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"Saúde mental é, há muito, o parente pobre do investimento em saúde"

O bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues, é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

"Saúde mental é, há muito, o parente pobre do investimento em saúde"
Notícias ao Minuto

08:40 - 02/02/18 por Daniela Costa Teixeira

País Francisco Rodrigues

Vivemos mais anos, mas vivemos mais stressados, mais ansiosos, mais deprimidos. Vivemos mais anos, mas a mente parece nem sempre acompanhar o físico. Porquê? Porque a saúde mental tende a ficar para segundo plano, especialmente por quem apresenta os sintomas, mas continua a desvalorizá-los. Porquê? Porque, nos dias de hoje, é ‘normal’ estar stressado, estar ansioso ou estar deprimido. Mas não pode ser assim.

Apesar do estigma em relação à saúde mental parecer ser menor do que há uns anos, há ainda “um maior grau de subjetividade que as pessoas atribuem às dimensões mais psicológicas", uma forma menos preocupada de avaliar os sintomas mentais que "faz com que a prioridade seja, na maior parte das vezes, para a saúde física e a saúde psicológica, mais concretamente a saúde mental, fique para ‘outras núpcias’, como se costuma dizer”.

Mas não são apenas as pessoas que deixam a saúde mental para trás. Segundo o Bastonário da Ordem dos Psicólogos, o Estado tem apresentado falhas graves na colocação de psicólogos nos cuidados de saúde primários, nas empresas, nas prisões, nas escolas. A prevenção, diz, está a falhar e isso vai tirar saúde (física e mental) aos portugueses.

Nesta entrevista ao Notícias ao Minuto, Francisco Miranda Rodrigues mede o pulso à saúde mental em Portugal e aponta o dedo à falta de aposta em políticas de prevenção. A polémica em torno do programa ‘SuperNanny’ foi também um dos temas de conversa, e o bastonário fez questão de deixar clara a seguinte mensagem: Independentemente do programa em si e do mediatismo do mesmo, existem regras a cumprir por parte dos psicólogos.

Convém que todos nos afastemos da ideia de que a má saúde mental só acontece aos outros, que é uma coisa que, com certeza, a nós não nos vai acontecer porque somos pessoas muito sãs

Como é que está a saúde mental dos portugueses?

É uma questão muito abrangente. Temos vindo a alertar para o facto de a saúde mental ter, desde há muito, sido chamada de parente pobre do investimento em saúde em Portugal. É uma área ainda muito afetada por aquilo que é o estigma social, com a ideia de que convém que todos nos afastemos um bocadinho dela, que isso acontece aos outros, que é uma coisa que, com certeza, a nós não nos vai acontecer porque somos pessoas muito sãs e que isso [a má saúde mental] é próprio de um determinado tipo de pessoas. Mas tudo isto está errado e não ajuda a que depois se invista primeiro nessa área.

Depois há um maior grau de subjetividade que as pessoas atribuem às dimensões mais psicológicas que faz com que a prioridade seja, na maior parte das vezes, para a saúde física e a saúde psicológica, mais concretamente a saúde mental, fique para ‘outras núpcias’, como se costuma dizer.

Mas os números não nos mentem. Temos uma parte significativa das pessoas com necessidades e sem cuidados de saúde mental adequados, praticamente 65% com perturbações moderadas a nível mental. E em mais de 30% das perturbações mais graves [as pessoas] não recebem os cuidados de saúde mental adequados e isso já é um indicador bastante preocupante.

Temos de conjugar isto com uma prevalência das perturbações, como por exemplo, as de ansiedade na casa dos 16% ou 17%. Na depressão estamos no topo da Europa e, nos cuidados de saúde primários, os dados disponíveis apontam para uma prevalência de problemas de saúde mental entre os 29 e os 59%, com um predomínio expressivo das patologias mais depressivas.

E como avalia a situação da Psicologia em Portugal?

A Psicologia é uma área que precisa de atenção, de investimento, particularmente ao nível da prevenção. Temos vindo a acentuar cada vez mais a nossa preocupação com a falta de investimento em prevenção. A prevenção é algo em que urge começar a apostar e é nos cuidados de saúde primários onde deveria ser feito o maior esforço, tendo em conta que também é onde existem menos recursos. Existem muito pouco psicólogos nos cuidados de saúde primários e é necessário um reforço rápido nesse número de psicólogos.

