devido aos feriados israelitas do SUKKOT".
Neste processo, "serão acompanhados por um funcionário do MNE", acrescentou o ministério tutelado por Paulo Rangel.
Leia Também: Portugueses "bastante tempo" sem água nem comida. MNE protesta