Em declarações à agência Lusa, Manuel Monteiro afirmou que Freitas do Amaral, que hoje morreu aos 78 anos, "ficará para a história como um dos fundadores da democracia tipo ocidental que neste momento Portugal possui".
O ex-presidente do CDS enalteceu ainda "a coragem demonstrada por Freitas do Amaral quando, em 1976, disse não à Constituição da República portuguesa, numa época em que dizer não à Constituição era considerado um crime contra a revolução".
"A verdade é que foi Freitas do Amaral e o CDS por si presidido que disse não a uma Constituição que mais tarde foi alterada", considerou.
Manuel Monteiro recordou igualmente o papel que Freitas do Amaral teve na adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE).
"Lê-se muito sobre o papel de Mário Soares que, inquestionavelmente foi uma figura determinante nessa aproximação à Europa, mas esquece-se que Freitas do Amaral - que à época era presidente da União Europeia das Democracias Cristãs - desenvolveu junto dos governos democratas cristãos da época uma ação muito relevante e muito importante para a adesão e aceitação por parte da Europa de Portugal, numa época em que existiam muitas desconfianças quanto à evolução do próprio regime português".
O fundador do CDS e ex-ministro Diogo Freitas do Amaral morreu hoje, aos 78 anos, disse à agência Lusa fonte da família.
Diogo Pinto Freitas do Amaral, professor universitário, nasceu na Póvoa de Varzim em 21 de julho de 1941. Foi líder do CDS, partido que ajudou a fundar em 19 de julho de 1974, vice-primeiro-ministro e ministro em vários governos.
Freitas do Amaral, que estava internado desde 16 de setembro, fez parte de governos da Aliança Democrática (AD), entre 1979 e 1983, e mais tarde do PS, entre 2005 e 2006, após ter saído do CDS em 1992.
No final de junho deste ano, Freitas do Amaral lançou o seu terceiro livro de memórias políticas, intitulado "Mais 35 anos de democracia - um percurso singular", que abrange o período entre 1982 e 2017, editado pela Bertrand.
Nessa ocasião, em que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro líder do CDS e candidato nas presidenciais de 1986 -- que perdeu para Mário Soares - recordou o seu "percurso singular" de intervenção política, afirmando que acentuou valores ora de direita ora de esquerda, face às conjunturas, mas sempre "no quadro amplo" da democracia-cristã.
Líder do CDS, primeiro-ministro interino, ministro em governos à esquerda e à direita, presidente da Assembleia-Geral da ONU, disse em entrevista à agência Lusa quando já se encontrava doente, em junho de 2019, que sofreu "um bocado" com a derrota nas presidenciais de 1986, embora tenha conseguido dar a volta, com "uma carreira de um tipo diferente" e partir para "uma série de pequenas vitórias".