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"Governo está a contribuir bastante para a degradação da vida política"

A nova coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, afirmou que, "hoje em dia, o país dá razão" ao partido, ressalvando a sua "coerência".

"Governo está a contribuir bastante para a degradação da vida política"
Notícias ao Minuto

22:00 - 29/05/23 por Daniela Carrilho

Política Bloco de Esquerda

A nova coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, deu esta segunda-feira a primeira entrevista neste 'papel', comentando, entre outros assuntos, o processo Tutti Frutti - cujas novas revelações foram divulgadas na semana passada pela CNN Portugal.

Sobre este tema, a bloquista afirmou-se "sem surpresa". "Alguém que vive em Portugal e que olhe de perto o poder local acha que é uma novidade este centrão dos negócios que vai dividindo o poder local, que dividiu as freguesias no mapa para favorecer PSD e PS? Este centrão de negócios, este centrão de poder, que depois faz circular os seus dirigentes partidários por altos cargos da função pública, vai controlando a máquina do Estado, é do conhecimento de toda a gente há muitos anos", começou por dizer Mariana Mortágua em entrevista ao Jornal Nacional da TVI.

"Acho que há um problema na justiça quando percebemos que há um caso desta dimensão, com este tipo de seriedade e de importância para a democracia e, passados seis anos, as pessoas relevantes deste caso não foram ouvidas e não há uma acusação", afirmou.

"Hoje em dia, o país dá razão ao Bloco de Esquerda"

Respondendo à questão sobre a sua subida à liderança do BE e qual o plano para reverter vários anos de maus resultados do partido, Mortágua considerou que, "hoje em dia, o país dá razão ao Bloco de Esquerda", ressalvando a "coerência" do partido.

"Nós mantivemos a coerência e quisemos manter o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a todo o custo. Hoje, quando vemos 1 milhão e 700 mil pessoas sem médico de família, os concursos vazios, as urgências a fechar e as pessoas a não conseguirem acesso à saúde, essa é a prova da razão que tínhamos. Penso que o país dá razão ao BE pela sua coerência, pela batalha que fizemos pelo SNS e pelas soluções e respostas que temos. Na política só conta uma coisa: as soluções que apresentamos ao país", salientou a dirigente bloquista.

A nova coordenadora considerou ainda que não seria bom apresentar uma "guinada política" para "mudar a cara do partido", uma vez que o BE é coerente "nas suas ideias e no seu programa político", o que é "bom" e "permite responder aos problemas do país".

Mortágua não comentou os objetivos traçados para as próximas eleições legislativas, estando focada nas eleições na Madeira e nas Europeias. Porém, acredita que o BE tem condições, neste momento, para duplicar os seus deputados.

"É isso que dizem as sondagens e é isso em que acredito", reiterou, ressalvando que "não é essa a questão" primordial, mas sim "como [vamos] resolver a vida das pessoas".

"Os juros das casas estão a aumentar, as pessoas que têm a minha idade emigraram ou estão a dividir casa - ou vão dividir casa se calhar até aos 50 anos - ou não conseguem sair de casa dos pais, estão preocupadas com o futuro... É a essas pessoas que é preciso dar uma resposta", vincou ainda.

"Enorme desigualdade de distribuição da carga fiscal"

Confrontada com o problema de uma classe média 'esmagada' pelos impostos e questionada sobre qual o seu plano para reverter esta situação, Mariana salientou que em causa está "uma enorme desigualdade de distribuição da carga fiscal".

"Enquanto se mantiverem privilégios fiscais para os bancos, para a especulação imobiliária, para os residentes não habituais - mil milhões de euros por ano - vai-se castigando quem trabalha e vive do seu trabalho com IRS e com IVA que são excessivos. Por isso é lógico que é preciso um equilíbrio fiscal que passa por taxar ou acabar com isenções fiscais que não se compreende", refletiu.

Para a classe média, os impostos "IRS e IVA devem descer" e, em contrapartida, "há uma série de privilégios fiscais sem sentido que não podemos manter por uma questão de democracia e de igualdade".

Críticas ao Governo e ao Partido Socialista

Mortágua não fez "apostas" sobre se a legislatura de António Costa chega (ou não) ao fim, considerando que "vai cumprir o seu curso" e, se terminar antecipadamente, será por "responsabilidade do próprio Governo".

