"Sobre limitações à circulação não creio que vá haver alterações"

O primeiro-ministro considera ser cedo para aligeirar as medidas de contenção da pandemia de Covid-19 e lembra que quando começarem a ser levantadas as restrições, os contactos aumentam, o que levará ao aumento de contágios. Em todo o caso, o processo de levantamento das restrições terá de ser "gradual" e "progressivo".

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Melissa Lopes
14/04/2020 09:23 ‧ 14/04/2020 por Melissa Lopes

Política

Pandemia

Eu diria que haverá algumas restrições institucionais em matéria de direitos coletivos dos trabalhadores que serão eliminadas, mas sobre as limitações à circulação e ao limite de atividades não creio que vá haver alterações”, adiantou António Costa esta terça-feira em entrevista à rádio Observador, quando questionado sobre o Estado de Emergência que deverá ser renovado na sexta-feira, dia 17.

Vincando ser evidente que "é profundamente anormal a forma como estamos a viver", o chefe do Executivo elogiou a "extraordinária de adatação" dos professores a este período de aulas à distância. Em 15 dias, sublinhou Costa, houve "um avanço na literacia digital", tendo os docentes e as escolas encontrado "as ferramentas mais diversas" para manter o contacto com os alunos. 

Sobre como será o próximo ano letivo, disse: "Não me peça a adivinhação sobre como vai ser (...)", garantindo que o Governo trabalha sempre "desejando o melhor", preparando-se "para o pior". No próximo ano letivo, afirmou, "temos de estar preparados para esta situação sem termos de improvisar como agora".

Duas coisas são certas, ressalvou. O vírus não vai acabar no final deste ano lectivo e que não teremos uma vacina antes do próximo ano escolar. "Para conviver com este vírus temos de nos preparar para isso, temos de ter melhores ferramentas para poder prosseguir as nossas atividades à distância", sublinhou, acrescentando que terá de haver uma rede de segurança que não havia este ano. 

António Costa sublinhou ainda que “vamos ter seguramente segundos, terceiros e quartos surtos". "Até haver vacina ou remédio eficaz, vamos ter de conviver com a presença deste vírus. Nós convivemos habitualmente com milhões de vírus mas este é novo, é mais fácil de transmitir, existe de uma forma silenciosa em muitas pessoas que vão sendo portadoras sem consciência disso, o que faz com que o risco de transmissão aumente, e tem períodos de tratamento mais prolongados e com maiores riscos para a saúde de algumas pessoas", disse. 

Sobre o levantamento das medidas restritivas que atualmente existem, António Costa não se comprometeu com nenhuma data, preferindo ser cauteloso. "O processo de saída há-de ser sempre gradual e progressivo", garantiu, assinalando que tal tem de ser feito de forma a que o risco de contágio seja controlável. Certo é que "ainda não chegámos a fase de declínio da pandemia", firmou, argumentando que nem os cientistas estão de acordo sobre em que fase nos encontramos do surto, se já passámos o pico ou não, se estamos num planalto ou não. "Vamos ter de ir acompanhando", disse.

O primeiro-ministro chamou ainda à atenção para  facto de o que agora está a correr relativamente bem poder passar a correr mal se se começar a aligeirar as medidas. "Se as pessoas vão achando que as coisas estão bem, e começam a aligeirar, isto passa a correr mal", alertou, insistindo no facto de o vírus não desaparecer quando as restrições forem levantadas. 

"Acho que temos de nos impor uma enorme disciplina neste processo, aceitando ter que respeitar a orientação técnica", salientou Costa, destacando a "informação aberta e partilhada" entre epidemiologistas, líderes partidários e Presidente da República semanalmente. Independentemente disso, para o chefe do Executivo, os políticos devem "evitar que a sua vontade se sobreponha ao conhecimento da ciência". 

António Costa admitiu ainda que, aquando da retoma da normalidade, altura em que as medidas de contenção e de distanciamento irão ter de continuar até à chegada de uma vacina, poderemos ter um país "com múltiplas velocidades", com as restrições poderem ser levantadas em função das regiões, dos setores de atividade e dos grupos de risco. O primeiro-ministro rejeitou, no entanto, a criação de "guetos" se os idosos tiverem de ficar mais tempo em confinamento"Temos o dever especial de proteger os nossos idosos (...)  Não se trata de guetizar, trata-se de proteger", defendeu. 

A terminar, enalteceu o "bom senso inato" dos portugueses na forma como estão a lidar com esta crise. "Se gostam, não, se começam a ficar fartos, sim", disse, considerando que "é agora o momento em que não podemos desistir". "Agora não é o momento de darmos o sinal errado começando a aliviar as medidas (...) Este mês de abril é o mais difícil (...), é aqui que temos de mostrar maior resiliência", acentuou. 

 

 

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