O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) reagiu, esta quinta-feira, à decisão do Tribunal da Relação de Lisboa de validar o recurso do Ministério Público (MP) contra a decisão instrutória do juiz Ivo Rosa relativamente ao antigo primeiro-ministro José Sócrates, na Operação Marquês.
Sobre se esta decisão irá contaminar a campanha eleitoral para as eleições de 10 de março, Paulo Raimundo não hesitou: "Não contem com o PCP e a CDU para alimentar questões laterais daquilo que está em discussão nas eleições. Mas isto não é uma questão lateral. É um problema de grande dimensão. É claro que vai contaminar".
Em Lisboa, após a apresentação do programa eleitoral do PCP, Paulo Raimundo lamentou que "os tempos da justiça são, às vezes, demasiado longos para aquilo que gostaríamos".
"Faremos tudo para não deixar de ter em conta a gravidade e a dimensão das questões, não contribuir para pressionar a justiça, que tem os seus tempos, que temos de respeitar", continuou o líder comunista.
O recurso do Ministério Público (MP) contra a decisão instrutória do juiz Ivo Rosa foi esta quinta-feira decidido contra o antigo primeiro-ministro José Sócrates, que vai a julgamento por corrupção no âmbito da Operação Marquês.
O antigo governante, de 66 anos, será julgado por 22 crimes, entre eles três de corrupção, 13 de branqueamento de capitais e seis de fraude, após a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa, recuperando quase na íntegra a acusação do MP.
Já sobre o caso envolvendo o presidente do Governo Regional da Madeira, Paulo Raimundo reiterou que o PCP considera que cabe a Miguel Albuquerque "refletir se tem ou não tem condições para continuar a assumir as responsabilidades políticas que tem".
"Pelos vistos, terá concluído que tem", disse.
Questionado se o PCP considera que Miguel Albuquerque tem condições para se manter no cargo, Paulo Raimundo respondeu: "O PCP acha que deve estar nas mãos e na consciência do senhor presidente do Governo regional da Madeira decidir sobre essa matéria".
Já interrogado se todos estes casos envolvendo governantes podem pôr em causa a democracia, Paulo Raimundo admitiu que há "um sentimento alargado de injustiça" perante estes casos.
Há um sentimento "de alguma revolta face à situação, desde logo pela situação social de cada um e depois esta perceção, que depois tem correspondência na realidade, de que há uma justiça para uns e uma justiça para outros, de que há uma dificuldade brutal de acesso à justiça", disse.
Neste contexto, o secretário-geral do PCP defendeu que todos os protagonistas, políticos ou judiciais, devem contribuir para que os portugueses tenham confiança na Justiça.
"É claro que em casos que, independentemente do seu desfecho final, vão aparecendo e envolvendo altas figuras e pessoas com grande visibilidade pública, e pessoas que, em alguns casos, eram referências e exemplos, claro que isso não ajuda nem contribui nada", afirmou.
Paulo Raimundo aproveitou ainda para referir que uma das maneiras de responder à morosidade dos processos judiciais seria dando resposta "ao problema dos funcionários judiciais", através do "reconhecimento e valorização" das suas carreiras.
"Isso é meio caminho andado para que não se continuem a acumular processos", afirmou.
[Notícia atualizada às 20h41]
Leia Também: Operação Marquês. Quem vai a julgamento e porquê?