A socialista Ana Gomes considerou, no domingo, que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, "fez um pacto com o diabo", cujas consequências já estão a ser sentidas ao nível da governação. Justificou, por isso, que o Chega está a governar através do Partido Social Democrata (PSD).
"Estamos a vê-lo por várias matérias e isso resulta, na minha opinião, de um pacto faustiano, um pacto com o diabo, digamos, que Luís Montenegro entendeu fazer, depois das últimas eleições. Explicará, por exemplo, que André Ventura tenha deixado cair as ameaças de uma Comissão Parlamentar de Inquérito à Spinumviva. À conta disso, o Chega determina a agenda política do PSD e, no fundo, do país", disse, no seu habitual espaço de comentário, na SIC Notícias.
A comentadora recordou ainda que "o primeiro-ministro, ainda esta semana, veio dizer que achava que Ventura estava a ser mais responsável politicamente", ao mesmo tempo que alertou que "Ventura é um mestre na duplicidade", já que "há uns meses chamava ao PSD de prostituta política".
"Estamos já a ver e a sofrer as consequências na governação. A lei de estrangeiros; disse aqui na semana passada que o Presidente da República devia mandá-la para o Tribunal Constitucional, e ainda bem que o fez. Na minha opinião, não era apenas um poder que tinha, era um dever", disse.
Ana Gomes lembrou que "até a Igreja veio chamar à atenção para o absurdo que é dificultar o reagrupamento familiar", assim como "introduzir uma discriminação inaceitável entre imigrantes pobres e imigrantes ricos, porque para os dos vistos gold não há restrições nenhumas no reagrupamento familiar".
"Estamos a falar de gente à Direita e extrema-direita, que falava imenso da família", lançou.
A socialista mencionou também o novo guião para a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, tendo atirado que retirar a educação sexual do currículo "é de uma coisa retrógrada, reacionária e, como diz o doutor Daniel Sampaio, não é uma questão de ideologia, é uma questão de ciência e de não voltarmos às gravidezes adolescentes indesejadas, a uma maior transmissão das DST", exemplificou.
Quanto às alterações à lei laboral, Ana Gomes realçou o "inaceitável retrocesso relativamente ao luto gestacional", que "é de uma crueldade incrível", assim como "o ambiente geral de ódio e de intimidação, que inclusivamente começa a chegar aos próprios estrangeiros que vivem entre nós".
Note-se que a retórica de Luís Montenegro tem vindo a mudar no que a André Ventura diz respeito. O "não é não" imposto pelo primeiro-ministro ao Chega remonta às eleições antecipadas de 2024, princípio que o chefe do Governo considerou válido para o sufrágio deste ano, durante o frente a frente com André Ventura. Nessa ocasião, indicou, aliás, ser "impossível" governar com o Chega, uma vez que aquele partido "não tem fiabilidade de pensamento", "comporta-se como um cata-vento" político e "não tem maturidade, nem decência". Durante o debate televisivo, o líder do Executivo acusou também André Ventura de apresentar "um pendor destrutivo" e de não ter "vocação de Governo".
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