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"Quero tratar da qualidade de vida e do bem-estar, olhar para as pessoas"

Pedro Duarte, candidato da coligação PSD/CDS-PP/IL à Câmara Municipal do Porto, é o convidado desta sexta-feira do Vozes ao Minuto. "Movido por uma razão emocional" na decisão de avançar para esta corrida, o também ex-ministro assume, nesta entrevista, uma "paixão gigantesca e quase incontrolável" pela cidade.

"Quero tratar da qualidade de vida e do bem-estar, olhar para as pessoas"

© Getty Images

Catarina Correia Rocha
03/10/2025 09:30 ‧ há 1 dia por Catarina Correia Rocha

Política

Pedro Duarte

Foi ministro dos Assuntos Parlamentares no primeiro executivo de Luís Montenegro, o que "contribuiu para poder vir a ser o presidente de que o Porto precisa nesta fase". Pedro Duarte é o candidato da coligação PSD/CDS-PP/IL (com o apoio do movimento Independentes do Porto) à autarquia da segunda maior cidade do país, e tem na segurança uma das suas principais bandeiras - quando se está num momento em que a cidade vive com "ameaças".

 

A mobilidade - nomeadamente a intenção de tornar os transportes públicos gratuitos para os portuenses ou a questão do Metrobus -, a habitação e a imigração são também temas fundamentais, com Pedro Duarte a pretender "tratar da qualidade de vida e do bem-estar das pessoas", olhando "para elas e não tanto para a edificação".

Com as opções e soluções que defende para o Porto, chega também "uma grande confiança" de que, no dia 12 de outubro, os portuenses lhe entregarão a "responsabilidade de liderar a cidade e a região do Norte".

Temos um problema grave de dificuldade de recrutamento para a PSP, muito por força daquilo que é o mecanismo atual. Os candidatos vão para a escola de polícia, ali ficam durante 9 ou 10 meses, depois são colocados em Lisboa e não sabem quando é que saem de Lisboa

Começamos por uma das principais bandeiras da sua candidatura - a segurança. Quer mais videovigilância no Porto, mais iluminação, colocar mais 100 polícias municipais nas ruas. Como é que vai pôr na prática esta medida relativa ao policiamento de proximidade? Quanto é que pode custar?

O nosso objetivo para essa medida em especial é o seguinte: Através de um protocolo com o Ministério da Administração Interna - algo que já foi experimentado há muitos anos -, a Câmara do Porto assume o encargo da formação destes 100 novas polícias e criamos um concurso de recrutamento específico para a Polícia Municipal do Porto. Já os montantes em causa são algo perfeitamente compatível, julgo que estará na base de menos de 2 milhões de euros.

Hoje, temos um problema grave de dificuldade de recrutamento para a PSP, muito por força daquilo que é o mecanismo atual. Os candidatos vão para a escola de polícia, ali ficam durante 9 ou 10 meses, depois são colocados em Lisboa e não sabem quando é que saem de Lisboa. Muitos deles, aliás, estão mais de uma década em Lisboa à espera de serem colocados. E isso é incompatível com os salários que recebem, com os preços de alojamento na cidade hoje em dia e, deste modo, não há candidatos suficientes.

Agora, aquilo que é um concurso especial de recrutamento em que quem se candidata saiba que vai ser colocado na Polícia Municipal do Porto... temos, hoje em dia, condições para pensar que vão haver muitos candidatos para esse efeito. A autarquia assume o encargo de pagar essa formação e, depois, eles são integrados no quadro da Câmara Municipal. E aí o custo é aquele que já está previsto do ponto de vista orçamental, porque nós estamos basicamente a preencher o quadro. O quadro já lá está, temos é polícias em falta e, portanto, isso não é, do ponto de vista financeiro, um investimento muito significativo - e penso que o retorno vai ser muito impactante para a cidade.

Temos, do ponto de vista da segurança na cidade, de deixar de ser complacentes com algumas situações com as quais convivemos

Como é que pode, então, fazer a diferença? 

Falamos em 100 polícias não é por ser um número redondo, é, de facto, o preenchimento do quadro. Os especialistas fizeram a avaliação da realidade territorial da cidade do Porto e consideraram que, com mais 100 polícias, designadamente se eles forem para a rua e não estiverem a fazer funções administrativas, temos uma cobertura do território que já permite termos a tal polícia de proximidade e polícia com visibilidade, que, por um lado pode atuar quando há crime e, por outro, pode ser dissuasor de haver crime - só pelo facto de estar presente. Teremos aí uma cobertura do território da cidade completamente diferente daquela que temos hoje. Isso pode ter um impacto muito interessante. 

