Ocupantes da Feira da Ladra tentam sobreviver à crise com artigos usados

Desde que ficou desempregada, há ano e meio, Conceição Parente, de 49 anos, desloca-se de Sintra, onde reside, para a Feira da Ladra, em Lisboa, para poder vender "um bocadinho de tudo, produtos que tinha em casa, coisas de trocas".

Ocupantes da Feira da Ladra tentam sobreviver à crise com artigos usados

© Reuters

Lusa
13/04/2015 09:40 ‧ 13/04/2015 por Lusa

País

Lisboa

Conceição Parente faz parte dos 465 vendedores que rentabilizam artigos usados, como peças de roupa, loiças, velharias ou antiguidades para "tentar sobreviver à crise", como explicou à Lusa.

Tem uma banca fixa, atribuída pela Câmara de Lisboa em troca de uma mensalidade de 12 euros, para poder vender "um bocadinho de tudo: produtos que tinha em casa, coisas de trocas", explicou.

"É daqui que vem o sustento", contou a feirante, referindo que estes produtos são vendidos a "valores muito abaixo do justo".

Considerada já um evento tradicional de Lisboa às terças-feiras e sábados, a Feira da Ladra é constituída por tendas, bancas ou simplesmente toalhas estendidas no chão do Campo de Santa Clara, onde é possível encontrar todo o tipo de antiguidades e objetos em segunda mão.

Apesar de serem usados, esses objetos estão, na maioria dos casos, "em bom estado e com valores bastante baixos", defendeu a feirante veterana Maria Garcías, de 62 anos.

Para esta vendedora, "não é por causa da crise" que as pessoas ali vão comprar, mas "há muitas pessoas a venderem por causa da crise".

"Há 20 anos fazia muito dinheiro na feira e já se comprava roupa, já se comprava tudo em segunda mão, não havia era tantas feiras de velharias, porque isto era um tabu, a pessoa que vinha comprar à feira tinha um certo receio que um vizinho visse", contou Maria Garcías.

Também para António Lopes, de 61 anos, ter uma banca na Feira da Ladra é um negócio que "está pior" porque se vende "menos do que se vendia há uns anos atrás".

"As pessoas já não procuram tanto e regateiam bastante, se pedimos 10 [euros], elas oferecem 5 [euros]", explicou.

Natural de Évora, António Lopes, percorre cerca de 130 quilómetros há mais de 15 anos para fazer a feira, realizando a viagem de véspera para montar a banca por volta das 06:00, onde vende "cobres, loiças, ferragens, coisas antigas, coisas que praticamente já não se fabricam".

Questionado sobre a origem dos produtos que comercializa, o feirante explicou que compra a particulares, mas por vezes há pessoas que aparecem a tentar vender-lhe alguns artigos e "se desconfiar que são roubados", não compra.

Para não estar parado e "porque as reformas não são grandes", Pedro Santos, de 72 anos, tem um espaço na feira onde vende reproduções de obras de arte de Almada Negreiros ou de José Malhoa, feitas por ele, assim como alguns bens de família que já não têm utilidade, como uma trotinete "que já passou para os netos e que agora já não dá para ninguém".

A vender peças de artesanato, Maria Martins, de 69 anos, capta sobretudo a atenção dos turistas estrangeiros, que "ficam maravilhados" com os seus trabalhos feitos em croché, com cortiça, em tecidos ou em telas.

"Vendo bem, porque também apresento peças um bocado diferentes", disse a artesã, que paga à autarquia "150 euros por mês para quatro metros" de espaço na Feira da Ladra, considerando ser "razoável".

Por viver perto da Feira da Ladra, Maria Oliveira, de 78 anos, visita com frequência o recinto, não por estar à procura de algo em concreto, mas para ver o que vai aparecendo de novo e para estar a par dos preços.

"Aqui consegue-se comprar coisas muito jeitosas e muito baratas", contou a lisboeta, referindo que há peças de roupa por 0,50 cêntimos que estão "praticamente novas". "É uma questão de procurar, é preciso ter olho", afirmou.

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