O Orçamento do Estado para 2018 prevê a contratação de 44 psicólogos para os cuidados de saúde primários. É um começo, mas é um começo que vem sendo adiado há muito tempo. No ano passado, estavam previstos 55 [psicólogos contratados] e isso não aconteceu. Necessitamos de passar rapidamente estas promessas e estes compromissos em atos efetivos.

Um dado positivo foi, mas provavelmente só iremos ver resultados substanciais disto daqui a alguns anos, que este ano houve um reforço considerável do número de psicólogos nas escolas, foram 200 novos psicólogos. Agora é necessário garantir que estes 200 novos psicólogos se mantenham de ano para ano, que tenham as suas condições de trabalho reforçadas. Isso é fundamental na prevenção.

Depois há uma outra dimensão, que é a área das organizações, a área do trabalho e das empresas onde ainda há muitíssimo por fazer. É ainda uma área que vai ficando sempre esquecida. São exatamente essas pessoas, as que desenvolvem patologias mentais fruto das relações laborais, os problemas que o Serviço Nacional de Saúde tem de tentar resolver, embora com recursos ainda muito escassos.

A aposta na prevenção é essencial e a prevenção ao nível das empresas é um dos aspetos mais críticos, porque passamos muito do nosso tempo a trabalhar. Foram realizados inquéritos a nível europeu e demonstram que apesar de a esmagadora maioria dos empresários, mais de 90%, reconhecerem que existe um problema na forma como o stress e o burnout afetam a competitividade das empresas, ficou reconhecido que os investimentos feitos em matéria de higiene e segurança no trabalho são apenas feitos quando a lei obriga a fazê-los. Portanto, temos de mudar a lei em termos de legislação de segurança, higiene e saúde no trabalho de modo a incluir a área de intervenção dos riscos psicossociais, de uma forma muito mais presente e efetiva e que se estimule também o trabalho nessa área como se faz na área da saúde física, criando-se a figura do psicólogo do trabalho para que exista um trabalho continuado que seja não só no interior das empresas, mas também externamente como já acontece com os médicos do trabalho.

Sabe-se que hoje há uma relação muito direta entre a qualidade das lideranças, o estilo das lideranças e aquilo que depois a incidência deste tipo de problemas, tipo o stress e o 'burnout' [exaustão] nas organizações.

O stress tem uma ligação com o cancro e continuamos a não o valorizar suficientemente

Há pouco dizia que ainda existe algum estigma em relação aos problemas de saúde mental. Porque é que isso acontece? A pessoas têm vergonha de assumir que precisam de um psicólogo?

Penso que existe hoje cada vez menos esse estigma, embora o estigma da doença mental em si exista, mas é, felizmente, menor do que era há dez anos. É algo que tem positivamente evoluído e os portugueses reconhecem cada vez mais a importância do apoio ao nível psicológico e reconhecem cada vez mais a importância que o psicólogo pode ter nas suas vidas.

O problema, muitas vezes, é a falta de recursos financeiros para poderem aceder a esses serviços, ou seja, se não temos esses serviços [de psicologia] disponíveis ao nível de Sistema Nacional de Saúde, apenas os portugueses com maior capacidade financeira os conseguirão, e no privado, ou aqueles que têm comparticipações que lhes permita esse acesso – e são muito poucas, na verdade, os seguros de saúde em Portugal continuam a falhar muito naquilo que é a comparticipação das consultas de Psicologia.

O acesso a cuidados de saúde psicológica é um trajeto que está ainda por fazer, quer seja a nível do setor público, quer seja ao nível do setor privado. É importante que isso esteja disponível e reforçado até mais para quem tem mais dificuldades financeiras, porque também sabemos que as coisas não estão completamente desligadas. Sabemos que, por exemplo, as pessoas em situações mais vulneráveis a nível económico-financeiro ou em situação de pobreza estão muito mais suscetíveis ao desenvolvimento de stress psicológico ou perturbações mentais que decorrem do conjunto de circunstâncias em que se encontram. Isso é um risco para caírem em perturbações de ansiedade e depressivas.

Mais uma vez, é importante que haja recursos públicos para diminuir as diferenças, se não acentua-se o fosso em matéria social e a ideia de que as capacidades financeiras determinam a facilidade em prevenir e sair de uma situação de dificuldade numa patologia psicológica.

O Estado tem de dar aqui prioritariamente respostas, porque os problemas de saúde mental estão associados, muitas vezes, a problemas de saúde física. Os estudos apontam que as doenças do foro oncológico têm uma relação com fatores psicológicos como o stress e há taxas de incidência mais elevadas quando existe essa associação. O stress tem uma ligação com o cancro e continuamos a não o valorizar suficientemente. Precisamos, reforço, de reforçar a prevenção.

