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"A minha candidatura vai até ao fim. Não procuro um acordo ou arranjinho"

Filipe Lobo d'Ávila, candidato à liderança do CDS, é um dos entrevistados de hoje do Vozes ao Minuto.

"A minha candidatura vai até ao fim. Não procuro um acordo ou arranjinho"
Notícias ao Minuto

09:00 - 24/01/20 por Melissa Lopes

Política Filipe Lobo D’Ávila

Foi sempre um rosto crítico do rumo seguido com Assunção Cristas ao leme do partido. Renunciou, por isso, ao cargo de deputado, numa altura em que seria "mais confortável" permanecer ao lado da direção. Sublinha, em entrevista ao Notícias ao Minuto, que não acordou agora para os problemas do CDS, lamenta que não o tenham ouvido, mas não pretende qualquer "ajuste de contas". 

Filipe Lobo d'Ávila é um dos cinco candidatos que disputam, já neste fim de semana, a liderança do CDS no 28.º congresso do partido. Não anda - nem andou -  à procura de qualquer tipo de acordos ou "arranjinhos" com os outros candidatos para derrubar João Almeida, deputado e porta-voz do partido, também ele candidato. 

Garante levar a candidatura até ao fim, diz que há condições para reerguer o partido e sabe bem que, para isso, é preciso reconquistar a confiança dos portugueses. Sem apontar exclusivamente o dedo à mulher a quem quer suceder - "porque não andou sozinha" -, o ex-secretário de Estado da Administração Interna critica a opção tomada pelo partido de "querer agradar a toda a gente". Além disso, "houve muito Lisboa e pouco país", sinaliza, aludindo ao resultado autárquico na capital que conduziu o CDS à "ambição máxima" de querer liderar o centro-direita em Portugal. Um erro. Mas houve outros.

O próximo líder do CDS terá de se apresentar na segunda-feira no Largo do Caldas com a noção de que tem em mãos três crises por resolver: a crise identitária, a organizacional e a financeira, identifica o candidato da moção 'Juntos Pelo Futuro' que acredita ter condições para cumprir esse papel por defender uma perspetiva equilibrada dentro do partido no qual convivem, simultaneamente, posturas mais liberais e posturas mais conservadoras. 

É mesmo uma possibilidade a sua candidatura unir-se a outras duas (Carlos Meira e Francisco Rodrigues dos Santos) para vencer João Almeida?

A minha candidatura é pela positiva, é um ato de coerência e é um ato pela mudança interna e externa do partido. A minha candidatura vai até ao fim e não está dependente de qualquer outra circunstância que não seja o voto que vier a ter por parte dos congressistas do CDS. Não tenho, nem nunca tive, nem nunca fiz depender a minha ação política de qualquer acordo com quem quer que seja, pessoas mais próximas, mais afastadas, mais estimáveis, amigos do CDS de toda a vida. Entendo que, neste momento, o importante é dar uma oportunidade de escolha ao CDS.

Por isso mesmo é que decidi que esta minha candidatura iria a votos, que não estava dependente de qualquer outra que se apresentasse em simultâneo. Não procurava - nem procuro – qualquer tipo de acordo ou arranjinho. Verdadeiramente, se o quisesse fazer, teria sido muito mais sensato, apelativo e, talvez, prudente tê-lo feito com a anterior presidente do partido quando havia uma larga maioria de apoio à direção de Assunção Cristas e quando a própria Cristas era reconhecida externamente com índices de popularidade muito elevados. Não faria sentido que quem não chegou a acordo, ou quem não fez esse acordo anteriormente, viesse a este congresso procurar isso mesmo. 

Aproveitando-se agora da situação?

Sim. O que eu lhe digo é que não faz sentido pensar em qualquer tipo de acordo face àquilo que foi o meu trajeto, face àquilo que fiz nos últimos quatro anos e, sobretudo, quando entendo que o congresso deve ser um congresso plural e que deve ser dada oportunidade de escolha aos congressistas. Vejo isso como enriquecedor e mobilizador do próprio partido.