Esta medida dos polícias talvez seja a mais emblemática, mas há muitas outras. Na videovigilância, na iluminação pública, no reforço de outros meios. Mas o essencial é uma mudança de, diria, atitude. Temos, do ponto de vista da segurança na cidade, de deixar de ser complacentes com algumas circunstâncias com as quais convivemos e vou dar um exemplo: O consumo de droga a céu aberto na via pública.

Era exatamente a minha próxima pergunta. A insegurança deve-se a quê? Quais são as causas estruturais da insegurança na cidade, na sua perspectiva? 

Nós temos, essencialmente, duas causas. A maior de todas é claramente o problema da droga, simplificando. O tráfico, o consumo, compra e venda, no fundo, o negócio da droga. Essa é a razão fundamental e é por isso que temos [um problema] na zona de Ramalde, na zona ocidental da cidade, em torno da Pasteleira Nova… Temos um problema também complicado no Bonfim, na zona do Campo 24 de Agosto, também no Centro Histórico, na zona mais central da cidade, e isso tem muito a ver com droga. E temos de enfrentar o problema de base. 

Depois, há uma outra questão, relativamente mais recente, que está relacionada com alguns grupos organizados dentro de algumas comunidades imigrantes que estarão, aliás, de forma ilegal, mas que manifestamente são grupos organizados do ponto de vista da criminalidade. E isso é um fenómeno novo na cidade, que também temos de enfrentar de forma absolutamente implacável. Não podemos admitir que esse tipo de organização criminosa vá crescendo, porque causa também um grande transtorno aos cidadãos do Porto, como é fácil de perceber. Nós temos aí de mudar muito a atitude. Não pode haver complacência com circunstâncias dessas.

E também o próprio cuidado do espaço público é muito importante para efeitos de segurança. Às vezes a falta de limpeza, o descuido generalizado em algumas zonas da cidade, o facto de nós quase já convivermos com um número incalculável - porque ninguém tem o número oficial - de sem-abrigo na cidade, e que está a aumentar… Temos de encontrar, evidentemente, um teto para essas pessoas. Não podemos aceitar que vivam na rua e seja isso uma causa de degradação.

Os sem-abrigo também são causa de insegurança? É essa a ligação que está a fazer? 

Não necessariamente. Admito que, em alguns casos, sim. Porquê? Porque temos uma parte muito significativa de sem-abrigo que está associada ao problema da toxicodependência. Portanto, nesse sentido, sim. Não por serem sem-abrigo, obviamente, mas porque têm associado outro tipo de circunstâncias. Não são os 100%, embora a esmagadora maioria tenha problemas de adição associados. Nem sempre é aquilo que chamamos droga, muitas vezes é, por exemplo, o álcool e outros. Mas, independentemente disso, penso que uma cidade não deve conviver com pessoas a viverem na rua.

Isso aumenta uma percepção de insegurança. Há uma percepção de insegurança quando se tem na porta de casa alguém a viver, encostado à porta do prédio. Isso não é bom, desde logo, para a pessoa que vive na rua, como é evidente, mas também não é bom para aquilo que é a organização social e urbana que queremos ter. Perturba, intranquiliza.

É absolutamente claro que alguém que se está a injetar na via pública - à frente de crianças e à porta de escolas e junto de turistas e de cidadãos mais idosos ou menos idosos - contribui de forma muito intensa para uma degradação da nossa cidade que temos de inverter rapidamente

É uma das preocupações que tem encontrado quando fala com os portuenses na rua, nas associações que visita?

É, sem dúvida nenhuma. Dentro do eleitorado mais idoso é mesmo uma causa de percepção de insegurança - mesmo quando, por vezes, ela não é real, mas há uma percepção e isso intranquiliza toda a gente. E, devo dizer, ainda bem. Porque no dia em que convivermos e acharmos normal convivermos com os cidadãos que vivem na rua alguma coisa estará errada na nossa sociedade.

Que outras preocupações lhe revelam? 

