O ex-secretário geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, analisou a situação dos incêndios que fustigaram o Interior do país nas últimas semanas, na quinta-feira, 21 de agosto, nas suas redes sociais, na perspetiva do que os fogos nos mostram a nível da falta de investimento.
Na declaração, intitulada "o país que não vai de férias", o deputado socialista realça que há um "país que não vai de férias, mas que só é falado nas férias".
"Casas e terras abandonadas, idosos sozinhos no interior, famílias a viverem com salários baixos, jovens sem perspetivas de futuro na terra onde nasceram", começa por notar, explicando de seguida o que se passa com este "país", cada vez mais dividido entre Litoral e Interior.
"Mais de 2/3 do território nacional está sistematicamente ausente dos grandes debates nacionais e dos orçamentos do Estado, apesar de durante o mês de agosto estar todos os dias nas nossas televisões. Lá para outubro voltará a desaparecer das nossas televisões. E tal como o território, também as pessoas que lá vivem serão esquecidas durante o resto do ano. É assim há décadas e todos temos responsabilidades. Na hora da verdade, o pouco investimento público nacional vai para o Litoral e quase sempre para os mesmos sítios. Lá nos explicam que é no litoral que moram as pessoas. Pois é, e se continuarmos a insistir na mesma estratégia ainda morarão mais. As estradas, as escolas e os centros saúde que construímos no Litoral nunca serão suficientes se não investirmos a sério no desenvolvimento do interior", atira.
Por isso, para Pedro Nuno Santos "continuar a confiar no mercado para desenvolver o Interior é só insistir no erro. O mercado e ausência do Estado são os responsáveis pelo despovoamento do Interior. É preciso Estado, uma estratégia e investimento público a sério".
"E não vale a pena virem com o argumento do custo financeiro. Um país concentrado no Litoral fica muito mais caro: crescimento urbano desordenado, habitação cara, congestionamento e horas perdidas no trânsito, pressão sobre os serviços públicos nos grandes centros urbanos, serviços públicos inviáveis no interior e um elevado custo ambiental", sublinha, rematando o texto com um paradoxo.
"Não deixa de ser paradoxal que o país que sempre se queixou de ser pequeno ainda se tenha reduzido a uma pequena e estreita faixa do litoral", concluiu.
Recorde-se que Portugal Continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais de grande dimensão desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro do país. Três pessoas morreram e registaram-se vários feridos, além dos muitos danos.
Segundo dados oficiais provisórios, até 21 de agosto, arderam 234 mil hectares no país, mais de 53 mil dos quais só no incêndio de Arganil.
Na quinta-feira, 21 de agosto, o Conselho de Ministros anunciou um pacote de 45 medidas para apoiar as pessoas e as empresas afetadas pelos incêndios, entre as quais "apoios pecuniários às famílias para as despesas necessárias à sua sustentabilidade quando seja comprovada a sua carência económica", "apoios para a aquisição de bens imediatos", nomeadamente alimentação animal e apoios na reconstrução de habitações de residência própria, com uma comparticipação a 100 por cento até ao montante de 250 mil euros.
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