Mas houve o tal almoço em que Carlos Meira fez o convite?

Sim, almoçámos os três e houve essa conversa. Mas não há nenhum acordo. Espero que seja um congresso plural e que os congressistas tomem as decisões que entenderem. 

O que é que o distingue dos outros candidatos e que contributos poderia dar ao partido nesta fase mais complicada?

Há várias diferenças. Há desde logo uma diferença quanto à coerência do trajeto político dos últimos anos. Não fiz parte da comissão política nacional, não fiz parte da direção do partido. Renunciei ao mandato de deputado quando seria seguramente mais confortável alinhar com a direção. Apontei caminhos diferentes. O partido, na altura, preferiu seguir um outro caminho. Há, desde logo aí, um argumento de coerência com este passado recente.

Para além disso, há perspetivas diferentes. Eu entendo que a perspetiva que se deve seguir é uma perspetiva democrata-cristã que tem como foco a pessoa e como finalidade o bem comum. E isso é uma grande diferença relativamente a perspetivas mais liberais ou mais conservadoras protagonizadas por outros candidatos. E desse ponto de vista, julgo que o equilíbrio que a democracia-cristã traz entre as diferentes doutrinas, que convivem hoje dentro do partido e de forma bastante pacífica, é a melhor solução. 

Mas também têm convergências.

É evidente que temos convergências, que temos sintonias, que há concordâncias quanto a aspetos internos, até quanto a muitos dos problemas que hoje existem no CDS. Mas a verdade é que avisei, não acordei agora. Não percebi que havia problemas agora, nem os enunciei só agora, tenho vindo a enunciar nos últimos quatro anos. Há diferenças claras entre quem esteve num caminho que teve este resultado e quem não esteve. E acho que os congressistas sabem reconhecer e ver isso mesmo.

Existem condições para recuperar o CDS, para voltar a dar utilidade ao partido para que volte a ser relevante para o sistema político nacional

Sublinhou recentemente numa entrevista que “o CDS corre o risco de se tornar irrelevante”. Acha que com esse equilíbrio de que fala vai conseguir impedir que tal aconteça?

Acho. Acho que existem condições para recuperar o CDS, para voltar a dar utilidade ao partido para que volte a ser relevante para o sistema político nacional. Quando falo em relevância, acho que o CDS não corre risco de sobrevivência. Do ponto de vista orgânico e institucional, o CDS continuará a existir, mas é verdade que é preciso voltar a dar relevância e utilidade ao partido.

E isso passa por ter prioridades definidas, por ter um posicionamento claro, por ter uma mensagem clara. Sendo certo que a mensagem e as propostas devem assentar na matriz democrata-cristã do partido, com prioridades claras dirigidas à classe média que é cada vez mais baixa; às famílias portuguesas e em particular às das classes média; recuperando um discurso social que, nos últimos anos, tem estado um pouco esquecido e abandonado na agenda do CDS e recuperando também muitas áreas do centro onde o CDS sempre teve responsabilidades governativas e que são hoje absolutamente como a segurança, a agricultura e a própria segurança social, que corre riscos de sustentabilidade que devem preocupar todos os portugueses e onde o CDS pode e deve ter um papel decisivo.

Não aponto o dedo a ninguém nem pretendo qualquer ajuste de contas

Não atribui especificamente a Assunção Cristas a culpa de ter conduzido o CDS aos resultados eleitorais que teve?

Não. Não aponto o dedo a ninguém nem pretendo qualquer ajuste de contas. Sei que Assunção Cristas não andou sozinha ao longo destes anos. Teve todo um partido que maioritariamente com votações na ordem dos 80% que seguiram entusiasticamente o caminho que ela protagonizou. Sei que nesta direção do partido e nesta comissão política nacional o CDS tinha diferentes personalidades com experiência política partidária bastante relevante. Seria insensato e até injusto dizer que estes resultados bastante negativos era exclusivamente de Assunção Cristas.

