"Sobre a decisão de última hora de sacrificar os utilizadores de bicicleta, ao arrepio flagrante do acordo que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) fez com representantes da sociedade civil para conseguir mais lugares de estacionamento, a Mubi considera inaceitável que se jogue com vidas humanas em troco de cedências políticas que, ainda por cima, contradizem a estratégia de mobilidade sustentável que o autarca pretende defender para a cidade", afirma associação.
Num comunicado divulgado no seu 'site', a Mubi considera que "o espaço dedicado ao automóvel neste eixo, em comparação com os outros meios de transporte, é obsceno, socialmente injusto e economicamente injustificável".
Em causa estão alterações ao projeto anunciadas pelo presidente do município, Fernando Medina, que prevê a introdução de uma ciclovia bidirecional do lado poente da Avenida da República, enquanto anteriormente estava prevista a criação de uma ciclovia em cada sentido, entre o Marquês de Pombal e Entrecampos.
A associação argumenta que "a escolha de uma tipologia bidirecional é geralmente mais perigosa em zonas urbanas com muitos cruzamentos - a sua escolha deve ser feita criteriosamente como exceção e depois de um processo participado e escrutinado o rigor técnico da escolha - não como uma cedência de última da hora".
"Refutamos veementemente a afirmação do presidente Fernando Medina de que este recuo político 'melhora o projeto' e tem vantagens para os utilizadores de bicicleta", acrescenta a nota.
A Mubi dá como exemplo a ciclo da Avenida Duque d'Ávila, "que tem provocado diversos acidentes no cruzamento com a própria Av. da República, já deveria ter dado à CML o exemplo prático em Lisboa deste perigo".
Também em termos de estacionamento, o autarca anunciou que as alterações introduzidas ao projeto "fazem com que a norte do Saldanha [Avenida Elias Garcia] haja até algum ganho líquido pequeno face à situação atual", de sete lugares.
Entre as mudanças está o parqueamento em espinha, nomeadamente nas avenidas Miguel Bombarda, João Crisóstomo e António José de Almeida, onde foi possível criar 94 lugares.
A autarquia chegou ainda a acordo com operadoras de parques privados para assegurar 165 lugares alternativos com avenças mensais de 25 euros, valor mais baixo do que é praticado, recordou.
"Aumentar o número de lugares de estacionamento é contrário a todas as boas práticas europeias e contraria de forma gritante a política de mobilidade que a cidade de Lisboa devia prosseguir", afirma a Mubi.
Quanto ao estacionamento subterrâneo, os ciclistas consideram uma "decisão vergonhosa de subsidiar o estacionamento de alguns", e não aceita "que os cidadãos de Lisboa contribuam com os seus recursos para continuar a incentivar a utilização do transporte individual de alguns moradores da cidade".
Na terça-feira, a Mubi convocou um "passeio silencioso em protesto contra o buzinão" convocado para o mesmo dia por um grupo de cidadãos, que se manifestaram contra as obras do eixo central.
Em causa, neste projeto, está o alargamento dos passeios, a criação de zonas verdes e de estadia, a repavimentação das faixas de rodagem (feita durante a noite), o reordenamento do estacionamento e a criação de uma ciclovia bidirecional, no âmbito do programa "Uma praça em cada bairro".
Orçada em 7,5 milhões de euros, a intervenção tem uma duração estimada de nove meses.