Padeira portuguesa chora perda de cliente e amigo

Mavilde Lopes Mardon chora hoje a morte do amigo polícia abatido no ataque ao jornal Charlie Hebdo, próximo da sua padaria, no cruzamento da Rua Boulle com a Rua Breguet.

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© Reuters

Lusa
08/01/2015 14:57 ‧ 08/01/2015 por Lusa

País

Paris

"A equipa dele vinha cá todos os dias tomar o pequeno-almoço, comprar croissants, pão com chocolate e vinham cá abaixo ver o meu marido porque nos conhecemos muito bem, já há anos e anos", diz a lusodescendente, dona da padaria 'Aux délices de Franck et Mavilde' há 13 anos.

O relato do que viveu é feito com o olhar avermelhado e a conter as lágrimas porque conhecia o polícia assassinado, "uma pessoa que estava sempre a perguntar se precisava de alguma coisa, a proteger os comércios".

"Tinha o número privado deles, cada vez que me acontecia alguma coisa ou precisava, telefonava e eles vinham logo", recorda Mavilde Lopes Mardon.

Mavilde tem 47 anos e deixou Chaves em direção a Paris há 34 anos. Mora no andar de cima da padaria e esta quarta-feira estava a trabalhar quando ouviu o tiroteio.

"Foi já aqui ao lado, já aqui à direita, mesmo nesta grande avenida à direita. A minha filha saiu aqui da escola, os amigos dela iam para o Boulevard [Richard-Lenoir] até porque a diretora veio buscar os pais para os meter dentro da escola. Realmente foi muito triste. Ouvia-se barulho em todo o lado, tiros em todo o lado, as pessoas a gritar", descreve, emocionada.

Ahmed Merabe, de 42 anos, patrulhava o Boulevard Richard Lenoir com um colega, de bicicleta, quando tentou intervir na fuga dos atacantes do jornal Charlie Hebdo.

O agente ficou ferido e os dois atacantes saíram do carro e foram abatê-lo.

Ainda chocada pelo que aconteceu, conta que não se atreveu a ir espreitar o que se passava na rua ao lado e que apenas hoje foi à avenida ver o local onde o polícia foi morto para colocar flores.

"São pessoas que estão aqui para proteger as pessoas. É horrível, não merecem", insiste.

"É muito triste, ontem toda a gente aqui, os clientes e nós, estávamos todos chocados porque é muito complicado, é muito triste. Ontem telefonei para a minha amiga que faz parte do grupo desse polícia que morreu e estavam chocados. É muito triste a maneira como ele morreu. Não se faz", lamenta.

Três homens vestidos de preto, encapuzados e armados atacaram na manhã de quarta-feira a sede do Charlie Hebdo, no centro de Paris, provocando 12 mortos (10 vítimas mortais entre jornalistas e cartoonistas e dois polícias) e 11 feridos, quatro dos quais em estado grave.

Um dos autores, Hamyd Mourad, de 18 anos, já se entregou às autoridades e os outros dois suspeitos, os irmãos Said Kouachi e Cherif Kouachi, de 32 e 34 anos, terão sido vistos no norte de França.

Entre as vítimas do ataque estão os cartoonistas Stéphane "Charb" Charbonnier, 47 anos e diretor da publicação, Jean "Cabu" Cabut, 76 anos, Georges Wolinksi, 80 anos, e Verlhac "Tignous" Bernard, 58 anos.

Criado em 1992 pelo escritor e jornalista François Cavanna, o semanário Charlie Hebdo tornou-se conhecido em 2006 quando decidiu voltar a publicar 'cartoons' do profeta Maomé, inicialmente publicados no diário dinamarquês Jyllands-Posten e que provocaram forte polémica em vários países muçulmanos.

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