Atualmente temos patologias como o stress, depressão e até mesmo a ansiedade um tanto ou quanto banalizadas, as pessoas têm-nas como normais, e o tratamento passa, quase sempre, por fármacos passados pelo médico de família. Que riscos é que isso pode trazer?

Pode acontecer isso, sim. E isto passa por um problema que é: os médicos muito gostariam de poder referenciar as pessoas com essa necessidade para psicólogos nos cuidados de saúde primários, mas a questão é que é necessário que existam psicólogos em quantidade para que esse encaminhamento aconteça e isso não é possível.

É natural, embora não desejável, que o recurso possível em algumas situações seja o uso de fármacos. Isso é muitas vezes a única saída, se bem que o que se está a fazer é trabalhar e atuar nos sintomas, mas não a resolver a situação que está na origem do problema [mental] e que pode levar, muitas vezes a dependências, e não só por causa da ação medicamentosa, mas dependência da medicação quando esta é tirada ao paciente e o problema não foi resolvido com o recurso a alguma intervenção psicológica, não necessariamente psiscoterapia. Se isso não acontecer sobra o recurso à medicação, que penaliza as pessoas, a sua qualidade de vida e a sua autonomia, mas também as contas do próprio Estado.

Estamos com a situação completamente invertida face àquilo que deveria ser a realidade.

O senhor ministro da Educação já disse e reconheceu muito bem que os psicólogos fazem parte das necessidades permanentes das escolas, mas a prática hoje ainda não é essa

A Ordem tem algum plano de ação em mente para combater estas dificuldades e falta de acesso aos pacientes à Psicologia?

A Ordem já tem, dentro daquilo que são as suas competências, um conjunto de iniciativas que tentam dar um apoio a tudo isto, à resolução destas situações, mas há coisas que não passam por nós.

Uma das coisas que temos feito é trabalhar muito a informação do grande público, trabalhar em campanhas para a população em geral, que tentem acabar com o estigma nas questões relacionadas com a saúde mental e que promovam as boas práticas ao nível da saúde psicológica, que aumentem a literacia de modo a que a população saiba mais sobre aquilo que um psicólogo faz e saiba como e onde pode pedir ajuda.

Lançámos uma campanha chama ‘Encontre Uma Saída’, onde há muita informação sobre as perturbações na área da saúde mental e como um psicólogo pode ajudar, onde pode encontrar um serviço de georreferenciação de seis mil profissionais, facilitando o acesso. Claro que falamos, muito mais, dos profissionais que trabalham no setor privado.

A nível das organizações temos uma campanha internacional que temos estado a apoiar, a ‘Healthy Workplaces’, sendo que aqui o que fazemos é assinalar a importância das organizações terem boas práticas e a destacar publicamente esses bons exemplos, ao mesmo tempo que temos vindo a fazer grande pressão e a informar os decisores, como disse à pouco, de legislar esta matéria da saúde mental.

Na área da educação, por exemplo, lançámos a campanha ‘Escola Saudavelmente’, que distingue as boas práticas na saúde psicológica e na promoção do sucesso educativo. Tivemos uma ótima participação, quase 300 escolas participaram e atribuímos quase 100 selos que distinguem escolas e agrupamentos de escola com boas práticas de saúde psicológica.

O que nós podemos fazer de forma permanente, continuada e insistente é dar informação aos decisores para que eles saibam qual a importância dos psicólogos, em que é que o Estado pode beneficiar, em que é que os cidadãos podem beneficiar e alertar ainda para as carências, as necessidades e para aquilo que não existe mas deveria existir ou que existe, mas não em quantidade suficiente.

Acho que tem vindo a haver maior abertura do Governo à nossas propostas, mas carece de rapidez e capacidade de implementação no terreno dessas mesmas propostas.

É necessário um maior esforço e disposição de recursos na área da Psicologia, não só na área da saúde e da educação, mas por exemplo na área da justiça e é, aqui, na área da justiça que assistimos a uma situação de exclusão daqueles que são cidadãos que estão privados de alguns dos seus direitos, nomeadamente a sua liberdade, mas que continuam a ser cidadãos e cidadãos que a sociedade pretende que venham a ser integrados com sucesso na própria sociedade. Aí o Estado está a falhar de forma gritante, porque o apoio é muito, muito, muito pequenino, estamos a falar de muitíssimos poucos psicólogos, não chegam a 30 psicólogos os que vão dando apoio direto ao sistema prisional.