Esta, por exemplo, do consumo da droga na via pública, que é outra coisa que vai ter de acabar. Nomeadamente à porta de escolas. Em locais públicos onde há muita gente a querer conviver de forma normal e regular no seu dia-a-dia. E, hoje, isso acontece em muitas zonas da cidade de uma forma absolutamente, vou dizer, quase natural. Essa normalidade vai ter de deixar de acontecer. Nós aí também seremos completamente rigorosos, percebendo que a toxicodependência é uma doença, e dando condições para a tratarmos, acompanharmos e reinserirmos até profissional e socialmente os toxicodependentes -, mas teremos de ser implacáveis ​​com comportamentos inadequados.

Para mim, é absolutamente claro que alguém que se está a injetar na via pública - à frente de crianças e à porta de escolas e junto de turistas e de cidadãos mais idosos ou menos idosos - contribui de forma muito intensa para uma degradação da nossa cidade que temos de inverter rapidamente.

Outra das suas medidas é desincentivar o trânsito na cidade do Porto. Já falou nas portagens para os pesados ​​na VCI, assim como em transportes gratuitos para os portuenses - esta última medida com um impacto que projeta em 25 milhões de euros e que pretende pagar com a taxa turística e o estacionamento pago por não-residentes. Quanto é que espera receber com a taxa turística e quão longe está deste valor dos 25 milhões?

Segundo a estimativa e o que foi cobrado, no final do ano a taxa turística equivalerá a 30 milhões, grosso modo. Nós vamos aumentar em 1 euro a taxa turística...

Aumentar em 1 euro para já.

Para já, exatamente. E, portanto, isso significará que a taxa turística representará, em termos de receita, 40 milhões. Tem vindo sempre a crescer. Mas vamos imaginar que não cresce, num cenário mais conservador, que se mantém, isso significará 40 milhões de euros no próximo ano. Ora, desses 40 milhões, nós podemos, se assim entendermos, retirar 25 milhões dessa taxa turística para pagar esta medida, sendo que, na nossa estimativa, custará 25 milhões ao fim de quatro anos - porque as pessoas não vão aderir imediatamente, vão ter de haver muitas campanhas e vamos ter de melhorar muito os próprios transportes públicos para que cheguemos a esse montante.

Não estou à espera de que, porque os transportes públicos passam a ser gratuitos, que de repente quem tem um carro e está habituado a ir de carro, vai imediatamente passar a andar de transportes. Era ótimo, mas não vai acontecer

E se aderirem realmente a esta medida poderá existir a questão dos portuenses procurarem e os transportes não estarem lá - logo aí é dissuasor...

É. Ou se estiverem e depois são muito lentos porque ficam parados no trânsito, ou porque não são confortáveis. Temos de melhorar isso tudo. Em simultâneo, vamos ter de adotar outras medidas.

Ou seja, esta medida dos transportes gratuitos para os portuenses traz outras questões associadas.

Isto exige uma mudança, diria, quase cultural. Fui muito claro: Não estou à espera de que, porque os transportes públicos passam a ser gratuitos, de repente quem tem um carro e está habituado a ir de carro, vá imediatamente passar a andar de transportes. Era ótimo, mas não vai acontecer. Aquilo que vamos ter de fazer é começar a criar hábitos para as pessoas deixarem o carro em casa e começarem a utilizar os transportes. 

Das experiências internacionais que estudámos - onde esta medida foi adotada -, isso não acontece de um momento para o outro. Mas nós, por prudência, digamos assim, orçamental, estamos a prever que ao fim de quatro anos possamos ter um aumento da procura em cerca de 50%, o que seria fantástico. Para sermos honestos, não aconteceu em lado nenhum, mas vamos acreditar que o Porto vai conseguir. É nesse cenário que vai custar 25 milhões ao fim de quatro anos. Nos primeiros anos vai custar bastante menos. Achamos que só com o incremento, com o que vamos cobrar a mais de taxa turística, provavelmente poderemos cobrir a medida pelo menos nos dois primeiros anos.

E, depois, pode interessar-nos também aumentar o estacionamento para os não-portuenses. Para quê? Para inibir. Nem é tanto para podermos ter mais receita, é mais uma medida política de transportes para que quem venha trabalhar para o Porto, ou quem venha a uma consulta no Porto, ou visitar a cidade utilize transportes públicos e não venha com o seu próprio carro. Mas isto é uma medida adicional.

Estamos confortáveis, do ponto de vista do pagamento do custo desta medida, sendo que não há um euro que venha a ser pago pelos portuenses. Nem há um euro que fique de dívida para o futuro. A medida paga-se por esta via e vão ser os turistas a pagar e, se assim entendermos, eventualmente, cidadãos de outros concelhos que nos visitem.

