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Rui Rocha vence eleições em reunião com fraturas internas expostas

A VII Convenção da Iniciativa Liberal (IL) terminou hoje em Lisboa com a vitória de Rui Rocha, que prometeu derrotar "o bipartidarismo" e levar para a rua a luta contra a revisão constitucional, numa reunião longa, crispada e dividida.

Rui Rocha vence eleições em reunião com fraturas internas expostas
Notícias ao Minuto

21:55 - 22/01/23 por Lusa

Política IL/Convenção

No discurso de vitória das eleições internas da IL, Rui Rocha garantiu que o partido "assume as suas responsabilidades" e vai "liderar a oposição", como considera que tem feito até aqui: "O Governo pode agarrar-se ao poder, mas o Governo do PS está completamente esgotado, está politicamente morto e fomos nós que o declarámos com a moção de censura".

O deputado que venceu Carla Castro e José Cardoso na corrida pela liderança dos liberais, contando com o apoio do antigo presidente, João Cotrim Figueiredo, decretou a morte política do Governo socialista de António Costa e reiterou o objetivo de aumentar a fasquia eleitoral do partido dos 4,9 por cento alcançados nas últimas legislativas para 15%.

O novo líder dos liberais dirigiu-se também diretamente ao presidente do PSD, Luís Montenegro, questionando-o sobre de que lado vai estar na revisão constitucional, se "vai estar do lado da liberdade ou do lado daqueles que querem retirar a liberdade aos portugueses", criticando confinamentos sem o escrutínio do parlamento ou dos tribunais.

Poucos momentos antes de a sala irromper em clima de festa e apoteose ao som de "People have the power", de Patti Smith, Rui Rocha prometia, aliás, combater na rua em fevereiro esses objetivos que atribui à revisão constitucional que "PSD e PS se preparam para cozinhar".

No final de uma reunião muito crispada, Rui Rocha prometeu uma transformação "muito rápida" no partido, dizendo querer prepará-lo para "as batalhas" que quer travar no país.

Apesar das trocas de acusações e do ambiente tenso, Rui Rocha e Carla Castro cumprimentaram-se e a deputada garantiu hoje que não será oposição ao novo presidente, com quem disse ir colaborar, considerando que o partido sai da convenção "mais forte" e "não vai voltar a ser o mesmo".

Na primeira vez na sua história em que teve mais do que uma lista à liderança, o novo presidente dos liberais conseguiu 51,7% votos dos membros inscritos, enquanto a lista de Carla Castro teve 44% dos votos, e a de José Cardoso 4,3%.

Rui Rocha, que representava a "continuidade renovada", como definiu o seu 'vice', o deputado Bernardo Blanco, no sábado à noite, teve de enfrentar uma convenção que, a partir do discurso de Carla Castro no primeiro dia, chegou a dar sinais de poder não lhe dar a liderança.

A deputada levantou a convenção nessa sua intervenção e, já os trabalhos iam adiantados, quando o seu candidato a vice, Paulo Carmona, falou de um "cheiro a mudança" que haveria de desencadear um 'pingue-pongue' entre candidatos e criar a expectativa de que a disputa estava renhida.

Ao longo da convenção, a principal crítica dirigida a Rui Rocha foi a de que tinha aceitado uma solução do tipo "sucessão dinástica", dado o rápido apoio de Cotrim Figueiredo, o que levou o dirigente Rafael Corte Real a considerar que, mesmo que vitorioso, terá sempre de explicar porque aceitou ser um "Paulo Raimundo" da IL, numa referência ao secretário-geral do PCP.

Já Carla Castro ouviu sobretudo a crítica de não se ter demitido da comissão executiva que passou a atacar enquanto candidata à liderança.

À acusação de "falta de hombridade" dirigida a Carla Castro por Cotrim Figueiredo, que no final da noite se desdobrou em entrevistas a televisões e rádios, a candidata respondeu hoje que, embora "discordando" dessas palavras, preferia concentrar-se no projeto de futuro da IL.

O tom crispado típico das redes sociais, onde o partido é conhecido por ter uma presença inovadora e eficaz, parece ter sido transportado para a convenção, onde foram frequentes apupos e vaias e que foi sintetizado por uma jovem militante na noite de sábado: "Não sei se estou suficientemente zangada para subir a este púlpito", ilustrou.

A reunião magna liberal, que se realizou no mesmo Centro de Congressos de Lisboa do que a convenção de dezembro de 2021, mas desta vez na maior sala daquela infraestrutura, contrastou também com esse outro conclave pelo tom de fechamento.

Poucos falaram para o país e contra o Governo, embora "o socialismo" fosse mencionado como um adversário genérico nas intervenções, tendo cabido no discurso de despedida de Cotrim Figueiredo no sábado as maiores críticas ao executivo de António Costa, que também foi alvo no discurso de apresentação de moção de Rui Rocha.

O modelo de organização dos trabalhos, em que até a lista ao Conselho de Jurisdição - um órgão com a missão de zelar pela legalidade, normalmente definido como um 'tribunal' dos partidos - foi objeto de discussão pormenorizada e com múltiplas intervenções, favoreceu também o debate muito centrado em regulamentos e listas e pouco na mensagem política e no país.

Também as relações do partido à direita, nomeadamente com o PSD e o Chega, estiveram relativamente ausentes da discussão, tendo durante a campanha Rui Rocha recusado quaisquer acordos com a força política liderada por André Ventura.

Sujeita a atrasos de muitas horas, em ambos os dias, a convenção passou por momentos insólitos como, durante as votações das moções setoriais, de braço no ar, o encerramento das portas da sala, que envolveu a 'evacuação' do bar e o uso de casas de banho específicas.

No discurso de despedida, no sábado, Cotrim Figueiredo emocionou-se ao falar da honra que foi liderar os liberais e avisou que o primeiro-ministro, António Costa, terá de se habituar a continuar irritado com o partido, defendendo que a IL "faz a oposição mais inteligente e eficaz".

Esta foi a intervenção em que mais se ouviu falar de António Costa, que recentemente se referiu aos liberais como "queques que guincham", aludindo a alguns dos casos que têm marcado ultimamente a governação e ironizando que Fernando Medina seria um "ótimo sucessor" de António Costa do PS, para o acusar de "nunca saber de nada".

No final da convenção, Cotrim Figueiredo disse que, "sem falsas modéstias", o partido fica "mais bem entregue" a Rui Rocha do que nas suas próprias mãos e, sobre futuras divisões internas na IL, respondeu que as pessoas que com ele têm trabalhado tem todas demonstrado que "são democratas".

Leia Também: "Uma pessoa combativa". Quem é Rui Rocha, o novo líder da IL

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