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Rio nega aliar-se ao Chega: "Não quero ir para o poder a qualquer preço"

Líder do PSD afirma que o partido de Ventura tem, na sua base, princípios "de fundo" que não pode "permitir". Adversário diz não entender o que tanto choca Rio.

Rio nega aliar-se ao Chega: "Não quero ir para o poder a qualquer preço"
Notícias ao Minuto

21:31 - 03/01/22 por Marta Ferreira com Lusa

Política Legislativas

Os líderes do PSD, Rui Rio, e do Chega, André Ventura, defrontaram-se, esta segunda-feira, na SIC. O presidente social-democrata começou o debate recusando uma coligação com o Chega por este ter na sua base princípios "de fundo" que não pode "permitir"

"Vou ser claro, reconheço que se o Chega tiver uma votação muito elevada vai dificultar o PSD poder ser Governo, porque o Chega diz que só apoiará o PSD se fizer uma coligação e isso não pode ser porque há divergências de fundo que não permitem isso", explicou."Não quero ir para o poder a qualquer preço como o Costa fez com a esquerda e com a gerigonça", atirou ainda Rio numa farpa ao Governo de Costa. 

"Tive o cuidado de ver o programa do Chega e há aqui coisas graves", nomeadamente, "o Chega filia-se contra o regime que desde 1974 subverteu a ordem moral social da tradição portuguesa". "Portanto o Chega assume-se contra o regime e eu reconheço que este precisa de um 'abanão', mas aquilo que eu quero é o regime democrático e não outro regime", concluiu Rui Rio.

Seguiu-se a vez de André Ventura tomar a palavra, com este a afirmar não entender o que de tão chocante tem o seu partido para o adversário. O líder do Chega disse ainda que Rui Rio se perdeu em papéis que "ninguém percebeu lá em casa". 

"O ónus tem de ficar do lado do doutor Rui Rio, porque disse que abdicaria de governar se dependesse do Chega e isso em casa só tem um sentido que é: 'Prefiro estar com o António Costa do que com o Chega'", começou por apontar Ventura, acrescentando que "foi Rio que se meteu nos braços do Partido Socialista". 

O líder da extrema direita continuou: "Queria perguntar em que é que o Chega tem de se moderar. É por o Chega defender prisão perpétua a homicidas e violadores que somos muito radicais?; É por defendermos a redução do número de deputados ou redução dos cargos políticos?; É por querermos menos impostos para as famílias e para quem trabalha?; É por dizermos que os ciganos e a comunidade cigana tem de cumprir o Estado de direito como todos nós?; É por se entender que hoje o que temos em Portugal na justiça não funciona?"

"Olho para o que defendemos e não vejo nada que choque assim tanto" 

"Olhe, uma coisa que o PSD votou contra. Nós propusemos que quem tivesse sido ministro em áreas importantes não possa depois ir trabalhar para empresas que tutelou. Quem está em casa a ver-nos percebe o que estou a dizer, não podemos ter um ministro das infraestruturas a trabalhar para a TAP a seguir. Portanto, hoje que estou aqui frente a frente com o doutor Rui Rio, gostava que ele nos dissesse em que é que o Chega é tão radical", continuou André Ventura.

Tomada a vez de Rui Rio, este respondeu. "Não me perdi nada no texto, está aqui muito claro que é contra o regime, não diz que regime quer, mas é muito claro"

 "O Chega, para lá da questão ideológica, é um partido instável". 

"Eu não posso fazer uma união com um partido que é instável. Repare, ora é a favor do SNS ora é contra, ora é a favor da escola pública, ora é contra. Depois, por exemplo, o Chega nos Açores há um acordo, na primeira oportunidade o Chega cria instabilidade", acrescentou Rio.

O líder do PSD vincou ainda que uma possível negociação "não pode chegar nunca a uma situação em que haja uma coligação, que haja ministros do Chega, nem pode chegar nunca a uma situação que vamos violentar os nossos princípios". 

Respondendo às questões enumeradas por André Ventura, Rio afirmou, relativamente à prisão perpétua: "Há três possibilidades. Os países que não têm prisão perpétua, somos nós e que são poucos, há os países que têm prisão perpétua, e são poucos, e há no meio vários conjuntos de países que têm prisão perpétua, mas de certa forma mitigada, ou seja, é condenado em prisão perpétua mas ao fim de 12 ou 15 anos sai em liberdade condicional e se faz qualquer coisa volta e cumpre a prisão perpétua por inteiro". 

