"A 'Saudade Madeira' surgiu há ano e meio, inicialmente como um projeto de três pessoas, sendo a ideia promover o artesanato da região, aquilo que é mesmo feito no arquipélago, não aqueles 'souvenirs' que os turistas estão habituados", disse à agência Lusa a arquiteta Tânia Abreu.
A responsável do espaço, situado atrás da Sé do Funchal, num espaço nobre da cidade, sublinha que o objetivo foi "criar um local onde o artesanato aparecesse com mais destaque".
Tânia Abreu explica que "o nome Saudade" foi escolhido porque ela e o marido, que são os dois arquitetos tiveram de procurar alternativas devido à atual crise, já que na área "as coisas não estavam favoráveis", pelo que só tinham "duas opções: agarrar um novo projeto ou emigrar".
Neste tipo de cenário, "surge na mente sempre a palavra 'saudade', que é um nome muito português", até porque o marido é lusodescendente, e foi este sentimento que serviu de mote para o projeto.
Mas, destaca, neste caso, o objetivo é divulgar um conceito diferente de saudade, "dando, não um sentido de tristeza, mas [o de] ficar uma boa recordação e lembrar as boas referências da Madeira", o que, no seu entender, passa pelos "vários de artesanato e arte".
"Começámos a contactar vários artesãos e, inicialmente, surgiu a ideia de fazer uma cedência de espaço, onde pudessem colocar os produtos e vendê-los aos seus preços e nós comercializávamos acrescentando o IVA", refere, explicando que era uma oportunidade para estes artistas promoverem as suas peças, sendo a loja "no fundo, a intermediária", o que contou com a "adesão imediata".
Assim, "surgiu, a 30 de julho de 2014, o que penso ter sido a primeira loja colaborativa no Funchal", o que representou um investimento exclusivamente privado na ordem dos 50 mil euros, declarou.
Tânia Abreu recorda que "tiveram um azar" e não conseguiram apoios comunitários, porque a pessoa a quem atribuíram a responsabilidade de elaborar o processo "não entregou a candidatura a tempo".
O conceito da loja colaborativa passa pela "cedência de prateleiras" aos artistas, mediante o pagamento mensal de um aluguer que tem o valor médio mensal de 39 euros por metro linear, explicou.
"Temos vários artistas, desde pintores, escultores ou designers e o objetivo é que se respire um pedacinho de arte", sublinha, mencionando que já tiveram "mais de 70 artesãos" representados, mas, neste momento, são cerca de 40.
Segundo a arquiteta, "tem valido a pena, mas tem sido muito doloroso, porque é muito difícil ser empreendedor", opinando que "o incentivo dos clientes tem sido muito positivo e faz sentir que vale a pena seguir em frente".
Como a conjuntura não é muito favorável, admite que serão obrigados a introduzir algumas inovações, "apostando mais na vertente café, porque é mais rentável", afetando a esta atividade mais uma das salas, até porque é inverno.
Mas, assegura a arquiteta, a 'Saudade Madeira' vai continuar a "ter a interligação com a arte, porque é uma das mais-valias" e já há turistas que regressam e "pessoas que, quando vêm ao café, notam que tem um toque diferente".
Tânia indica que vão dar prioridade "aos artesãos que têm bom produto e comerciável", exemplificando com um que aposta em objetos com folha de bananeira, na pintura, escultura, cerâmica, azulejos, reciclagem de materiais, bijutaria feita com cápsulas de café e papel de revista, além de continuar a apostar em produtos da doçaria tradicional, estando o espaço certificado com a 'Marca Madeira'.