Uma reportagem exibida esta sexta-feira à noite na SIC volta a recordar o complexo processo dos Pandur, ainda do tempo da governação de Durão Barroso. Paulo Portas era na altura o ministro da Defesa, cuja assinatura surge nos contratos. Mas foi o seu então chefe de gabinete na Defesa, Manuel Mendes Brandão, que o Ministério Público quis ouvir.
Manuel Mendes Brandão liderou o gabinete de Paulo Portas na Defesa, entre 2003 e 2005, e esteve envolvido no processo multimilionário de aquisição de 260 blindados para o Exército português. Logo no ano em que deixou o executivo foi contratado pelo escritório de advogados da austríaca Steyr – que pertence ao grupo multinacional General Dynamics – que acabara de ganhar o negócio com o Estado.
O antigo chefe de gabinete foi também vogal da comissão permanente de contrapartidas e, revela a SIC, que teve acesso ao processo, foi confrontado com suspeitas pelo Ministério Público (MP). É ele o único elemento do executivo de Durão Barroso ouvido pelo MP e a procuradora responsável terá mesmo sugerido a hipótese de o constituir arguido. A procuradoria terá chegado mesmo a pedir o levantamento de sigilo fiscal.
Ao longo da última década, o negócio de 360 milhões de euros dos Pandur tem surgido pontualmente. Em 2005, a finlandesa Patria, que perdera o concurso para este negócio, protestou mas viu o seu protesto ser rejeitado em tribunal.
Mais tarde, a empresa portuguesa que iria montar a quase totalidade das viaturas nunca chegou a construir nenhum Pandur. Após divergências com o fornecedor nasce a Fabrequipa. O Estado português chegou a denunciar o contrato com a General Dynamics quando Passos Coelho era primeiro-ministro e Aguiar Branco ministro da Defesa, chegando mais tarde a acordo. O negócio dos Pandur mereceu mesmo inquérito parlamentar.
Segundo revela a SIC o nome de Paulo Portas surge referenciado por diversas vezes no processo que investiga suspeitas de corrupção e prevaricação por titular de cargo público no negócio dos blindados.
O inquérito iniciado em 2014 pelas autoridades, entretanto, conta já com mais de 10 volumes. Uma das páginas conta inclusive com uma imagem de Paulo Portas, institucional, que mostra o ex-governante já no cargo de vice-primeiro-ministro, que assumiria após a crise política provocada pela “demissão irrevogável”, acompanhada do CV de Portas.
Apesar da quantidade de papéis acumulados nesta investigação, já há meses que não há desenvolvimentos no processo.