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Avante! foi um "êxito" apesar das "mentiras e desprezíveis chantagens"

O evento tem estado envolto em polémica devido à posição do PCP em relação à invasão russa da Ucrânia. No discurso de encerramento, Jerónimo acusou ainda o Governo de "cumplicidade" na guerra.

Avante! foi um "êxito" apesar das "mentiras e desprezíveis chantagens"
Notícias ao Minuto

18:46 - 04/09/22 por Márcia Guímaro Rodrigues com Lusa

Política Jerónimo de Sousa

O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa, considerou que a edição deste ano da Festa do Avante!, que termina este domingo, foi um “enorme êxito”, apesar das “campanhas de manipulação, de mentiras, de pressões e de desprezíveis chantagens”. 

“Cá estamos, com uma sempre e nova renovada edição festa, que, mais uma vez, se traduziu num enorme êxito, apesar das reiteradas campanhas de manipulação, de mentiras, de pressões e de desprezíveis chantagens”, começou por afirmar o comunista, no discurso de encerramento da 46.ª edição do certame, agradecendo também a participação de todos os intervenientes.

Jerónimo de Sousa sublinhou que o festival é “um espaço de afirmação dos valores da fraternidade, da paz, da solidariedade internacionalista, da democracia e do socialismo”, além da “maior manifestação política e cultural do país”.

O PCP continua “pronto e decidido” na luta em “defesa dos interesses dos trabalhadores” e do povo de Portugal e do mundo, numa altura em que o “capitalismo revela e confirma as suas contradições: a sua natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora”. 

O secretário-geral comunista considerou hoje que os Estados Unidos, Bruxelas e a NATO, "com a cumplicidade do Governo português", tudo estão a fazer para continuar a guerra na Ucrânia, sem qualquer preocupação pelas condições de vida das populações.

"A escalada da guerra na Ucrânia e a espiral de sanções impostas pelos Estados Unidos da América, a União Europeia e a NATO, com a cumplicidade do Governo português, são indissociáveis da desenfreada especulação e aumento dos preços da energia, dos alimentos e de outros bens de primeira necessidade, do ataque às condições de vida dos povos, arrastando o mundo para uma ainda mais grave situação económica e social", sustentou o dirigente comunista perante os participantes da Festa do Avante!.

Na ótica do secretário-geral do PCP, "a realidade está a demonstrar quem tudo faz para que a guerra não termine" e também "quem tudo faz para acumular lucros colossais com a sua continuação", referindo-se à indústria do armamento e às multinacionais do setor da energia.

Seis meses depois do início da invasão russa à Ucrânia, Jerónimo de Sousa fez questão de deixar, mais uma vez, vincada a posição do partido, antes de passar para o tema seguinte: "Razão tem o PCP ao estar desde a primeira hora do lado da paz e contra a guerra, razão tem o PCP ao defender uma solução política para o conflito".

O outro lado, argumentou, está a fomentar o "incitamento ao ódio" e a "exacerbação da xenofobia".

Jerónimo de Sousa também criticou a "estratégia de confrontação do imperialismo" cujas consequências, advogou, são as populações que pagam.

Um pouco por todas as partes do recinto são visíveis 'banners' com apelos à paz, algo em que o PCP insistiu nesta edição para se descolar das críticas de alinhamento a favor da guerra e com o Kremlin.

"Paz que só será possível com justiça e que tem de ser conquistada a par com a luta contra a exploração e a opressão", completou.

PCP acusa Governo de "medidas faz-de-conta" e desafia executivo a intervir sem se esconder

O secretário-geral do PCP acusou o Governo de medidas "faz-de-conta" e de usar a inflação, esteja alta ou baixa, como justificação para não aumentar rendimentos, defendendo que o executivo deve agir e não "esconder-se".

Na véspera de um Conselho de Ministros extraordinário no qual vão ser aprovadas medidas para combater o atual contexto de inflação, o líder comunista considerou que "é preocupante e grave a espiral inflacionista que leva já um ano e avança sem freio".