"O que posso dizer é que o Governo está a contribuir bastante para a degradação da vida política e das suas próprias condições de credibilidade e estabilidade. Há um esgotamento do Governo que não vem das ameaças, das palavras, dos casos e dos 'casinhos'. O esgotamento do Governo vem da crise da vida das pessoas, de não conseguirem pagar os juros da casa, mas os bancos lucrarem 10 milhões por dia sem que nada seja feito, vem dos efeitos da inflação sobre salários que são muito baixos e não foram aumentados, começar pela função pública, vem de termos professores na rua a pedirem e a exigirem dignidade e respeito ao mesmo tempo que faltam professores na escola", enumerou Mortágua, acrescentando que "há uma crise social" e, por causa dela, "há uma crise institucional".

A líder bloquista frisou também que "o Governo é Governo há demasiados anos para conseguir agora responder aos problemas do país", realçando a questão da habitação que, na sua opinião, mostra a "inabilidade" do Executivo, assim como a sua "incapacidade" para pôr em causa "as empresas, os fundos imobiliários que ganham com a especulação".

"Os bons resultados económicos não chegam a todos. Há setores muito concentrados onde se ganham lucros astronómicos com a exploração da vida difícil das pessoas e o Governo tem de fazer uma escolha: vai proteger os lucros da banca ou vai proteger as pessoas que não conseguem chegar ao final do mês e pagar um crédito à habitação, que compraram com tanto esforço", afirmou.

Relativamente às declarações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que dão conta de que quando há uma descolagem entre as instituições e o povo são as instituições que devem mudar, Mariana Mortágua refletiu que a proteção da democracia está assente em dois pontos: "credibilidade das instituições e a credibilidade de um projeto coletivo".

"É dizer às pessoas que elas podem ter uma vida boa, que é não ter medo do futuro e saber que o mínimo dos mínimos da dignidade está garantido, que podem ter casa e que não ter casa não é motivo para não dormirem a noite. E o número de pessoas que não conseguem dormir à noite, porque não sabem se vão ter uma casa, se vão pagar uma renda, se vão ser despejadas ou não sabem se o salário vai chegar ao fim do mês, está a impedir que as pessoas tenham uma vida decente", insistiu a líder bloquista.

"Como é que podemos viver num país em que ter uma casa se tornou um privilégio? Há uma geração inteira - muito mais do que uma geração - que não consegue ter filhos, não consegue ter uma vida independente, que teme pelos seus pais, pelos seus avós e não é possível dar uma resposta porque não se quer afrontar poderes instalados, setores privilegiados", assegurou.

Objetivos para as eleições Europeias 2024

Num cenário de maioria absoluta, Mariana Mortágua não comentou uma possível coligação com o Partido Socialista, considerando que o "PS se enreda" na degradação da vida pública e "não olha para os problemas" do país.

Já para as Europeias do próximo ano, a 'meta' do Bloco de Esquerda "é ficar à frente do Chega e da Iniciativa Liberal" e "afirmarmo-nos como terceira força política".

"É importante ter uma força em Portugal que combata este regime de imposição económica, este regime que nos impede de tomar decisões sobre o nosso país", ressalvou Mortágua, reiterando que quer trazer a sua "força e energia" para "entregar a esta causa e função" aos comandos do Bloco de Esquerda, depois da saída de Catarina Martins.

"A Catarina Martins deu tudo o que tinha e o que não tinha e foi a melhor coordenadora. Decidiu interromper essas funções e eu estou aqui para assumir com tudo o que tenho", declarou.

"Não acho que a minha orientação sexual seja uma fragilidade"

A líder do BE, que há pouco tempo tornou pública a sua orientação sexual, foi questionada sobre se ultrapassou uma 'linha vermelha' - relativamente ao direito de reserva dos políticos - o que negou peremptoriamente. 

"Eu luto pela igualdade, sempre lutei pela igualdade e achei que neste momento de maior visibilidade era minha responsabilidade fazê-lo, em nome dessa luta, e também porque quero que toda a gente saiba que não me escondo e não acho que a minha orientação sexual seja uma fragilidade e quero que isso seja sabido", declarou, considerando que "a orientação sexual ainda é motivo de discriminação" no país.

De recordar que, no domingo, Mariana Mortágua foi consagrada a nova coordenadora do BE e a lista de continuidade que apresentou à Mesa Nacional conseguiu 67 dos 80 lugares na Mesa Nacional do BE, vencendo a moção de Pedro Soares e reforçando a direção neste órgão.

[Notícia atualizada às 22h57]

Leia Também: BE tem nova líder. Mariana Mortágua garante: "Ainda não viram nada"

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