"Estamos muito preocupados com as crianças que foram afetadas pelos terramotos, mas, em particular, com as mulheres, que já têm vindo a ver os seus direitos restringidos" desde a chegada dos talibãs ao poder, em 2021, avançou à Lusa a responsável de Comunicação e Relações Externas da Portugal com ACNUR (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados), Joana Feliciano.
A preocupação alastra-se também a outras populações mais vulneráveis, como pessoas portadoras de deficiência e idosos, acrescentou.
Estes grupos já enfrentavam as maiores dificuldades perante as crises económica, social e climática que o Afeganistão sofria mesmo antes dos sismos, e "estavam a tentar reerguer-se depois de terem perdido os seus meios de subsistência", explicou.
Um sismo de magnitude 6 na escala de Richter abalou o país às 23:47 de domingo (20:17 em Lisboa) e foi seguido por pelo menos dois abalos de magnitude 5,2.
Os terramotos, que destruíram aldeias inteiras e afetaram muitas infraestruturas, já causaram pelo menos 1.411 mortos e 3.124 feridos, indicou o Governo talibã esta manhã.
Número que ainda deverá aumentar muito, apontando que as estimativas indicam que "até 12.000 pessoas poderão ter sido diretamente afetadas pela devastação do impacto no terreno", disse Joana Feliciano.
Atualmente, "o ACNUR está a avaliar, no terreno e a nível internacional, as reservas de emergência na região" para saber como responder às "necessidades adicionais" provocadas pelos sismos, referiu, sublinhando que, por isso, a organização está a fazer um apelo urgente à mobilização e solidariedade a nível global.
"Há uma escassez de pessoal humanitário, de resposta humanitária, também fruto dos cortes de financiamento que têm vindo a acontecer ao longo de 2025 e não só no Afeganistão", afirmou a responsável.
Além disso, o país está a viver um momento de regresso a casa de milhares de refugiados, provenientes particularmente do Irão e do Paquistão, o que tem mobilizado muitos recursos de ajuda humanitária.
"As pessoas choram pelos familiares e amigos que perderam ou que ainda se encontram desaparecidos, num país que já vivia uma crise económica -- que agora se vai agravar -- e que tem os serviços de saúde sobrecarregados", avançou a representante do ACNUR em Portugal, lembrando que o Afeganistão também foi alvo de uma seca prolongada e de, há poucas semanas, cheias repentinas.
Para já, a agência da ONU, presente no país há 40 anos, está a mobilizar os bens essenciais mais urgentes, que já estavam em armazéns situados na zona de Cabul, mas precisa de mais.
"Temos conseguido distribuir tendas e cobertores térmicos, lâmpadas solares e bens de higiene essenciais", descreveu, alertando que "as necessidades estão a agravar-se e a capacidade de resposta [da organização] está perto de ser esgotada".
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