Houve um erro de estratégia inicial e isso foi acompanhado por muita gente desta comissão política nacional que tem, evidentemente, a sua quota parte de responsabilidade nos resultados. Todos temos responsabilidade nos resultados. Eu próprio tenho, na medida em que não consegui sensibilizar a direção do partido para o caminho errado que estava a seguir.

Não o ouviram?

Não, não me ouviram.

Tem dito que foram cometidos vários erros nestes últimos quatro anos e que a estratégia foi errada. Mas de que erros concretamente falamos? E qual considera ter sido o mais gravoso?

Há vários erros. Há um erro de estratégia inicial: O CDS quis falar para todos as pessoas, com a ambição máxima seguida pela direção. O CDS quis ser um partido demasiado abrangente e tentar chegar a todas as pessoas, agradando a todas as pessoas. A verdade é que quando tentamos agradar a todas as pessoas, praticamente acabamos para não agradar a ninguém. E foi um bocadinho isso que aconteceu. Por outro lado, isto também levou a uma descaracterização da mensagem do partido, ao ponto de ser de difícil perceção qual era verdadeiramente a mensagem do CDS. O CDS sempre foi um partido de nichos identificados, perfeitamente perceptíveis por parte do eleitorado. O CDS já foi eurocético, eurocalmo, europeísta, já foi o partido da lavoura, o partido do contribuinte .…

Houve Lisboa a mais e país a menos

E isso era positivo?

Não era, nem poderia ser, visto de uma forma negativa. Era uma definição de uma mensagem que era clara e perceptível, que chegava às pessoas. O caminho iniciado há quatro anos levou uma descaracterização da própria mensagem e da identidade do partido. A par de outros erros que foram cometidos, do meu ponto de vista, que passam desde logo pela percepção do resultado de Lisboa. Foi um resultado muito bom, extraordinário. Foi muito bom que tivesse tido a determinação da presidente do partido, mas extraordinário também porque não tinha qualquer réplica ou qualquer sequência no resto em qualquer outro lado do país. Com esse resultado das autárquicas em Lisboa, o partido achou que ia conseguir liderar o centro-direita, não percebeu e não reconheceu as fragilidades que existiam e que existem hoje com maior acuidade um pouco por todo o país na rede do CDS. Houve Lisboa a mais e país a menos.

Outro erro: Nas legislativas, escolheram-se candidatos a deputados a círculos de Lisboa e recolocaram-se a maior parte dos círculos de outras zonas do país, desmobilizando o próprio partido e acabando por ser uma espécie de insulto a quem faz o partido nesses distritos, que é no fundo dizer que não havia ali ninguém com capacidades para ser candidato a deputado. Isso foi também um contributo para a desmobilização e descontentamento e, naturalmente, para um resultado menos conseguido.

Houve outros erros, tal como a questão dos professores [contagem do tempo integral], que foi um tiro na credibilidade do CDS que o partido nunca mais recuperou.

CDS nasceu evidentemente com a vocação de liderar o centro-direita, mas temos de perceber as nossas circunstâncias

Costuma dizer-se que quem tudo quer, tudo perde. Aplica-se esse ditado ao tal deslumbramento que houve com o resultado de Lisboa?

O partido olhou para esse resultado e achou que ia conseguir liderar o centro-direita e que ia haver uma transformação e que, finalmente, o sistema político ia fazer justiça ao CDS. O CDS nasceu evidentemente com a vocação de liderar o centro-direita, mas temos de perceber as nossas circunstâncias. O CDS hoje tem três problema que são muito relevantes e que devem merecer uma análise muito cuidada por parte de todos: uma crise identitária, uma crise organizacional e uma crise financeira. Pela primeira vez na história, temos três situações de crise, em três patamares diferentes, e que acontecem no mesmo momento. É preciso olhar para isto e olhar para frente, é esse o caminho.

Como é que o CDS deve posicionar-se em relação aos ouros partidos da Direita?

