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"Infelizmente, a ministra da Saúde acha-se a ministra do SNS. E não é"

Ricardo Baptista Leite, cabeça de lista pelo PSD no Círculo Eleitoral de Lisboa nas eleições legislativas antecipadas deste próximo domingo, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

"Infelizmente, a ministra da Saúde acha-se a ministra do SNS. E não é"

É médico, já foi deputado em três legislaturas (XII, XIII e XIV), e é, agora, o cabeça de lista do PSD pelo Círculo Eleitoral de Lisboa, o maior do país. Aos 41 anos, Ricardo Baptista Leite encara estas eleições legislativas antecipadas, que ocorrem no próximo domingo, com "enorme sentido de responsabilidade".

Além da saúde, como não poderia deixar de ser, o candidato assume a economia, o emprego, a habitação e a cultura como questões e 'bandeiras' que o próprio levará para o Parlamento no próximo mandato conferido pelos portugueses. 

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, as possíveis coligações foram também tema, com o político a explicar qual o papel onde 'vê' os partidos da Direita num eventual Executivo social democrata. "Há uma aliança histórica com o CDS", frisa, mas não fecha a porta ao Iniciativa Liberal. A exceção é o Chega.

Como recebeu e como encarou o convite para ser cabeça de lista pelo PSD em Lisboa, o maior círculo eleitoral do país?

Desde há já vários anos, trabalhando ao lado do doutor Rui Rio, que assumi o compromisso de tudo fazer para garantir que possa, de facto, chegar a primeiro-ministro de Portugal, porque acredito que é a pessoa que reúne as qualidades da competência, da seriedade e da visão necessárias para mudar o país e para lhe garantir o futuro que, infelizmente, neste momento, sob a governação socialista, não conseguimos aspirar. E quando o doutor Rui Rio me convidou para mais esta missão, naturalmente encarei com enorme sentido de responsabilidade e com a consciência que o resultado no distrito de Lisboa condicionará também o resultado final para o país. Assumi, por isso, como missão, acreditando que nós podemos, de facto, contribuir para a vitória do dia 30 de janeiro e, assim, dar os tais 'Novos Horizontes’ para Portugal'.

O PSD tem uma proposta muito concreta que passa por, até termos a totalidade de médicos de família necessários para garantir a cobertura, recorrermos à contratação de médicos assistentes

O doutor ganhou mais mediatismo, se assim o podemos dizer, maioritariamente devido às suas intervenções no âmbito da pandemia da Covid-19. É médico de formação e diz conhecer a realidade do SNS. O que faz falta mudar na Saúde em Portugal? 

Neste momento, diria que precisamos de respostas a dois níveis fundamentais. Um nível chamar-lhe-ia de respostas de urgência e aí é resolver o problema da falta de médicos de família – há mais de um milhão de portugueses que hoje não têm médico de família. O PSD tem uma proposta muito concreta que passa por, até termos a totalidade de médicos de família necessários para garantir essa cobertura, recorrermos à contratação de médicos assistentes – seja no setor público, seja no setor social, seja no setor privado – e, assim, garantir rapidamente que todos os portugueses tenham acesso pelo menos a um médico assistente até termos médicos de família para todos. 

O segundo aspeto que chamo de urgência tem a ver com os tempos de espera para consultas, cirurgias e exames. E, aí, para além de corrigir as questões operacionais que, neste momento, impedem que as instituições – nomeadamente hospitalares – consigam dar a resposta necessária, iremos avançar com um plano de emergência de recuperação dos tempos de espera que passa por usar o modelo dos ‘vales cirúrgicos’, que hoje existe mas que não está a funcionar tão bem quanto devia, e alargar para as consultas e exames complementares e, com isto, garantir que as pessoas têm acesso à saúde dentro dos prazos clínicos legalmente definidos, ou seja, dentro do prazo clinicamente aceitável. Portanto, estes são aspetos que são o 'penso rápido' para resolver os problemas que o Governo não foi capaz de resolver e que agravaram ainda mais durante estes últimos dois anos pandémicos. 

