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A "facada" de quem devolve cães como se fossem "mobília"

Não falamos de uma peça de roupa que tem 30 dias para trocar ou devolver. Ou até de um produto cujo prazo de validade está expirar. Falamos de um ser vivo que recebeu o seu dono de braços abertos e tentou à sua maneira demonstrar todo o carinho que sentia mas que acabou por ser devolvido. Conheça algumas histórias de 'partir o coração' trazidas este sábado pelo Notícias Ao Minuto.

A "facada" de quem devolve cães como se fossem "mobília"
Notícias ao Minuto

09:05 - 14/05/16 por Zahra Jivá

País Reportagem

Mesmo depois de ter entrado em vigor em 2014 a lei que criminaliza os maus-tratos a animais, parece não ter sido suficiente para terminar com os abusos que se ouvem todos os dias. 

Por esse motivo, o PAN, PS, Bloco de Esquerda e PSD foram ao Parlamento esta quinta-feira para mudar a lei que vê os animais como "coisas", de forma a alterar o seu estatuto jurídico e a aplicar penas mais pesadas a quem os mal trate.

O abandono também é uma forma de mal tratar estes fiéis amigos do homem. O Notícias Ao Minuto procurou saber junto de duas associações que acolhem estes animais abandonados à nascença (e não só) para perceber o que leva uma família a adotar estes animais, para mais tarde os devolver.

Na União Zoófila, associação que tem denunciado bastante estes casos no Facebook, há registo de cinco animais adotados por ano que acabam por ser devolvidos.

Como justificam estas famílias a devolução destes seres?

“No caso dos cães, se forem bebés, as famílias adotantes invocam, um ou dois anos depois, que eles cresceram demais”, explica a responsável pela União Zoófila.

Estas famílias são alertadas à partida de todas as 'traquinices' que estes fiéis companheiros podem fazer ao início. Entusiasmadas dizem estar dispostas a tudo. Mas rapidamente o cenário muda.

“Dizem que os cães ladram, mordem, fazem chichi onde não devem, estragam coisas”, refere a União Zoófila.

Na União Para a Proteção dos Animais (UPPA) há também registo de algumas devoluções, mas por tentarem ser o mais rigorosos possíveis no processo para evitar estas situações o registo não é significativo. Contudo, a maior taxa de devolução prende-se com cachorros, falamos de “bebés de meses”.

Há quem também, por necessidade, tenha de ir trabalhar para fora, e por achar que é mais fácil “desfazer-se” do animal acaba por o entregar. Mas como explica a associação, “há muitos emigrantes que levam os seus animais”.

O "nascimento de um filho ou uma nova namorada/o que não gosta do cão” são outras razões válidas para estas famílias, mas não para estes animais.

Em declarações ao Notícias Ao Minuto, a treinadora de cães da Dog Instinct, Andreia Lauro, especializada em ajudar donos nos treinos dos seus 'pequenos' remete para a questão que foi debatida esta semana no Parlamento, a de os animais serem encarados como “coisas”.

“Não vejo os animais como coisas, objetos que não gostamos de ver na sala e que vamos devolver à loja. É um compromisso que tem de ser assumido para a vida, nossa e deles”, sublinha.

“Há quem devolva um cachorro ao fim de um dia porque ganiu a noite toda e fez as necessidades fora do lugar. Há quem entregue um animal idoso ao canil e diga que vai buscar um cachorrinho porque é mais engraçado”, adianta a treinadora.

Um regresso "devastador" para quem já amou e perdeu esse carinho

Esse regresso não é fácil. “É devastador para os animais. Os gatos deprimem de tal maneira que recusam a comida e, frequentemente, morrem. Os cães não se mexem, também não comem, não urinam, nem defecam nas boxes, uivam, ganem, não entendem o que aconteceu. Se não são adotados de novo rapidamente tornam-se desconfiados”, conta a União Zoófila.

“Outros ficam apáticos com os focinhos enfiados nas grades. É uma 'facada' psicológica muito grande para o cão, que até aquele momento estava no calor de um lar com as pessoas que amava e de repente vê-se fechado numa box no meio de cães que não conhece, num sítio completamente estranho e com pessoas desconhecidas”, salienta a UPPA.

Histórias de abandono

A União Zoófila conta ainda o caso de um cão que chegou à instituição “há cerca de cinco anos” muito “magro e com marcas de acorrentamento”. Mas quando entraram em contacto com o adotante, pouco tempo antes, tudo “parecia correr muito bem”. Porém, souberam que o “adotante se separou e encontrou uma nova companheira que engravidara”.

Também a UPPA tem uma história que os marcou. “Até hoje a história de devolução que mais nos entristeceu foi a de um cão que demos em cachorro e passados três anos, sim três anos... devolveram-nos o animal porque estavam fartos das 'asneiras' que ele fazia quando ficava em casa sozinho. Foi traumático para o cão e para nós, pois era uma família que ia enviando fotografias e notícias e nunca deu a entender que algo não estava bem. Três anos depois devolveram-no como se fosse 'mobília' que já não querem mais".

“A história que mais me marcou e que não esqueço é a de uma cadela adotada em cachorra e devolvida com oito/nove anos de idade porque tinha deixado de andar e de subir ou descer as escadas do prédio. A associação prontificou-se a aceitar o animal e após ser vista do veterinário rapidamente perceberam o motivo pelo qual o animal não queria andar: tinha uma pata partida”, conta a treinadora Andreia.

Será que as famílias que os devolvem dão a cara nesse momento?

Não há uma idade comum para este regresso, ou são cachorros que depois de crescerem já não satisfazem as famílias ou são cães adultos devolvidos porque os donos mudaram de casa ou até animais muito idosos, adotados em bebés, que acabaram por ser devolvidos porque deixaram de ser capazes de subir as escadas com autonomia.

Como se combatem as devoluções (e não, não estamos a falar de uma peça de roupa ou de um produto em que o prazo de validade está quase a expirar)

“Para combater as devoluções, tentamos ser rigorosos na escolha dos adotantes, enviamos um questionário prévio para preenchimento, fazemos uma entrevista durante a visita, aconselhamos treinos em escolas e no caso dos bebés até facultamos um manual com indicações sobre a melhor maneira de os educar”, refere a UPPA.

“Informar, sensibilizar e acompanhar as adoções. E mesmo assim há sempre um adotante que nos desilude”, concretiza a treinadora.

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