Do ponto de vista urbanístico e paisagístico, destruiu-se a Avenida da Boavista, que é hoje uma espécie de uma pista de aeroporto, com imenso alcatrão, mas onde não temos um espaço para passear, uma ciclovia, umas sombras com umas árvores, nadaQuanto a transportes há também a questão do Metrobus. Avançou com uma providência cautelar para travar as obras relativas à segunda fase, mas como é que a cidade vai beneficiar com a paragem? 

Este é um projeto, diria, quase inacreditável de tão irresponsável que foi desde o início. É um projeto que hoje era suposto estar já a terminar, numa fase final e com autocarros a circular, e ainda não se sabem algumas coisas básicas. Uma delas é como é que se vão abastecer os autocarros com hidrogénio - estava previsto no projeto original haver uma estação de produção de hidrogénio, não existe, não há uma pedra sequer para isso, ninguém sabe como ou onde, nem quando vai acontecer. Era suposto o autocarro dar a volta na rotunda da Boavista, ninguém sabe como é que vai ser feita essa manobra. É um desastre absoluto.

E gastou-se dinheiro -, fundos comunitários, é verdade, mas poderiam ter sido alocados para outro tipo de projetos. Foi um desperdício total. Acresce a tudo isto que, do ponto de vista urbanístico e paisagístico, se destruiu a Avenida da Boavista, que é hoje uma espécie de uma pista de aeroporto, com imenso alcatrão, mas onde não temos um espaço para passear, uma ciclovia, umas sombras com umas árvores, nada. É uma coisa horrível de todos os pontos de vista. Designadamente, quando nós estamos numa onda – e bem – de percebermos a importância das matérias de sustentabilidade e de combate ao aquecimento global.

É tudo ao contrário do que devia ser. Foi um devaneio, como digo, uma fantasia e uma irresponsabilidade do governo de António Costa, do qual, aliás, o candidato do PS à Câmara do Porto fazia parte, e depois executada por uma administração do Metro do Porto liderada por um 'boy' socialista, que era o chefe de gabinete de um presidente de câmara aqui ao lado, que, de repente, passou para presidente da empresa.

Mas o Pedro Duarte também foi ministro. Está a falar de Manuel Pizarro, mas também foi ministro, também esteve no Conselho de Ministros quando muitas decisões foram tomadas. 

Sim, mas não no sentido de lançar este projeto. Aquilo que o governo fez foi: Estava-se no último ano de mandato e, seguindo aquilo que toda a gente sempre defende, incluindo o Partido Socialista, não substituímos a administração [da Metro do Porto] - exatamente porque estava no final de mandato. Quando acabou, estava-se num processo de substituição da administração, normal e natural, e os partidos reprovaram uma moção [no Parlamento], o governo caiu. E, pela lei portuguesa, um governo em gestão não pode nomear uma nova administração.

Portanto, esta administração manteve-se em funções. Quando tomou posse, e só depois de tomar posse o novo governo, iniciou-se o processo de substituição. Só que, infelizmente, foi lento – e essa matéria também não depende apenas do executivo. O que é inadmissível é que a administração que estava em gestão, digamos assim, tenha tomado decisões com um vínculo claramente partidário. 

Se for presidente da Câmara, no dia a seguir à minha tomada de posse aquelas obras são suspensasAgora, começar-se com a segunda fase do Metrobus, neste momento, a dias de se ir embora e a dias também de eleições autárquicas... Foi por isso que avançámos com a providência cautelar - porque as imagens que vimos de árvores a serem abatidas na Avenida da Boavista são particularmente chocantes. Ainda por cima só com motivações políticas. Não há mais nada para além disso. Para tentarem, talvez, prejudicar esta candidatura, não sei, eles responderão.

A verdade é que estão a abater árvores. Isto é uma coisa inacreditável, sob todos os pontos de vista, até humano. O que vamos tentar evitar é que não acabem o mal que começaram. Ainda temos árvores de pé, felizmente, na Avenida da Boavista e mais abaixo, junto ao Parque da Cidade. Vamos tentar que a providência cautelar impeça que isso aconteça antes que a nova administração da Metro e o novo presidente da Câmara estejam em funções. Também já disse: Se for presidente da Câmara, no dia a seguir à minha tomada de posse aquelas obras são suspensas.