Depois, há uma segunda componente a que chamo as 'reformas estruturais'. Passam por nós conseguirmos mudar o modelo de gestão e financiamento do Serviço Nacional de Saúde e do sistema de saúde como um todo. E isso passa por um eixo que é uma aposta séria na prevenção, ou seja, na capacidade de evitar doenças evitáveis, de prevenir doenças sempre que possível – seja por modelos de rastreios ou mudanças para estilos de vida saudáveis – e, por isso, propomos até uma mudança do nome do ministério para ministério da Saúde e do Bem Estar.

Um outro eixo é que o financiamento do Serviço Nacional de Saúde e do sistema passe a ser feito em função de resultados de saúde, ou seja, em vez de financiarmos em função do número ou apenas em função do número de consultas, de cirurgias – da produção, pura e dura -, nós queremos avançar no sentido de financiar os resultados efetivos em saúde. Ou seja, não nos interessa apenas se o doente teve acesso à consulta ou cirurgia que precisava. Precisamos de financiar e premiar quando essa consulta ou cirurgia se traduz em melhor saúde para o doente. E há aqui algumas reformas do modelo. Nos cuidados primários, as unidades de saúde familiar - que hoje correspondem a mais ou menos metade dos centros de saúde em Portugal – nós queremos que passem a ser o modelo universal, particularmente modelo B, em que incentivamos e criamos condições para os profissionais de saúde serem remunerados de forma mais justa e em função dos tais resultados de saúde, permitindo até avançar para o chamado modelo C, que já existe na lei mas nunca foi executado nas zonas carenciadas do país.

Hoje, quem está num centro de saúde não está muito preocupado se evita ou não as idas aos serviços de urgência hospitalares, e vice-versa

Por outro lado, avançar com a expansão das chamadas unidades locais de saúde. O que é isto? Já existem sete a funcionar no país – é algo que já existe na lei -, mas que nunca se passou dos projetos piloto. Nós queremos expandir a todo o território nacional, num modelo no qual os gestores passam a ser responsáveis não apenas pela gestão de um hospital ou de um centro de saúde, mas pela gestão da saúde das pessoas que vivem numa determinada parte do território. Assim, passam a ter uma visão muito mais ampla, com autonomia na gestão que, infelizmente, hoje não têm, mas que lhes permite, de facto, montar intervenções no terreno que estejam orientadas para os tais resultados em saúde. Por exemplo: hoje, quem está num centro de saúde não está muito preocupado se evita ou não as idas aos serviços de urgência hospitalares, e vice-versa. Nós, passando a ter uma gestão para todo o território, a visão integrada dos centros de saúde com os hospitais é fundamental. Outro exemplo: garantir as parcerias necessárias, no ponto de vista dos cuidados continuados. Passa também a ser uma gestão integrada. 

Acreditamos num SNS como o coração do sistema de saúde que é muito mais alargado e inclui todos estes organismos que fazem parte – sejam as IPSS, as farmácias comunitárias, ou o setor privado da saúde

Mais sinergia. 

Essa autonomia, em determinadas partes do território onde existe muita oferta pública, privada e social, parcerias a esse nível podem acontecer, enquanto há outras partes – sobretudo mais no interior -, onde o Estado tem que ter um papel mais presente. Acreditamos num SNS como o coração do sistema de saúde que é muito mais alargado e inclui todos estes organismos que fazem parte – sejam as IPSS, as farmácias comunitárias, ou o setor privado da saúde. Só falando do distrito de Lisboa, onde sou cabeça de lista, vivemos um verdadeiro paradoxo. É o distrito onde há maior oferta de saúde – se olharmos para o público, privado e social -, e é, simultaneamente, o distrito onde há mais portugueses sem acesso a um médico de família. Mais de meio milhão de portugueses - do tal mais de um milhão que não têm acesso a médico de família – estão só no distrito de Lisboa. Isto só demonstra que, infelizmente, o Governo, e particularmente o ministério da Saúde, a ministra da Saúde, acha-se a ministra do SNS. E não é. Tinha a responsabilidade de ter sido ministra da Saúde, mas não o foi. Foi ministra do serviço público de saúde e nós precisamos de alguém e de um Governo, que se preocupe com a saúde e bem-estar com este foco na qualidade de vida. 