O CDS deve fazer o seu caminho e o seu trabalho, deve procurar reerguer-se e recuperar a credibilidade e confiança dos portugueses, este é o grande desafio. Para isso, devemos preocupar-nos sobretudo connosco e com as nossas dificuldades. O CDS não é igual aos outros partidos que existem em Portugal, sejam os novos sejam os velhos. O CDS é um partido diferente exatamente por essa matriz democrata-cristã que inclui também visões conservadoras e visões liberais. Isso é uma grande mais-valia no actual contexto partidário, porque é graças a essa pluralidade interna que o CDS faz a diferença e que o CDS vale a pena. Mais do que estar preocupado com diferenciações relativamente a outros partidos, estou preocupado, sim, com as respostas que o CDS vai encontrar para resolver os três problemas que são muito sérios que já referi.

Tem-se falado muito do Chega e do Iniciativa Liberal, partidos que terão roubado alguns votos ao CDS. São uma ameaça ou uma oportunidade para alianças futuras?

Os partidos não roubam votos uns aos outros. Os portugueses confiam, ou não, o seu voto em determinados partidos e em determinado momento. E aquilo que o CDS tem de perceber é porque razão é que houve votos que, desta vez, não foram no CDS e que foram canalizados para outros partidos. E deixe-me dizer-lhe, não é só Chega nem é só a Iniciativa Liberal. Se pensássemos que todos os votos que o CDS perdeu foram para esses novos partidos… O CDS perdeu mais do que apenas dois deputados. Veja que o PAN, por exemplo, também cresce. Diria que o CDS perdeu votos para vários partidos. Estou preocupado com o CDS e não quero que se transforme numa Iniciativa Liberal II ou num Chega II.

A nossa competição não é com esses partidos, é mostrar que o CDS é um partido do arco da governabilidade, que é um partido responsável, que é um partido moderado da direita democrática, que é oposição ao PS e que, ao mesmo tempo, é um partido útil à democracia e sobretudo útil aos portugueses que acreditam na proposta de valor do CDS. Só seremos credíveis e só voltaremos a ter a confiança dos portugueses se mostramos essa utilidade. E mostrar utilidade é conseguirmos dar validade e viabilidade aos nossos projetos e às novas ideias que são marca diferenciadora relativamente a todos os outros partidos.

Para ser franco, não estou muito preocupado com alianças com outros partidos, estou preocupado em regressar a este CDS, ao orgulho de ser CDS e ao CDS que vale a pena e que faz a diferença na sociedade portuguesa. É esse o nosso trabalho, evidentemente pensando que o trabalho visa também uma alteração de governação com um projeto de centro-direita que possa ser um projeto alternativo ao projeto socialista que temos.

Contarei com os outros candidatos para ajudar a recuperar o partido

Se for o escolhido para liderar o CDS, qual vai ser a primeira medida que vai tomar?

Vamos ter que pacificar o partido. Contarei com os outros candidatos para ajudar a recuperar o partido. O primeiro sinal terá de ser um sinal de pacificação, o segundo sinal terá de ser um sinal de mobilização, o partido tem que voltar a ser aquele partido dos homens bons de diferentes terras que tinham representatividade local social e que eram importantes a nível nacional e em Lisboa porque eram importantes nas suas terras. É preciso voltar a ter essa rede nacional, a um partido que sabe fazer política e que localmente as pessoas reconhecem como diferente. A nossa grande prioridade, até porque temos eleições autárquicas a curto prazo, é recuperar esse CDS. Do ponto de vista externo, o CDS deve focar o seu discurso em prioridades que são absolutamente claras.

Que são quais, na sua ótica?

