O primeiro dia de campanha para as eleições autárquicas de 12 de outubro, que arrancou esta terça-feira, centrou-se, sobretudo, na crise da habitação. O líder do PSD, Luís Montenegro, sublinhou que houve um "ressurgimento de bairros de lata e de barracas" nos "municípios geridos pelo Partido Socialista e pelo Partido Comunista". E os partidos não demoraram a reagir.
As declarações do também primeiro-ministro surgiram no âmbito de um almoço com todos os autarcas do distrito de Lisboa, a que só faltaram os independentes Isaltino Morais (Oeiras) e Sérgio Galvão (Torres Vedras).
"Estas candidaturas que nós aqui temos não são dos que ficam a olhar e observar o renascimento de núcleos de barracas. Não há que ter problemas de falar nas palavras como elas são: de barracas, de bairros de lata", afirmou Luís Montenegro.
"Voltaram devagarinho, aqui e ali, nesta margem e naquela do lado lá, a ressurgir, sobretudo - tem que se dizer também - em câmaras governadas pelo Partido Socialista e pelo Partido Comunista. É muito curioso observar que este novo movimento de ressurgimento de bairros de lata e de barracas aconteceu em municípios geridos pelo Partido Socialista e pelo Partido Comunista", acusou.
PS acusa Montenegro de "grande desumanidade" (e deixa questão)
Em resposta às declarações, o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, acusou o primeiro-ministro de "grande desumanidade" e questionou se sabe que estas estão a nascer maioritariamente dentro dos terrenos do Estado.
"Entendi ser uma declaração, como, aliás, já é costume, de uma grande desumanidade, porque o doutor Luís Montenegro devia saber que as pessoas que saíram de Lisboa, muitas delas por falta de resposta habitacional, por falta de condições de vida, aumentou o número de sem-abrigo e muitos procuraram nas periferias de Lisboa a resposta, que é uma resposta com muita indignidade", respondeu José Luís Carneiro aos jornalistas no final da primeira ação de campanha no dia, em Faro.
Na opinião do secretário-geral do PS, esta situação deveria "interpelar o primeiro-ministro do país para responder aos cidadãos sobre aquilo que está a fazer para responder à habitação".
"Já agora faço uma pergunta que gostava que o doutor Luís Montenegro pudesse responder: o doutor Luís Montenegro, por acaso, tem consciência de que uma parte onde mais barracas estão a nascer é dentro dos terrenos do Estado e do Instituto de Habitação", questionou.
Segundo Carneiro, se o primeiro-ministro não tem conhecimento desta situação "deve visitar e deve perguntar" o que está o Ministério das Infraestruturas "a fazer para responder a um problema grave do ponto de vista social".
"O primeiro-ministro vive numa bolha. Cada tiro, cada melro"
Já o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, considerou que Montenegro "vive numa bolha" e recordou que o concelho de Almada tem "duas mil habitações degradadas" em territórios do Governo.
"O senhor primeiro-ministro vive numa bolha. Custa-me dizer isto, mas é cada tiro, cada melro", começou por referir Paulo Raimundo, em declarações aos jornalistas, no Porto, após ser questionado sobre as declarações de Luís Montenegro.
"Há duas mil barracas, duas mil habitações degradadas, em território do IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana), neste caso em Almada", e o IHRU é uma responsabilidade direta do Governo", acrescentou.
Paulo Raimundo sublinhou, ainda, que "se há autarquia onde infelizmente o número de pessoas que vive em condições indignas identificas é em Lisboa", onde há "11.500 agregados familiares que vivem em condições indignas".
[Notícia atualizada às 19h24]
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