Há situações em que aquela lei da economia que diz que o aumento da oferta baixa a procura não acontece. Este é um caso típico: A oferta gera mais procura. Quanto mais oferecermos casas, mais vai haver pessoas a quererem viver no Porto

Seguindo essa sua linha de raciocínio sobre a necessidade de espaços verdes na cidade, defendeu também que não é precisa mais construção nem mais betão na cidade do Porto. Então, qual é o cenário na habitação? Há casas, mas não estão a ser usadas? Quais as soluções?

Antes de passarmos às soluções quero só fazer um diagnóstico. De facto, há um problema de habitação na cidade do Porto como, aliás, há na generalidade do país e até da Europa. Agora, não é -, e isso é importante que se diga -, um problema de falta de oferta de habitação. É um problema de preço. Os preços são insuportáveis ​​para a maior parte dos cidadãos. Porque temos muita oferta de habitação no Porto, ao ponto de termos 20 mil casas que estão vazias.

É um número impressionante, mas é verdade: São 20 mil casas que, nesta altura, estão vazias. E temos no pipeline, digamos assim, de construção, mais dezenas de milhares de casas. Não é um problema de oferta. Isto tentei explicar ao candidato socialista e ele talvez ainda não tenha percebido. Há situações em que aquela lei da economia que diz que o aumento da oferta baixa a procura não acontece. Este é um caso típico: A oferta gera mais procura. Quanto mais oferecermos casas, mais vai haver pessoas a quererem viver no Porto, porque o Porto é uma cidade de facto especial desse ponto de vista. E tem um território que é escasso, não se estica. 

Não é porque construímos mais e mais casas que os preços vão descer. Isso não vai acontecer. O que temos de fazer é sermos seletivos nas políticas públicas, até por respeito pelo dinheiro dos contribuintes. A proposta socialista, por exemplo, implica gastar, no mínimo, mil milhões de euros a construir cinco mil casas que, segundo o que diz o candidato, ficamos a pagar durante 30 anos. A verdade é que isso nos vai endividar. É entrarmos outra vez numa alucinação e numa loucura que noutros tempos nos conduziu a bancarrotas.

Quanto às casas que não estão a ser usadas na cidade, qual é o plano?

Dentro dessas 20 mil casas temos de tudo: Casas privadas, particulares… Temos de criar incentivos para que os particulares coloquem essas habitações no mercado de arrendamento. O Governo anunciou recentemente algumas medidas muito importantes, com benefícios fiscais, com reduções de IMI no caso de as casas serem colocadas no mercado, no caso em que é preciso haver obras o IVA desce para 6%... Há um conjunto de medidas significativas que visam precisamente uma dinamização.

Muitas destas habitações estão vazias porque os proprietários, basicamente, preferem que estejam a valorizar 'paradas' do que entrarem num mercado de arrendamento que ainda consideram pouco confiável e com algum risco. Se melhorarmos a rentabilidade do arrendamento podemos inverter essa matéria.

Depois, algumas dessas casas devolutas são propriedade do Estado, do Estado Central e Municipal, e essas vamos ter de as colocar rapidamente também no mercado. Isto não significa – é importante que se diga – que se pare a 100% a construção nova. As cidades têm de se renovar e é importante também ter casas novas. Atualmente, a Câmara disponibiliza cerca de 410 casas que estão no mercado de arrendamento. Propomos quadruplicar esse número em quatro anos e, se precisarmos de uma nova construção para chegarmos a esse número, vamos com certeza também por esse caminho, até porque já há alguns projetos em andamento.

Nós não podemos é assentar uma política na densificação, porque a cidade do Porto está a crescer de uma forma muito intensa nos últimos anos. E não é só pela população – que está a aumentar de forma exponencial, somos a cidade onde o fenómeno está a crescer de forma mais intensa –, mas também pelo número de turistas que estão a chegar, pela área que está edificada –, onde nós batemos de longe todos os recordes do país -, mais prédios uns em cima dos outros. No número de habitantes por quilómetro quadrado somos a segunda cidade do país, atrás da Amadora. 

A minha ideia, e é por isso que me candidato, é tratar da qualidade de vida e do bem-estar das pessoas, é olhar para elas e não tanto para a edificação

E o Porto não deve ser a "nova Amadora", disse num debate.