Utilizando a nossa matriz democrata-cristã, há duas áreas que são absolutamente essenciais. O CDS é provavelmente o único, ou dos únicos, que pode defender uma redução do peso do Estado no país e na sociedade, na presença que tem junto das empresas e das famílias. Nós hoje temos um Estado omnipresente que é ineficiente e que está muito longe daquilo que é uma proximidade necessária dos serviços das populações. Há poucos partidos que estão descomprometidos com a máquina do Estado e que podem dar um contributo relevante. Isso tem que ter um objetivo da redução da carga fiscal. Hoje temos uma carga fiscal que bate recordes quase todos os meses, apesar de os socialistas nos dizerem que o tempo da austeridade acabou. E é também uma forma de libertar recursos para termos mecanismos de apoio de solidariedade especial que hoje são hoje absolutamente essenciais. Temos mais de dois milhões de pessoas que vivem no limiar da pobreza.

Temos muitas instituições de solidariedade social que vivem com enormes dificuldades num apoio que é supletivo, incontornável, apoiando idosos, jovens, mas também pessoas com deficiência e diferentes necessidades. Sei que há pessoas no PS e no PSD que concordarão com uma visão parecida com esta que nós devemos ter. E o CDS pode ter aí um papel absolutamente decisivo no sentido de conseguir ter estratégias de apoio aos mais desfavorecidos e aos mais pobres. Uma das propostas que também apresento na minha moção tem que ver com o combate ao isolamento. Antes disso, de sinalização de pessoas idosas em situação de isolamento de abandono e conseguir fazer um plano nacional de combate a esse tipo de situações. 

Defende também na sua moção a “reversão gradual” do aborto. Não acha que isso seria encarado pela sociedade como retrocesso?

Não. O que digo em relação a isso é muito simples. Como sabemos, a questão do aborto tem um impacto muito reduzido, muito pouco expressivo. Os números são cada vez mais inferiores. É evidente que eu defendo uma lei mais restritiva daquela que existe, mas também, deixe-me dizer-lhe, a prioridade não tem nada a ver com alterações legislativas. Muitos dos problemas que existem em Portugal não têm nada a ver com alterações legislativas. Alterações legislativas, nesta matéria mas também noutras, por vezes só vêm trazer perturbação social. Neste momento, aquilo que tem de ser verdadeiramente prioritário é o fomento de mecanismos de apoio familiar, social e psicológico, de mecanismos de informação clínica que sejam esclarecidos e que sejam eficazes. Em suma, é atuar do ponto de vista social. Do ponto de vista doutrinário, é evidente que não mudámos de opinião, sempre fomos contra o aborto, somos contra o aborto, faz parte da identidade do CDS, e não temos vergonha de o afirmar. Mas sabemos quais são as prioridades e são aquelas que acabei de referir.

Outro dos pontos a que faz referência na moção é a eutanásia. Com a atual composição do Parlamento, será uma questão de tempo até ser aprovada. Como vai o CDS encarar essa realidade?

Não há hoje nenhuma maioria em Portugal parlamentar que tenha legitimidade política nessa matéria. Nenhum partido político o defendeu, ou falou sequer, [da eutanásia] em sede de campanha eleitoral. Do ponto vista prático, não houve nenhuma proposta concreta feita ou apresentada de forma esclarecida aos portugueses. Das duas uma, ou nós queremos credibilizar os políticos e a política em geral - não tendo situações em que os políticos não falam sobre temas ou não são suficientemente claros, e depois acabam por trazer iniciativas nessa matéria, fazendo até às vezes o contrário daquilo que defenderam – ou acabamos por contribuir para o descrédito. Não há uma legitimidade maioritária para fazer essa alteração e estaremos contra qualquer alteração. Mas também deixe-me dizer: sou daqueles que entende que a vida não se referenda, mas também sei que, se por ventura, não tivermos outra alternativa, se necessário for e se forem esgotas as vias legislativas, o CDS, o país, exigirá a realização de um referendo.

Um referendo em último caso.

Sim.

CDS tem que crescer, tem que voltar a crescer, recuperar a confiança dos portugueses

Depois destes últimos resultados que considerou uma hecatombe. O que é que seriam bons resultads para o CDS nas próximas autárquicas e legislativas?