Um último eixo que destaco como prioritário é a questão do envelhecimento populacional. Teremos de encontrar respostas, porque a evolução demográfica vai exigir mais da Saúde e mais da Segurança Social, o que implica – e isso está no nosso programa -, respostas que, por exemplo, evitem a institucionalização das pessoas. Ou seja, quem puder ficar em casa com o apoio dos cuidadores informais, criarmos condições para dar essas respostas e respostas que fomentem o envelhecimento ativo. No fundo, ter uma política proativa de preparar o país para os desafios demográficos e, aliás, tentar transformar aquilo que hoje é visto como um problema numa oportunidade, de modo a garantir que essa população que tanto tem dado ao nosso país possa continuar a contribuir para a sociedade. 

Estamos perante um ato eleitoral em que os portugueses, no dia 30, terão que decidir quem é que querem para primeiro-ministro. Tudo o resto, neste momento, acaba por ser satélite

Estou a falar com o próximo ministro da Saúde, caso o PSD ganhe as eleições de domingo e forme Governo? 

Está a falar com o Ricardo Baptista Leite que acredita que Rui Rio será o melhor primeiro-ministro que Portugal poderia ter e é esse o único foco de preocupação que neste momento tenho, porque, objetivamente, nós estamos perante um ato eleitoral em que os portugueses, no dia 30, terão que decidir quem é que querem para primeiro-ministro. Tudo o resto, neste momento, acaba por ser satélite àquilo que é importante. 

Estaremos a eleger 230 deputados. Não apenas o primeiro-ministro.

Mas, no final do dia, o que estaremos a decidir é se queremos continuar com António Costa como primeiro-ministro de Portugal ou se queremos mudar para Rui Rio. O sentido de urgência é tremendo. O país vai receber milhares de milhões de euros de fundos europeus, quer pelo Plano de Recuperação e Resiliência quer pelos investimentos do PT2030, e precisamos de ter um Governo responsável capaz de os gerir. Nesse sentido, temos apelado - e é esse o foco também da minha candidatura a deputado – a que os portugueses decidam no sentido da mudança, votando no PSD.

O que precisamos é de garantir que Rui Rio tenha as condições necessárias para formar o Governo que entende mais bem qualificado para reformar Portugal

Mas ser ministro é uma ambição sua? Uma vontade? Estaria disponível para aceitar o cargo?

Ao longo do meu trajeto político tenho assumido várias funções. Já fui autarca, sou autarca hoje como vereador da oposição em Sintra, onde aceitei o desafio de ser candidato a Presidente de Câmara, tenho assumido as funções de deputado à Assembleia da República, tenho muita atividade para além da atividade médica também na sociedade civil através da Organização Não-Governamental que fundei. E aquilo que tenho feito sempre é com sentido de missão. Perante aquilo que são os desafios que vão surgindo procuro agarrá-los.

Neste momento, sou candidato a deputado e irei dedicar-me muito também à temática da saúde, naturalmente, porque é uma das áreas onde acredito que essas reformas são necessárias. A partir daí, o que nós precisamos é de garantir, isto naturalmente na perspetiva do PSD, que Rui Rio tenha as condições necessárias para formar o Governo que entende mais bem qualificado para reformar Portugal. Aquilo que posso dizer é que tenho a ambição de contribuir para que essas condições existam e garantir que todas as condições existam depois para implementarmos as reformas de que o país precisa. 

Além da Saúde, quais as áreas que levará para a Assembleia da República na próxima legislatura? Pelo que se vai bater?

Posso focar algumas áreas que têm sido prioritárias na nossa campanha no distrito de Lisboa. Naturalmente que a economia assume aqui um papel determinante. Nós queremos reformas económicas que passem também pela redução da carga fiscal como, aliás, consta do nosso programa, que se possa traduzir, depois, na geração de mais emprego, mas também melhor emprego. De modo a que possamos ter não apenas o aumento do Salário Mínimo Nacional, mas também do salário médio. Sem termos empregos mais qualificados é difícil termos empregos mais bem remunerados e muito menos com capacidade de ter o efeito replicativo necessário, que garanta um ciclo de crescimento futuro de modo a contrariar a tendência de empobrecimento para que os últimos 26 anos – quase 20 de socialismo -, nos atirou.