Exatamente. Não é o meu modelo de cidade. Com todo o respeito pela Amadora, mas o Porto não pode ser um dormitório onde blocos se acumulam uns em cima dos outros. A minha ideia, e é por isso que me candidato, é tratar da qualidade de vida e do bem-estar das pessoas, é olhar para elas e não tanto para a edificação.

Nós hoje ainda estamos a pagar aqueles erros cometidos, lá está, quando há umas décadas se planeou a Amadora, em que, de repente, estamos a concentrar todos em blocos dormitórios sem olhar para os espaços verdes, para os jardins públicos, para os equipamentos desportivos, para as áreas de lazer. Para, no fundo, aquilo que nos deve motivar enquanto vida em comunidade. Uma cidade não é um acumular de pessoas, uma cidade é uma comunidade em que estas se podem encontrar, conviver, usar o espaço público.

Penso que há alguns candidatos, para não dizer todos os outros, mas refiro-me ao socialista que é o meu adversário enquanto candidato a presidente, que tem uma visão de lá de trás, de outro tempo, de uma era cinzenta e industrial – em que a visão de cidade foi construída com pressupostos completamente diferentes. O mundo mudou muito e basta, aliás, falar-se com as novas gerações. Dão uma relevância à sustentabilidade ambiental, à qualidade de vida, à saúde física, à saúde mental, completamente diferente. Se não encontrarmos um equilíbrio na nossa vida na cidade estamos a prejudicar-nos.

E de quanto poderia ser uma renda moderada na cidade? Manuel Pizarro tem avançado valores: Tem alguns em mente? Cada um pagaria consoante os rendimentos? 

A minha ideia é termos soluções diversificadas, não tenho um modelo único que sirva a todas as pessoas. E penso, com sinceridade, que o candidato socialista tem números, de facto, muito fixados, vamos pôr as coisas assim. Mas é irrealista, porque as casas dele demoram -, ele diz que há-de construir as casas em quatro anos... será um recorde mundial, nunca aconteceu. Mas vamos até imaginar -, hipótese irrealista -, mas vamos imaginar que é mesmo em quatro anos. Ninguém faz ideia se esses valores daqui a quatro anos fazem sentido. Não sabemos. Não sabemos a taxa de inflação, não sabemos o poder de compra, não sabemos como o mercado vai evoluir. Anunciar agora o que vai ser a renda daqui a quatro anos é uma medida eleitoralista, não tem adesão à realidade.

Queremos colocar casas no mercado já -, algumas daquelas 20 mil -, o que é, evidentemente, muito mais rapidamente do que estar a construir de base. Em parte nenhuma se construiu uma casa em quatro anos, quanto mais cinco mil, mas [Manuel Pizarro] diz que o que vai fazer. Ora, nós o que queremos é seguir aquilo que é a linha que tem vindo a ser seguida pelas políticas municipais, em que, para dar uma referência - mas, como digo, vamos ter de adequar -, o T2 anda na casa dos 600 euros, atualmente.

A nossa lógica é adaptar aquilo que é a realidade do mercado e adaptar aquilo que é a capacidade das pessoas, portanto, não queremos tabelar um preço único, mas sim, em função do rendimento e da taxa de esforço da família, adequarmos um valor -, designadamente daquilo que depois a Câmara terá de investir para apoiar essas pessoas.

E, aí, temos vários programas para isso. Há um a que chamamos o Solidário Mais, que já existe e queremos reforçá-lo desse ponto de vista, há um outro chamado Porto com Sentido que também queremos revitalizar, temos uma outra medida específica para jovens que estão à procura da primeira habitação, jovens do Porto ou jovens estudantes que vêm para a cidade, em que temos uma bolsa fixa, mas escalonada, que vai até aos 200 euros de apoio à renda. A ideia é termos várias modalidades para podermos atacar o problema servindo todos e não apenas alguns. E, desse ponto de vista, também nos distinguimos.

Temos no Porto casos - que, aliás, foram alguns públicos -, de centenas de cidadãos a viverem dentro da mesma habitação. Com autorizações de residência, registados. Isto é uma evidência clara de que alguma coisa de estranho se estará a passar

Há também a questão da imigração irregular, tema em que pensa ser necessário um combate firme. Como é que esta imigração está a impactar atualmente o Porto? O que deve ser feito? 

O que nos propomos fazer desse ponto de vista é criar, em conjunto com os serviços da Câmara, equipas de fiscalização que atuem ao lado das autoridades competentes, designadamente a polícia e a AIMA, que têm, desse ponto de vista, a responsabilidade primeira. 