"Se estamos a falar da prisão perpétua e nunca mais sai de lá até ao fim da vida, nós somos completamente contra", sublinhou o líder do PSD. 

Ventura contrapôs, afirmando que, no caso da prisão perpétua, "nem sequer conseguiu explicar muito bem, porque nós sempre admitimos no Chega prisão perpétua com renovação". "Rui Rio não conseguiu dizer aqui porque é que acha que o Chega é radical e isso ficou claro", aponta ainda o presidente do Chega. "Instável é quem diz que quer ser alternativa ao PS e vota ao lado do PS em 60% das vezes".

Respondendo a Clara de Sousa, que moderou o debate, que questiona se o Chega quer os votos do PSD, Ventura sublinhou que o partido quer "todos os que votem por bem para mudar". 

"Não distinguimos o eleitorado", afirma ainda acrescentando que Rio não tem de gostar de si porque "isto não é o programa 'Quem quer namorar com o Agricultor'", porque "só há um Governo e temos de pôr as nossas simpatias ou antipatias pessoais de parte". 

Face à questão de Clara de Sousa, de se há ou não possibilidade de confiança em André Ventura, Rui Rio respondeu que "neste momento, face ao historial, não é possível". "Eu não disse que não queria o eleitorado do Chega, o que eu disse é que queria manter o eleitorado do PSD para não fugir para o Chega. Eu quero é assegurar o eleitorado do PSD", afirmou.

Rui Rio admitiu também que, caso Ventura obtenha uma votação expressiva nas legislativas, será muito difícil tirar Costa do poder, no entanto, não admite conversações com o partido adversário nesse caso. Rio apela por isso ao voto "útil e razoável" no PSD.

André Ventura atirou que, em caso de uma votação expressiva do seu partido, estará disponível para falar com Rui Rio no dia 31 de janeiro (um dia depois das eleições antecipadas, agendadas para dia 30 deste mês). 

Já Rui Rio sublinhou que o partido do Chega é instabilidade e que o partido de Ventura tem de decidir se quer "chumbar um governo do PSD e abrir as portas da esquerda, ou não". 

Em seguida, André Ventura garantiu que só viabilizará um governo do PSD no qual faça parte. "O Chega só aceita um Governo de direita em que possa fazer realmente essas transformações e isso implica presença".

Quando questionado sobre o que é que o país tem a ganhar com um Chega no Governo, Ventura respondeu que "pela primeira vez em 46 anos são feitas reformas a sério". "Vou dar um exemplo, a reforma da subsidiodependência. Nós hoje temos uma série de restaurantes, cafés, empresas, que não conseguem mão de obra porque está tudo a viver de subsídios".

O líder do Chega apontou que Rui Rio muito diz, mas nada faz e que as reformas não têm por isso sido feitas. 

Rui Rio, por sua vez, afirmou que admite que existam "fenómenos" de subsidiodependência, mas é absolutamente contra o corte destes subsídios. O presidente do PSD afirma que o importante não é acabar com os subsídios, mas sim fiscalizá-los para garantir que esses "fenómenos" não aconteçam.

Foi também em resposta a perguntas colocada por Ventura que o presidente do PSD afastou qualquer corte de pensões num Governo que seja liderado por si, na mesma linha do que defendeu o deputado único, mas rejeitou que cem deputados no parlamento sejam suficientes, como pretende o líder do Chega.

O líder do Chega criticou ainda Rio por ter viabilizado o Orçamento Suplementar de 2020, dizendo que este continha "o dobro" do dinheiro para a TAP do que destinava ao Serviço Nacional de Saúde, mas o presidente do PSD disse que voltaria a fazer o mesmo "em nome do interesse nacional", já que no essencial esse documento continha verbas para o combate à pandemia de covid-19.

Ventura acabou por acusar Rio de não querer ser oposição, mas sim "vice-primeiro-ministro de António Costa".

Leia Também: Rio responde a provocação de Ventura. "Nada disto se pode levar a sério"

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