O CDS tem que crescer, tem que voltar a crescer, recuperar a confiança dos portugueses. Para isso, evidentemente, temos de trabalhar para que nas eleições autárquicas se consiga ver resultados idênticos aos que tivemos nas últimas eleições. E o efeito da circunstância hoje é particularmente mais difícil que aquela que encontrávamos nas últimas eleições autárquicas, mas temos de ter ambição e vontade de voltar a crescer. O nosso objetivo deve andar próximo do resultado que tivemos nas últimas autárquicas, reconhecendo que a situação hoje é complexa por força dos três problemas que mencionei.

Relativamente aos problemas financeiros do partido, o que é que se passa com a situação dos funcionários do CDS que acusaram, recentemente, o partido de bullying?

Não conheço as situações em concreto, é algo que deve ser aferido pela nova direção, para perceber em primeiro lugar qual é a situação financeira real do partido. E, por outro lado, perceber também qual é que é a capacidade que hoje existe no partido para acomodar toda uma máquina que existia e que está pensada para outras circunstâncias eleitorais. Estes ajustamentos são inevitáveis e são difíceis de gerir.

Que avaliação faz do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa?

O professor Marcelo fará o balanço que considerar adequado. Quando a questão presidencial se colocar, o CDS não deixará de fazer também um balanço e de tomar as decisões nos órgãos próprios. Não faz sentido fazer um balanço daquilo que é a atividade do senhor Presidente da República. Julgo que os balanços se fazem no fim dos mandatos e nós cá estaremos para fazer esse balanço.

Daí não consigo depreender se o apoiaria numa eventual recandidatura.

O apoio do Filipe Lobo d’Ávila, a título pessoal, é completamente irrelevante. Aquilo que é relevante é o apoio da instituição CDS e esse apoio é decidido pelos órgãos próprios. Já lá vai o tempo em que apoios a candidaturas presidenciais eram decididos por uma ou duas pessoas. Quando digo que o CDS tem que ter maior institucionalismo e fomentar a participação dos militantes nas suas próprias escolhas, é evidente que uma decisão de apoio a um Presidente da República deve ser uma decisão ponderada e decidida pelo próprio partido.

A maior ou menor afinidade do Filipe Lobo d’Ávila com o professor Marcelo Rebelo de Sousa – que por sinal foi meu professor na Católica – neste caso concreto é pouco relevante. Fui uma das pessoas que, em nome do CDS, esteve na Faculdade de Direito de Lisboa quando foi eleito Presidente da República para nos associarmos enquanto partido à vitória. Quando chegar o momento de fazer o balanço, quando soubermos se há candidaturas ou recandidatura da professor Marcelo, será o momento de decidir.

Neste momento, o que posso dizer é que o CDS deve ter esse cenário em aberto, desde logo porque não há decisões individuais de candidaturas. Eleições presidenciais dependem da vontade individual do próprio candidato. Esta é a postura prudente, não é positiva nem negativa do balanço do mandato.

Está confiante para o Congresso? Qual é o seu estado de espírito?

Estou muito confiante. Acredito que a minha candidatura vai crescendo, temos feito uma campanha positiva, temos tentado fazer um caminho diferenciador relativamente às outras candidaturas. Venho para acrescentar, para dar escolha, para permitir que o partido possa livremente decidir qual o caminho que vai seguir. Estou confiante porque estou tranquilo. Julgo que estou também a dar um contributo e agora, livremente, o partido escolherá o perfil, as ideias e o caminho que quer seguir. Cá estaremos para ver quais são as decisões e para assumir as consequências dessas decisões, esperando, e tendo a ideia de que é possível, ganhar este congresso. Ganharemos todos se o CDS der uma prova de maturidade. Tem de ser um congresso de maturidade e de novo ciclo. Foi por essa mudança que dei a cara.

Está então preparadíssimo para na segunda-feira acordar já na pele de líder CDS?

Estou preparadíssimo para todas as possibilidades. Se ganhar, para me apresentar no Largo do Caldas para começar a reerguer o CDS, se a minha moção não for a escolhida, com a mesma tranquilidade, saberei onde estarei a trabalhar nessa mesma segunda-feira.

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