Mas a Câmara pode ajudar a sinalizar circunstâncias suspeitas e, muitas vezes, não são só suspeitas: são evidências. Depois, pode atuar complementarmente àquilo que são as autoridades. Vou dar um exemplo. Temos no Porto casos - que, aliás, foram alguns tornados públicos -, de centenas de cidadãos a viverem dentro da mesma habitação. Com autorizações de residência, registados. Isto é uma evidência clara de que alguma coisa de estranho se estará a passar. Não me parece razoável que isso aconteça.

E há documentos, passados ​​por juntas de freguesia, que atestam que há mais de 100 pessoas a habitar na mesma casa. A Câmara tem esta informação e tem, a partir daí, evidentemente, de fiscalizar o que é que ali se passa, na defesa dos próprios que vivem, certamente, em condições indignas.

Temos 181 lojas identificadas, chamadas lojas de souvenir, que estão concentradas apenas em 43 ruas da cidade e quase todas ao lado umas das outras. Penso que temos razões para achar que não é um modelo de negócio razoável nem sustentável. E, portanto, muitas dessas lojas, muito provavelmente, escondem outro tipo de circunstâncias e de negócios que não serão lícitos. 

Tem de haver fiscalização, porque isto também está a ajudar a descaracterizar a cidade e nós não podemos ser também minimamente complacentes com isso. A identidade da cidade também se faz do seu comércio local, que é, muitas vezes, atirado para fora com essas lojas de fachada que, manifestamente, não trazem nada de positivo.

Se estudarmos a realidade das cidades, vemos até aqui ao lado, em Espanha, que, não sabendo preservar aquilo que é a sua identidade, acabam descaracterizadas e acabam por prejudicar, precisamente, esse carácter cosmopolita, porque depois as pessoas fogem

Que Porto temos agora e que Porto, então, deveremos ter no futuro? Não crê que algumas das suas medidas podem ser encaradas como um 'esvaziamento', em certa medida, da cidade? Menos trânsito, um turismo 'melhor'...

Não. O Porto tem uma tradição, felizmente, de grande abertura. E defendo um Porto aberto, claramente. Em todos os aspetos, um Porto cosmopolita e aberto.

Agora, há muitos exemplos - ainda por cima na Europa. Se estudarmos a realidade das cidades, vemos até aqui ao lado, em Espanha, que, não sabendo preservar aquilo que é a sua identidade, acabam descaracterizadas e acabam por prejudicar, precisamente, esse carácter cosmopolita, porque depois as pessoas fogem. E não quero que o Porto se transforme em Barcelona, ​​onde, de repente, se deixa de querer ir por se pensar que já não tem nada de catalão, sequer. Também não quero uma cidade como Veneza, que é muito bonita, toda a gente gosta de visitar... mas ninguém quer viver em Veneza. Quando tomo estas medidas é precisamente porque quero que as pessoas gostem de viver no Porto e queiram viver no Porto.

Estamos num momento crítico. O Porto é uma cidade única, tem características singulares como não há igual no mundo. Até por razões profissionais viajei muito e quanto mais viajo mais gosto do Porto. Agora, temos de perceber que a cidade está num momento em que tem ameaças, tem riscos, e alguns passam precisamente por nós perdermos essa identidade – do ponto de vista de uma sobrelotação de pessoas, de cimento, de betão, pondo de lado aquilo que são os espaços verdes, os jardins públicos, os equipamentos desportivos, tudo aquilo que é podermos viver e conviver em sociedade.

E, depois, por outro lado, de termos, de facto, uma afluência de cidadãos de outras origens, seja porque vêm para cá viver, seja porque vêm visitar como turistas, que, de repente, invadem e tomam conta da cidade. Aí é péssimo até para o próprio turismo, porque qualquer dia não se vai encontrar nada diferente no Porto, e isso nós temos de evitar. Assim, a minha candidatura é muito clara: Turismo, com certeza, mas com peso, conta e medida.

Acolhemos pessoas de fora, o Porto sempre acolheu, felizmente, comunidades imigrantes que fazem parte da nossa história. Mas com integração naquilo que é o nosso modo de vida no Porto, não é para nos virem impor um modo de vida. Se nós conseguirmos preservar estas características de cidade de bem-estar, cidade que olha para a felicidade das pessoas, não para os negócios imobiliários nem para quaisquer outros interesses, se nós impusermos esta cidade com liderança, o Porto vai afirmar-se e vai crescer.

