Em média, por semana, foram entregues 30 cabazes com três quilos de peixe já amanhado pela Associação Cultural e de Desenvolvimento de Pescadores e Moradores da Azenha do Mar, uma pequena comunidade piscatória da freguesia de São Teotónio, no concelho de Odemira, distrito de Beja, disse hoje à agência Lusa a coordenadora do projeto, Ivânia Guerreiro.
De acordo com a responsável, os números referem-se ao período entre março e dezembro de 2014, uma vez que quase não houve movimento nos primeiros três meses deste ano, por impossibilidade de os pescadores saírem para a faina devido às condições climatéricas e do mar.
Em todo o mês de fevereiro, os barcos de pesca saíram apenas em cinco dias e este é, segundo Ivânia Guerreiro, o "maior constrangimento" deste projeto pioneiro de venda direta de peixe aos consumidores, que permite eliminar intermediários e fazer reverter um valor "mais justo" para os pescadores.
A instabilidade das entregas levou, no entanto, à desistência de quatro clientes, sendo que outros seis prescindiram do serviço por desejarem com maior frequência espécies "mais nobres", como linguado, besugo, robalo e dourada.
Mas, neste cabaz, "tudo o que vem à rede é peixe", literalmente, e um terço do seu peso, ou seja, um quilo, é composto por espécies menos valorizadas (choupa, rascasso ou bodião, entre outras).
O projeto começou em março do ano passado, por iniciativa da Taipa, uma cooperativa na área da solidariedade e do desenvolvimento, cofinanciado por fundos comunitários, estando, desde novembro, completamente nas mãos dos pescadores.
Num ano, angariaram cerca de 120 clientes, compraram uma carrinha com imagem personalizada, que é agora o "cartão-de-visita" do projeto, e disponibilizaram um sítio na Internet e uma página na rede social Facebook.
O crescimento do "cabaz do mar", motivado sobretudo pela publicidade "boca-a-boca", levou a que a associação tenha começado a comprar peixe não só na lota da Azenha do Mar, mas também nas de Entrada da Barca, igualmente na freguesia de São Teotónio, e de Vila Nova de Milfontes, esta a cerca de 45 quilómetros.
Tal aumenta os custos do cabaz, cujo preço de venda é de 22 euros desde o início do ano, mas impõe-se devido à necessidade de ter peixe em quantidade e variedade para entregar aos clientes, referiu Ivânia Guerreiro.
O projeto, ainda assim, "paga-se a si próprio", garantiu a responsável, embora "não tenha lucro", o que é compensado pelo retorno "muito bom" em termos sociais, pela visibilidade que ofereceu à comunidade piscatória.
Atualmente, o cabaz é distribuído apenas nas freguesias do litoral do concelho de Odemira, por uma questão de gestão dos custos, mas a criação de parcerias poderá permitir a expansão para as localidades do interior, onde há clientes em lista de espera desde que a iniciativa foi criada.