Estamos a falar, ainda por cima, de contratações em regime de tarefa e falo de pessoas, muitas delas especializadas na área da Psicologia da Justiça, e que recebem qualquer coisa como cinco euros à hora por horários que muitas vezes não são horários completos de trabalho.

É um péssimo exemplo que o Estado dá. Repare que são 30 psicólogos para cerca de 50 estabelecimentos prisionais. Não é minimamente aceitável.

Há pouco falava da página ‘Escola Saudavelmente’ e lá vem a dizer que uma em cada cinco crianças apresenta problemas de saúde psicológica. Falam de que problemas em concreto?

Entram os problemas que são mais prevalecentes na população portuguesa, como as perturbações de ansiedade, que são as que estão mais presentes.

O papel do psicólogo na escola, não é tanto o papel no apoio individual de cada aluno que desenvolve uma perturbação mental, mas deveria haver recursos necessários nas escolas para que sejam implementados programas de prevenção e promoção, nomeadamente do desenvolvimento de competências sócio-emocionais que trabalhem precisamente no sentido de que estes alunos não venham a desenvolver perturbações. É neste capítulo preventivo que é essencial uma aposta, mas ainda é difícil porque os psicólogos que estão nas escolas são muito poucos e acabam por ficar exacerbados para dar resposta aos problemas que são mais emergentes.

O senhor ministro da Educação já disse e reconheceu muito bem que os psicólogos fazem parte das necessidades permanentes das escolas, mas a prática hoje ainda não é essa. Houve uma melhoria, mas precisamos que os profissionais tenham condições de desenvolver a profissão adequadamente, sem terem de interromper de ano para ano os processos de apoio que estão a conduzir. Para que isso aconteça é preciso que estejam vinculados de forma permanente e se existem necessidades permanentes e são vistos como recursos que devem ser permanentes, então há que vinculá-los de forma permanente às escolas ou agrupamentos de escolas.

Na ausência de psicólogos, os professores são capazes de detetar algum tipo de perturbação mental nas crianças?

Os professores e muitos outros profissionais que trabalham em articulação com psicólogos estão hoje mais sensíveis, alertas e interessados em trabalhar com os psicólogos para detetar de forma precoce as perturbações ou sinais que podem revelar um eventual desenvolvimento de perturbações no futuro. Esse trabalho conjunto é um trabalho importante e que demonstra que os professores estão cada vez mais motivados, interessados e empenhados.

Emitimos um parecer no sentido de esclarecer as entidades e a opinião pública sobre aquilo que devem ser os cuidados relativamente à exposição das crianças neste tipo de programas ‘reality show'Ainda no que diz respeito às crianças, há atualmente um tema ao qual não podemos escapar: o programa 'Supernanny'. A Ordem já tinha dado um parecer negativo em 2016, mas o programa acabou por ir na mesma para o ar tendo sido suspenso por ordem judicial antes do terceiro episódio. O que tem a dizer sobre esta situação?

A Ordem já disse tudo o que tem a dizer sobre essa matéria. Sim, foi emitido um parecer há cerca de dois anos pela Comissão de Ética da Ordem dos Psicólogos, até porque havia questões relacionadas com uma eventual participação de um psicólogo ou de uma psicóloga no programa, portanto, fizemos um parecer aplicável a esse programa e a outros programas do género.

Fizemos, agora, já não apenas no domínio da ética e deontologia da profissão, mas também já sobre aquilo que são os impactos na criança deste tipo de programas mais do género de ‘reality shows’, um parecer com base na literatura científica mais atual disponível e que aponta para aquilo que podem ser alguns impactos para as crianças que são expostas por participar neste tipo de programas.

Deixámos, desta forma, o nosso alerta e contributo para quem, de direito, atue da forma que considerar melhor, desde a própria estação televisiva até às instituições do Estado que têm a permissão de olharem a atuarem nestes problemas.

Os profissionais [da área de Psicologia] podem ter um papel de revelação das ciências psicológicas e do papel do psicólogo, mas que por isso mesmo, por estarem a atuar num contexto de grande exposição mediática, têm necessariamente cuidados acrescidos a ter e uma responsabilidade acrescida, como é evidente.