Um outro aspeto fundamental para nós é a questão da habitação. Neste campo, no distrito de Lisboa, por força da especulação imobiliária, tem sido um desafio gigantesco, transversal. É necessário garantir aqui respostas, por exemplo, por via da isenção de IMT na compra de primeira habitação e alargamento do programa Porta 65 do arrendamento para os mais jovens, garantir respostas para os mais idosos para evitar que tenham de sair dos sítios onde nasceram e cresceram por força da especulação imobiliária. E uma aposta na requalificação do edificado público para que seja transformado em habitação através de rendas acessíveis, criando assim um modelo que seja também economicamente sustentável.

E há questão ambiental, que se junta com a habitação através da aposta na eficiência energética e requalificação energética das habitações do nosso país, somando a isso outras políticas de resposta à emergência climática que hoje estamos a viver. 

A identidade de um povo define-se por via da cultura e precisamos, aqui, de recuperar uma estratégia, uma resposta nesta área

Outra área que toca também particularmente no distrito de Lisboa é a mobilidade, a aposta séria na ferrovia é fundamental quer para as indústrias, quer para os passageiros, porque, na realidade, existe uma ausência praticamente total de investimento neste campo e uma aposta estratégica nos clusters industriais. E uma outra área é a da cultura, a qual tem sido esquecida. Falando quer com as entidades que trabalham neste campo, quer com os profissionais e os artistas, a verdade é que é das áreas mais atingidas por força da pandemia. A identidade de um povo define-se por via da cultura e precisamos, aqui, de recuperar uma estratégia, uma resposta nesta área para ajudar, por um lado, aqueles que estão a ter dificuldade até em sobreviver, mas também para que possam crescer e estimular a criatividade e garantir que seja uma área que possa contribuir para o crescimento do país.

E esses temas vão de encontro àquilo que tem ouvido das populações durante a campanha? Quais as preocupações, os pedidos? 

Permita-me somar uma área que não mencionei anteriormente e que vai ao encontro de algo que muitos me têm falado. Tem a ver com a dificuldade que as famílias têm em poder alargar a sua base familiar, em ter filhos. Não por falta de vontade, mas por incapacidade económica. Nós já conhecíamos esta realidade por via dos números, das estatísticas, mas falando com as populações confirma-se. Quando vemos homens e mulheres, casais, a dizerem que querem ter filhos mas que não veem como é que o podem fazer, mesmo estando os dois empregados… Porque temos situações em que, de facto, as pessoas estão empregadas mas, mesmo assim, não conseguem sair de uma situação de pobreza.

Percebe-se, por um lado, que temos que crescer do ponto de vista económico, mas também temos que encontrar respostas e, no campo da educação, há algumas apostas que creio que ajudam. Por um lado, por via do alargamento das creches dos seis meses aos três anos a título gratuito, por via de contratos sejam do setor público, privado ou social – isso consta do nosso programa e é um apoio muito importante, para além de, em sede fiscal, nós prevermos a majoração para o primeiro, segundo e, depois, terceiro filho em diante. Estas políticas são apenas exemplos que procuram ir ao encontro desta necessidade. Para além das queixas que ouvimos todos os dias das pessoas que falam da fraca remuneração, da dificuldade em encontrar empregos que sejam justos na remuneração que fazem. E há muitas queixas no distrito de Lisboa em torno da habitação. Falando na rua com as pessoas é o que se sente.

Falando com as empresas sente-se um sufoco com a carga fiscal, uma dificuldade em se conseguirem expandir, em competirem com mercados externos, em ter as respostas, por exemplo, como mencionava há pouco, da ferrovia, para aqueles que estão ligados à indústria exportadora de produtos. Portanto, nós procuramos ter aqui um conjunto de respostas que sinto que estão alinhadas com a vontade de mudança que está no terreno, pela ausência das respostas sobretudo ao longo destes últimos seis anos do Governo socialista. 

E, por outro lado, que temas têm sido esquecidos pelos seus adversários políticos nesta campanha?