"Mas, não menos grave, é a política das medidas faz-de-conta. Uma política que foge ao essencial, que foge à reposição do poder de compra dos salários e pensões e ao necessário e indispensável controlo dos preços", criticou.

Na opinião do secretário-geral do PCP essa política "une o Governo do PS e o conjunto das forças retrógradas e reacionárias de PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega com as suas falsas e hipócritas medidas de assistencialismo para esconder a origem e os mecanismos da extorsão e da sobre-exploração".

"Espiral inflacionista que vendiam à opinião pública como um fenómeno passageiro, ao mesmo tempo que rejeitavam o aumento dos salários para não animar a inflação. Bem conhecemos a cartilha dos que apostam na exploração do trabalho: quando não há inflação recusam o aumento do aumento dos salários por essa razão, quando há inflação não se aumentam os salários para não favorecer a 'espiral inflacionista'", criticou.

Neste contexto, o líder comunista desafiou o Governo a agir e não a "esconder-se".

"Esta fúria exploradora e especulativa que avança impune precisa de ser travada. O Governo pode e deve intervir e não esconder-se, como defendem PSD, CDS, IL, Chega e CDS, por detrás das falsas regulações para servir os interesses do grande capital e a ova ordem liberal privatizadora", defendeu.

Na ótica do PCP, são necessárias medidas de emergência com efeitos a partir de setembro, entre elas, o "aumento geral dos salários e das pensões numa percentagem que assegure já este mês a reposição e valorização do poder de compra dos trabalhadores e dos reformados" e o "aumento intercalar do Salário Mínimo Nacional para 800 euros".

O tabelamento ou fixação de preços máximos de bens essenciais, "designadamente energia, combustíveis e bens alimentares, incluindo a possibilidade de fixação de preços abaixo daqueles que são hoje praticados", bem como a redução do IVA sobre a eletricidade e o gás para 6% foram outras das medidas enumeradas.

O partido insiste na tributação extraordinária de lucros das empresas e, no campo da habitação, propõe "a fixação de um 'spread' máximo para conter o aumento dos encargos suportados pelas famílias com o crédito à habitação, e a aprovação de um regime de suspensão da execução de hipotecas e despejos".

Num discurso de cerca de 45 minutos, o líder dos comunistas deixou várias críticas ao executivo liderado por António Costa, fazendo ainda referência à recente demissão da ministra da Saúde, Marta Temido.

"O Governo sabe que quanto mais tempo passa sem tomar medidas essenciais, mais se degrada a resposta do SNS [Serviço Nacional de Saúde]. Apesar disso, o Governo não avança com soluções! Não é com demissões de ministros que se salva o SNS. É com investimento, valorização e fixação de profissionais que se garante o direito à saúde", avisou.

Em vários momentos da sua intervenção, Jerónimo de Sousa aumentou o tom crítico, recorrendo até à ironia, nomeadamente quando falava da "Agenda para o Trabalho Digno" -- conjunto de medidas do Governo para combater a precariedade no setor laboral.

"Vamos lá ver o que é que ele [PS] entende por trabalho digno [...] a anunciada garantia da dignidade ficou apenas no título da dita agenda", ironizou em dois momentos.

Jerónimo referiu-se também ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

"Cantaram-se hossanas a um PRR salvador. Diz-nos agora o governador do Banco de Portugal que o seu impacto estrutural será limitado. Tanto foguetório, tanta propaganda! Mais dinheiro para o grande capital que vive dos setores de renda assegurada. Pouco, muito pouco para superar os nossos défices estruturais, modernizar, inovar e diversificar os nossos setores produtivos e para o apoio às MPME [Micro, Pequenas e Médias Empresas]" lamentou.

Sublinhe-se que a 46.ª edição da Festa do Avante! arrancou na sexta-feira e termina hoje.  Este ano, não existem quaisquer restrições devido à pandemia de Covid-19, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, mas o evento tem estado envolto em polémica devido à posição do PCP em relação à invasão russa da Ucrânia.

[Notícia atualizada às 21h23]

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