O Parlamento assistiu esta quarta-feira a uma interação misógina por parte do deputado do Chega, Bruno Nunes, após comentários sobre a deputada Patrícia Gilvaz, da Iniciativa Liberal (IL), que mereceram expressões de condenação por parte de todos os restantes partidos e pelo presidente da Assembleia da República.
Durante uma intervenção em que respondia à IL e criticava o seu papel na oposição, Bruno Nunes respondeu especificamente à deputada liberal, começando por atirar que Patrícia Gilvaz "tem uma dificuldade com as interpretações neste Parlamento".
"Mas a si não vou responder, basta ver como envergonha as mulheres de cima daquele púlpito", comentou depois o deputado do partido de extrema-direita, acrescentando que Gilvaz "diz que a prostituição é um direito".
É pertinente referir que a prostituição não era o tema do debate, sendo que os deputados tinham discutido até então as migrações, a pedido do PSD.
O plenário ficou rapidamente animado, com deputados de todos os grupos parlamentares presentes a vociferarem a sua indignação perante a atitude de Bruno Nunes. O presidente da Assembleia, Augusto Santos Silva, apelou a que o membro do Chega fizesse "o favor de não usar estas expressões em relação a nenhum dos colegas".
Como a Iniciativa Liberal tinha esgotado o seu tempo de intervenção, foi do lado oposto da bancada que surgiu a defesa de Patrícia Galvaz.
Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, acusou Bruno Nunes de "preconceito contra as mulheres", declarando que o deputado do Chega "não tinha a coragem de dizer que um homem o envergonhava como homem".
Nenhuma mulher envergonha o parlamento por expressar, democraticamente, a sua opinião. Vergonha é o preconceito machista e a misoginia da bancada da extrema-direita. @PedroFgSoares pic.twitter.com/J3OchNJRq7
— Bloco de Esquerda (@BlocoDeEsquerda) January 18, 2023
"Mas eu digo-lhe: envergonhou-me a mim, como homem, o machismo da sua intervenção", rematou o bloquista, numa resposta que mereceu o aplauso por parte do hemiciclo (exceto, claro, do Chega), e acrescentando que, apesar de não concordar com a parlamentar liberal em vários aspetos, respeita-a "por quem a elegeu, por quem ela é e por todas as mulheres que ajudam este país a ser melhor, ao contrário do senhor deputado e do Chega".
"Se alguém envergonha não só o Parlamento, não só a classe política, mas o país que deve muito aos imigrantes, que tem em quase todas as famílias pessoas que tiveram de sair do país pela política fascista que vocês defendem, foram vocês. A vergonha deste país é o Chega", acrescentou Pedro Filipe Soares, retomando o tema do debate.
Em Junho, num debate sobre medidas legislativas a tomar sobre a despenalização da prostituição e do lenocínio, Patrícia Gilvaz defendeu que deviam ser criadas soluções para acabar com a clandestinidade na prostituição, mas garantiu ser contra o lenocínio.
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