À Ordem cabe agir se necessário, seja no sentido preventivo, como foi quando se elaborou o parecer [em 2016], seja numa outra qualquer circunstância em que seja necessário atuar como órgão regulador que é, seja ela qual for, não me estou a referir particularmente a este programa, estou referir-me a qualquer participação de psicólogos, não estando em nenhuma circunstância em causa o que é desejável, até porque a participação dos psicólogos junto dos media é desejável e importante, mas todas as participações profissionais devem ser feitas de acordo com o cumprimento do Código de Ética e de Deontologia que se aplique e a nós nos cumpre atuar nesse sentido.

E a nós cumpre-nos também contribuir para o bem-estar da população ao nível daquilo que são as dimensões da saúde psicológica e dentro dessa obrigação pública que também temos, vamos, nestas e noutras áreas, prestar contributos uns mais outros menos mediáticos em muitas matérias. A propósito desta, e pela relevância que tomou, emitimos um parecer no sentido de esclarecer as entidades e a opinião pública sobre aquilo que devem ser os cuidados relativamente à exposição das crianças neste tipo de programas ‘reality show’.

Em caso de dúvida, se não temos a certeza se podem ser prejudiciais ou não, então se calhar o melhor é não expormos as criançasA psicóloga que conduziu o programa, Teresa Paula Marques, disse que não estava ali como psicóloga. Isso não induz as pessoas em erro sobre o que é a prática da psicologia?

É como lhe digo, sobre o caso de uma psicóloga, qualquer que seja ela, ou um psicólogo, são assuntos que, caso seja necessário, a Ordem avalia e tem órgãos próprios para isso para atuar caso haja qualquer tipo de situação em que essa atuação deve acontecer.

Relativamente àquilo que é a mensagem que passa sobre o que é a atuação do psicólogo, como disse, um psicólogo quando está no espaço público, mais mediático ou menos mediático, tem responsabilidade acrescida e isso, aliás, está no Código de Ética e Deontologia, pelo tipo de mensagem que passa e se a mensagem está de acordo com aquilo que é preconizado pela ciência, entre outras obrigações que a atividade profissional exige.

Mas este não é o caso deste ou daquele psicólogo, é o caso de todos os psicólogos e, portanto, não compete ao bastonário da Ordem dos Psicólogos tomar a iniciativa de comentar a atuação, a intervenção, a ação de um ou de uma psicólogo ou psicóloga em particular, muito menos a fazê-lo no domínio público, a não ser que a isso seja chamado por parceiros ou pelo próprio. 

Voltámos a colocar para reflexão de todos a pertinência de, por exemplo, virmos a ter a figura de um provedor da criança e do jovemO que é que leva ou pode levar um pai e/ou uma mãe a expor um filho menor em ‘canal aberto’?

A minha resposta nunca será lida como a resposta de um psicólogo, mas sim como a do bastonário da Ordem dos Psicólogos. O que tenho de responder a isso é que é muito importante que todos nós, quando temos de tomar decisões sobre as crianças, tenhamos em atenção aquilo que é o particular risco de vulnerabilidade, os direitos que as crianças têm, que, mesmo enquanto pais, nós não somos donos das crianças e, portanto, o parecer que a Ordem emitiu traduz já um conjunto de alertas e recomendações sobre aquilo que deve ser o cuidadoso olhar que devemos ter antes de pensarmos em expor as crianças, seja em que situação for.

Mais ainda se, por ventura, forem situações que configurem expressões mais negativas que possam prejudicar essas crianças, não simplesmente e somente as questões relacionadas com a imagem, mas aquilo que possa vir, no fundo, prejudicar o seu desenvolvimento e possa contribuir para, no futuro, problemas ou perturbações. Mas isso é válido para qualquer situação e aquilo que devemos, todos nós, é ter particular atenção à forma como cuidamos daquilo que é a presença pública das crianças, particularmente em situações em que fiquem muito mais expostas e expostas a mais gente e em dimensões que não sabemos se podem ser prejudiciais, e se não sabemos temos todos de procurar saber. Em caso de dúvida, se não temos a certeza se podem ser prejudiciais ou não, então se calhar o melhor é não as expormos e penso que é um cuidado que todos devemos ter, dada a cada vez maior pressão que a sociedade coloca, por um lado, por aquilo que é felizmente um maior conhecimento daquilo que deve ser o cuidado que se tem com as crianças.

Temos algumas instituições no nosso país que fazem um trabalho importante nessa área, há não muito tempo que voltámos a colocar na discussão pública, para reflexão de todos, a pertinência de, por exemplo, virmos a ter a figura de um provedor da criança e do jovem, que permita dar mais algum espaço à defesa das garantias e proteção que precisamos de dar às nossas crianças e jovens.

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