Destaquei a cultura exatamente por isso. Mesmo nos debates não houve uma única pergunta sobre a cultura e creio que é uma área que precisa de ser discutida. Uma outra área que também tem merecido pouca atenção e na qual o PSD apresenta propostas muito interessantes prende-se com a educação, já mencionei algumas respostas na infância. Na educação mais avançada, ou seja, secundário e ensino superior, ter um foco que aposte num ensino técnico-profissional muito mais integrado com as empresas, com a economia real, garantindo a formação, a tal qualificação do emprego também por via da preparação de hoje jovens estudantes para serem membros ativos da sociedade, e garantir a empregabilidade em empregos bem remunerados e que ajudem ao crescimento da nossa economia.

E a questão ambiental, que também mencionei há pouco. Há a necessidade de podermos garantir uma política muito mais eficaz naquilo que é a proteção dos nossos recursos naturais e da biodiversidade, a política de eficiência energética, assumir, do ponto de vista constitucional, a crise climática e das alterações climáticas como uma prioridade absoluta como hoje assumimos também como prioridades a saúde e a educação. São medidas que constam do nosso programa e creio que não têm merecido o devido destaque, mas que são de vital importância não apenas para o futuro do país mas também do mundo. 

Mesmo antes da pandemia, Portugal era o país europeu com maior consumo de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos e isso, por si só, denotava a gravidade da situação, mas também a nossa incapacidade de garantir respostas adequadas

Voltando à saúde, um dos temas que também não tem estado muito presente no debate é a saúde mental. Não conhecemos muitas propostas nesta área. Não pensa, também enquanto médico, que esta deveria ter sido uma questão mais falada, também a propósito da pandemia?

Naturalmente que a saúde mental é um dos eixos fundamentais e que tem sido mais esquecido no âmbito do Serviço Nacional de Saúde e das respostas de saúde desde há décadas e precisa de respostas, efetivamente, sobretudo após este contexto pandémico em que houve um agravamento de todos os indicadores. Mesmo antes da pandemia, Portugal era o país europeu com maior consumo de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos e isso, por si só, denotava a gravidade da situação, mas também a nossa incapacidade de garantir respostas adequadas. Porque, quando as pessoas não conseguem ter consultas de psicologia clínica ou de psiquiatria, quando os próprios médicos não têm tempo de acompanhar adequadamente os doentes, a solução mais fácil passa, muitas vezes, pela via medicamentosa. E isso é um sinal ou um sintoma do que está errado na nossa capacidade de resposta. Tempos de espera muitas vezes de um, dois ou três meses para uma primeira consulta de psiquiatria – já para não falar nas subsequentes -, não são comportáveis quando se quer ter uma resposta efetiva de saúde mental.

E, por isso, quando falava em termos genéricos da questão da saúde a tempo e horas, da resolução do problema dos tempos de espera, na área da Saúde Mental isso foca-se como particularmente relevante. Há, nesse campo, depois a necessidade de trabalharmos com as instituições no terreno – há uma série de instituições sociais que trabalham na saúde mental que têm de ser integradas como parte do sistema de saúde, assim como as próprias autarquias. Quem está no Governo tem que ter essa capacidade: auscultar quem está no terreno, os especialistas, e maximizar o potencial daquilo que já existe, identificar as lacunas e investir para dar essas respostas porque, se não o fizermos, infelizmente, para além das graves consequências que os problemas de saúde mental comportam para os indivíduos, estes têm também enormes consequências do ponto de vista do absentismo, da pouca produtividade económica e, portanto, o próprio país perde valor económico pelo agravar da situação.

É uma questão de imperativo do bem-estar da população, mas também do interesse da própria economia do país e, portanto, é uma área onde o investimento é necessário. Infelizmente, também talvez por força do estigma que ainda existe à volta da saúde mental, muitas vezes não é suficientemente discutida, mas claramente assume um papel preponderante na estratégia de saúde do Partido Social Democrata.

Considera que tem sido uma campanha construtiva e esclarecedora?

