O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo, afirmou esta terça-feira que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, "vive numa bolha" e recordou que o concelho de Almada tem "duas mil habitações degradadas" em territórios do Governo.
Em causa está o facto de o primeiro-ministro e líder do PSD ter afirmado que as barracas e bairros de lata têm ressurgido sobretudo em autarquias socialistas e comunistas.
"O senhor primeiro-ministro vive numa bolha. Custa-me dizer isto, mas é cada tiro, cada melro", começou por referir Paulo Raimundo, em declarações aos jornalistas, no Porto, após ser questionado sobre as declarações de Luís Montenegro.
"Há duas mil barracas, duas mil habitações degradadas, em território do IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana), neste caso em Almada", e o IHRU é uma responsabilidade direta do Governo", acrescentou.
Paulo Raimundo sublinhou, ainda, que "se há autarquia onde infelizmente o número de pessoas que vive em condições indignas identificas é em Lisboa", onde há "11.500 agregados familiares que vivem em condições indignas".
"Já não há palavras para descrever a afronta do primeiro-ministro. Cada vez que fala da habitação, é tiros nos pés. Eu sei que o primeiro-ministro vive naquele mundo onde as rendas de 2.300 euros são rendas moderadas, mas o país não é isso. Ele que se concentre em resolver o problema da habitação em todo o território", sublinhou.
E ironizou: "O senhor primeiro-ministro não dá uma para a caixa. Não, mentira. Peço desculpa. Dá muitas para a caixa, para a banca e para os fundos imobiliários. Aí não falha uma".
Esta terça-feira, num almoço com todos os autarcas do distrito de Lisboa, a que só faltaram os independentes Isaltino Morais (Oeiras) e Sérgio Galvão (Torres Vedras), Luís Montenegro defendeu que os presidentes de câmara sociais-democratas "não ficam a olhar" para o problema das barracas e bairros de lata.
"Estas candidaturas que nós aqui temos não são dos que ficam a olhar e observar o renascimento de núcleos de barracas. Não há que ter problemas de falar nas palavras como elas são: de barracas, de bairros de lata", afirmou.
O também primeiro-ministro salientou que este tipo de habitação tinha sido "erradicada por um governo com a mesma inspiração ideológica", referindo-se aos executivos liderados por Cavaco Silva.
"Voltaram devagarinho, aqui e ali, nesta margem e naquela do lado lá, a ressurgir, sobretudo - tem que se dizer também - em câmaras governadas pelo Partido Socialista e pelo Partido Comunista. É muito curioso observar que este novo movimento de ressurgimento de bairros de lata e de barracas aconteceu em municípios geridos pelo Partido Socialista e pelo Partido Comunista", acusou.
Montenegro voltou a fazer a defesa das recentes medidas do Governo na área da habitação, salientando que os apoios fiscais à construção para arrendamento cobrem rendas "a partir de 400 euros" e até 2.300 euros e referiu que em muitos concelhos do distrito de Lisboa muitos não conseguem pagar as rendas elevadas que aí se praticam.
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