Mas o Porto, geograficamente, vai crescer como? No Grande Porto. A cidade tem 41 quilómetros quadrados e acho que ninguém ainda ousou prometer na campanha que vão alargar. Temos de, enquanto cidade líder da região Norte e um contrapeso, digamos assim, do ponto de vista do centralismo de Lisboa, de nos afirmar crescendo, não é estragando o modo de vida dentro da cidade.

Quando tomei a decisão de ser candidato, fui movido por uma razão emocional. Foi a minha paixão pela cidade, que é gigantesca e quase incontrolável

E quanto a si: Pensa que ter sido ministro do primeiro governo de Luís Montenegro será 'currículo' ou 'cadastro' nesta candidatura à Câmara do Porto? 

Como preparação para ser presidente da Câmara acho que é currículo. É muito importante saber como é que funciona o Estado Central, qual é a mentalidade dos decisores no Poder Central, e isso para mim foi muito importante. 

Quando tomei a decisão de ser candidato, fui movido por uma razão emocional. Foi a minha paixão pela cidade, que é gigantesca e quase incontrolável. Mas há uma segunda parte: Tive de fazer um trabalho de introspeção e de avaliação íntima. Perceber: 'Mas tenho condições para ser um bom presidente?' Porque não basta ter vontade, também é perceber se temos condições.

E acho que, na minha carreira académica – tenho um doutoramento precisamente em Estudos de Desenvolvimento –, olhei muito para estas matérias. Tenho um MBA em Gestão e tenho experiência política também em vários setores: numa Assembleia de Freguesia, na Assembleia Municipal, e também no Governo Central.

Acresce que tenho também experiência do lado privado, que é muito importante do ponto de vista da capacidade de perceber aquilo que é, numa cidade como o Porto, que preza muito a liberdade, o seu espírito empreendedor próprio. A experiência no Governo também não tenho dúvidas que contribuiu para poder vir a ser o presidente de que o Porto precisa nesta fase. 

Tenho uma grande confiança de que no dia 12 de outubro os portuenses me vão dar esta responsabilidade de liderar a cidade e a região do Norte

No entanto, há sondagens que revelam um empate técnico com Manuel Pizarro. A que se deve, no seu entender? É a mensagem que não está a passar?

Não sou o melhor juiz para avaliar isso. Encaro as sondagens com naturalidade. Penso que tenho o problema de ser um candidato novo que aparece mais a pensar no futuro do que propriamente no passado... Tenho menos notoriedade, sou menos conhecido do que o candidato socialista que já é candidato há muitos anos. É a terceira vez que é candidato e que se repete e repete.

As sondagens são um instrumento de trabalho importante, não as quero desvalorizar. Mas, particularmente no Porto, não têm sido muito fiáveis. Não é porque acho que sejam mal feitas, é porque o eleitorado do Porto é silencioso, digamos assim, na hora da sua decisão. Por isso, tenho uma grande confiança de que no dia 12 de outubro os portuenses me vão dar esta responsabilidade de liderar a cidade e a região do Norte, que é uma inevitabilidade também. 

Se não for presidente, vou voltar para a minha vida privada

E se não vencer? 

Volto para a minha vida privada. Não sou político profissional e talvez isso também me distinga de outros candidatos: Não sou político, estou a dedicar-me numa missão à minha cidade. Se não for presidente, vou voltar para a minha vida privada. Se tal for compatível com a função de vereador e puder dar o meu contributo, assumi-la-ei.

Abandonar não seria defraudar as expectativas de quem acreditou em si e no seu projeto? 

Não, porque, ao contrário de outros que já foram vereadores e abandonaram depois -, nomeadamente o candidato socialista que prometeu que ficava na Câmara e depois quando foi chamado para o governo rapidamente saiu… 

Até posso perder votos com isso, mas prefiro falar a verdade. Estou a explicar aos portuenses o que vai acontecer. Quero dedicar-me à cidade. Se for presidente de Câmara sem dúvida que me dedicarei, como é óbvio, durante todo o meu mandato. Se não ganhar, espero poder manter-me como vereador. Genuinamente, espero poder manter-me. Mas vão todos perceber que tenho a minha vida pessoal e privada - e que vou voltar. Não sou político profissional nem quero ser político profissional. Se for compatível, muito bem. Se não for, não vou ficar a fazer de conta.

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