Creio que os modelos de debates muito curtos, como foram desenhados, não garantem uma informação plenamente esclarecida da população sobre as propostas e as ideias dos vários candidatos. Isso não é apenas fruto dos debates é também do tempo que vivemos, da velocidade e voracidade das próprias redes sociais que vivem dos chamados soundbites e, portanto, a discussão aprofundada dos temas acaba por ser prejudicada. Naturalmente que esse é um caminho que todos nós, até incluindo a sociedade civil, temos de encontrar formas mais eficazes.

E deixo o apelo para todos aqueles que estão interessados na substância das propostas: para além de falarem com os candidatos – faço isso todos os dias no âmbito desta campanha, tenho estado sempre na rua próximo das pessoas – comecem por lerem os programas eleitorais para tomarem uma decisão consciente. Particularmente, o contraste entre os programas do PSD e do PS é enorme em áreas estratégicas como a economia, a redução da carga fiscal que o PSD propõe, a questão da saúde, da educação - são áreas onde, de facto, divergimos. O país, os portugueses, vão ter de decidir que futuro querem. Se querem continuar como estão ou se querem a mudança e essa mudança reside no PSD e em Rui Rio como primeiro-ministro.

Sente que a mensagem do PSD passou? Nomeadamente a sua?

[Risos] Fazemos por isso todos os dias. Procuramos a usar todos os meios que temos à nossa disposição, seja através do contacto pessoal - que é aquele que particularmente gosto mais -, seja através das redes sociais, dos debates ou dos outros órgãos... e vamos procurando chegar essa informação. É evidente que gostaríamos sempre que a mensagem passasse da forma mais clara possível. Fazemos o nosso melhor, mas o melhor juízo disso mesmo serão os portugueses através do seu voto no domingo. Procuramos mostrar que nós temos a melhor proposta para governar o país.

Costumo dizer muitas vezes no contacto com a população: 'No final do dia, tendo de escolher entre António Costa e Rui Rio, pensem em quem confiariam para guardar a carteira'. E se tivessem de escolher um dos dois, creio que a resposta seria muito clara: Rui Rio

Sempre esteve ao lado de Rui Rio, inclusivamente nestas últimas diretas do partido. Porque é que considera que este seria o melhor primeiro-ministro para Portugal?

Portugal precisa de um Governo responsável. Nós precisamos de ter alguém em quem possamos confiar para governar os milhares de milhões de euros que vêm da Europa. Costumo dizer muitas vezes no contacto com a população: 'No final do dia, tendo de escolher entre António Costa e Rui Rio, pensem em quem confiariam para guardar a carteira'. E se tivessem de escolher um dos dois, creio que a resposta seria muito clara: Rui Rio. Porque é um homem confiável que tem um passado que demonstra que é sério, que não está na política para fazer promessas, mas sim para cumprir aquilo que diz que vem fazer.

Rui Rio não decidiu ser candidato a presidente do PSD e candidato a primeiro-ministro de Portugal por uma razão de vaidade e muito menos por aspirar a algo diferente no futuro. Aquilo que o motiva é precisamente esta oportunidade na sua vida política de poder fazer as reformas nas quais acredita. Ou seja, é alguém que tem este compromisso absoluto de lutar pelo futuro de Portugal, para garantir que as futuras gerações possam aspirar a mais do que ele próprio aspirou tendo crescido neste país. E creio que é raro encontrar na política pessoas com esta matriz tão profunda de serviço público - para além da sua visão social democrata - que faz-me defender que é, de facto, a pessoa mais bem qualificada e com os valores corretos para fazer o que o país precisa.

E para garantir que não só as pessoas mais idosas possam aspirar a ter um país que as trate um pouco melhor, garantindo um pouco mais de qualidade de vida, mas também para a minha geração e para as gerações vindouras, para garantir que possamos aspirar a viver num país onde queremos viver, do qual os nosso filhos não queiram fugir, onde possamos aspirar a crescer, não sermos sempre a cauda da Europa, mas podermos ser líderes e podermos garantir que viver em Portugal seja sinónimo de bem estar, de qualidade de vida para todos e não apenas para alguns. E nós precisamos de pessoas com esse sentido de missão que identifico em Rui Rio.

Calculo que esteja confiante numa vitória do PSD. 

Se me permite recuar um segundo, a afirmação que fez, para mim, não é linear. O PSD tem, neste momento, condições para vencer as eleições, mas, para tal, é preciso que todos aqueles que tenham vontade de mudança, a expressem através do voto. E tenho sentido isto na rua: pessoas, particularmente mais velhas, têm mostrado algum receio, por força da situação pandémica, de irem votar. E, por isso, deixo um apelo às autarquias para tudo fazerem para garantir a segurança no ato de voto e também apelar às pessoas para não deixarem de ir votar, garantirem as condições de segurança para que possam expressar o seu voto e garantirem que o destino do nosso país não seja escolhido por outrem. 

Pedia-lhe uma opinião a esta solução encontrada. Falo do voto para os portugueses em confinamento.

Pessoalmente, teria preferido que tivesse sido encontrada uma solução que, no fundo, separasse de uma forma muito clara as mesas de voto, mas, infelizmente, não foi esse o caminho decidido pelo Governo e temos que trabalhar com o que existe. Aquilo que me preocupa, neste momento, é que a Democracia saia prejudicada, porque sinto esse receio na rua e por isso estou a insistir neste ponto. É fundamental que as pessoas não tenham medo, que utilizem as máscaras, que coloquem as FFP2, que lavem as mãos antes de entrar, depois de sair, que se mantenham nos locais de voto o menor tempo possível, mas não deixem de expressar a sua vontade de mudança através do voto. É fundamental para o funcionamento da nossa Democracia.

Creio que o CDS, a conseguir afirmar-se com presença no Parlamento, poderá ser opção. Assim como o Iniciativa Liberal. Como se viu no debate de Rui Rio com aquele partido, há alguns pontos de convergência

Que eventual coligação à Direita pensaria ser a adequada para governar Portugal na próxima legislatura?

Dito isto, do ponto de vista daquilo que são potenciais resultados eleitorais, naturalmente gostaria de ver o PSD a liderar um Governo sem depender de terceiros - para poder implementar o nosso programa por completo sem restrições -, mas a maioria absoluta é muito difícil e, nesse sentido, como já foi dito pelo doutor Rui Rio, há uma aliança que é histórica com o CDS. Creio que o CDS, a conseguir afirmar-se com presença no Parlamento, poderá ser uma opção. Assim como o Iniciativa Liberal. Como se viu no debate de Rui Rio com aquele partido, há alguns pontos de convergência que poderão, eventualmente, abrir caminhos para futuros acordos de coligação ou de incidência parlamentar e esperemos nós que isto seja suficiente.

Pode dar-se o caso - que é a pergunta que me fará a seguir - em que existe uma maioria de Direita, mas em que a maioria destes partidos que acabei de enunciar não seja suficiente e que possamos de precisar do voto de terceiros, seja do PAN, seja do Chega. E, particularmente em relação ao Chega, devo dizer que o PSD já assumiu de uma forma clara e taxativa que não haverá coligação com esse partido. Não haverá abertura para que tenha uma presença no Governo e, na minha opinião, o PSD, na coligação que formar nessa circunstância, deverá apresentar o seu Governo, deverá apresentar o seu programa e dependerá do Chega decidir no Parlamento, no momento do voto, se quer garantir que o PSD e a coligação pelo PSD desenhada possa governar ou se quer entregar o poder novamente ao PS e à Geringonça. E, portanto, o ónus dessa decisão, nesse contexto que espero que não aconteça, seria deles.

O voto no PSD é o único voto útil que garante a mudança em Portugal

Que mensagem gostaria de deixar aos portugueses nesta reta final e decisiva para as eleições do próximo domingo?

Portugal precisa de um Governo responsável e o PSD assume-se como a única alternativa à governação socialista. E, por isso, apelo a todos aqueles que queiram mudar, que não querem que António Costa e o PS continuem a governar: não deixem de votar e não deixem de votar no PSD, porque é o único voto. Qualquer outro voto e qualquer outro partido, infelizmente, vai acabar por contribuir para o reforço do poder do PS e, portanto, o voto no PSD é o único voto útil que garante a mudança em Portugal.

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