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Crianças cantam letra obscena em escola de Ansião. Animador é brasileiro?

O vídeo com alunos menores a cantarem uma canção brasileira com letra de teor sexual foi gravado numa escola de Ansião, mas o animador é português e a festa foi promovida por uma lista candidata à associação de estudantes.

Crianças cantam letra obscena em escola de Ansião. Animador é brasileiro?

© Shutterstock

Lusa
17/10/2025 17:43 ‧ há 1 dia por Lusa

Alegação: artista brasileiro canta músicas obscenas numa escola em Portugal

 

Nos últimos dias está a ser partilhado um vídeo alegadamente gravado numa escola em Portugal que mostra um grupo de jovens e um animador a cantar e a dançar ao som de uma música brasileira cuja letra é: "solta a carta cara***, tigrinho filha da pu**, pra eu pegar o meu dinheiro e comer umas 4 pu***" seguido de "sequência de pau".

O vídeo originou críticas à escola, que não é identificada nas imagens, e ao alegado cantor brasileiro, alvo de vários comentários xenófobos (https://archive.ph/F4TaA). Numa das publicações já com perto de 100 mil visualizações no X alega-se que "esta vergonha passou-se numa escola portuguesa" e defende-se que "este lixo brasileiro não pode ter contacto com as nossas crianças": https://archive.ph/UxOTL.

Na mesma publicação promove-se também a assinatura de uma petição que defende a "proibição de músicas com conteúdo sexualizado em contextos e eventos direcionados a crianças", uma petição online lançada meses antes deste episódio e que soma mais de 15 mil assinaturas (https://archive.ph/gTusK), tendo já sido parcialmente entregue na Assembleia da República (https://archive.ph/2O48a).

Noutra publicação no Instagram (https://archive.ph/QNyB8), também divulgada no X (https://archive.ph/gUSgj), a jurista Rita Rocha insurge-se contra pais e escolas que permitem estas atuações. "Até quando é que os pais portugueses vão permitir situações como esta em que um indivíduo se apresenta dentro de uma escola e faz uma atuação para menores (...), claramente promíscua, claramente ofensiva da moral e bons costumes, do normal das famílias portuguesas, e a escola compactua e acoberta isto?", questiona.

Nos comentários destas e de outras publicações sobre o mesmo vídeo há várias pessoas que questionam se as imagens são de facto de uma escola em Portugal e da atuação de um músico brasileiro, mas nem o assistente de inteligência artificial do X, o Grok, conseguiu confirmar as várias teorias (exemplos: https://archive.ph/ox7TK, https://archive.ph/Z5WiI e https://archive.ph/dLfMg).

Factos: o vídeo é real, a escola é portuguesa e a música brasileira, mas o animador é português

Uma simples pesquisa pela letra da música revela tratar-se de um excerto do 'hit' "Resenha do Arrocha", do cantor brasileiro J. Eskine, uma espécie de 'medley' atrevido de vários sucessos musicais daquele país, numa mistura de estilos como funk, pagodão baiano e arrocha (https://archive.ph/Rz1EL e https://archive.ph/ZfXnJ).

Quanto ao local das imagens, várias pesquisas reversas por alguns dos fotogramas apresentam resultados relacionados com o vídeo original publicado no Instagram e no TikTok de um jovem DJ e animador português que assina com o nome artístico de 'Zézinho', mas após clicar nas imagens percebe-se que o vídeo já foi removido ou classificado como privado (https://archive.ph/aDTip).

No entanto, a análise das contas deste DJ nas redes sociais e pesquisas reversas mais aprofundadas permitiram também identificar que o vídeo foi gravado na Escola Básica n.º 2 de Avelar, no concelho de Ansião, região de Leiria, numa festa promovida no dia 30 de setembro por uma das listas candidatas à associação de estudantes (https://archive.ph/I1BEl).

Estas pesquisas revelaram que o vídeo também já não se encontra nas redes dessa lista, que entretanto venceu as eleições escolares, mas permitiram localizar uma versão um pouco mais longa, aparentemente extraída da conta de 'Zézinho' no TikTok antes da sua remoção. Nessa publicação no X, de 5 de outubro, já com quase 200 mil visualizações, o autor do post também critica aquela atuação "doentia": https://archive.ph/96ft7.

O vídeo circula também em diversas contas no Instagram dedicadas a 'fotocas' e vídeos virais, embora em alguns casos tenha sido removido nas últimas horas (exemplo: https://archive.ph/SfZdB).

Contraditório

A Lusa Verifica conseguiu falar com alguns elementos daquela comunidade escolar, incluindo pais, alunos e professores, mas nenhum esteve disponível para prestar declarações em 'on'. Ainda assim foi possível saber que o episódio está a causar grande desconforto e alguma surpresa pela dimensão da polémica.

Os intervenientes ouvidos pela Lusa Verifica salientam que a festa foi promovida por uma lista candidata à associação de estudantes e não pela escola, e que não foi diferente de muitas outras realizadas pelo mesmo animador em escolas de todo o país. Afirmam também que aquelas músicas são conhecidas dos alunos através da Internet, não da escola.

De facto, naquele vídeo e noutros que a Lusa Verifica identificou com músicas do mesmo tipo, são sobretudo os alunos que cantam aquelas letras de cor, o que revela que são temas populares que os estudantes conhecem bem.

No entanto, alguns pais criticam a utilização "abusiva" que este e outros artistas fazem deste tipo de vídeos gravados em estabelecimentos de ensino, dado tratarem-se de menores, e lamentam a "falta de sensibilidade" na escolha daquele tipo de repertório.

Nas páginas de 'Zézinho' nas redes sociais continuam disponíveis outros vídeos desta e de outras escolas (https://archive.ph/Tj8ja, https://archive.ph/La5x0, https://archive.ph/wVMgN) e nas redes há também vídeos deste e de outros animadores que também atuam em escolas com 'hits' internacionais e nacionais frequentemente com músicas com letras obscenas.

As músicas mais apimentadas incluem temas como 'Cavalinho (Remix)', do DJ brasileiro Pedro Sampaio, 'Tomou pisada na cabeça', de DJ B7 o Piranhão e MC Mestrão, 'Maldita de Ex', de MC Leozin, mas também há temas mais neutros, como 'FE!N', do rapper norte-americano Travis Scott - que alunos e animadores aproveitam para promover uma espécie de moche (quando num concerto os espetadores se atiram para cima uns dos outros) - e outras inocentes, como 'Sou uma taça', dos Panda e os Caricas ou 'Anel de Rubi', de Rui Veloso.

A Lusa Verifica tentou ouvir a direção do Agrupamento de Escolas de Ansião desde a tarde de quarta-feira, mas foi remetida já na manhã de quinta para a direção regional da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, que por sua vez remeteu eventuais esclarecimentos para o gabinete de comunicação do Ministério da Educação, Ciência e Inovação, organismo que ainda não respondeu.

Apesar de várias tentativas, também ainda não foi possível obter uma reação do DJ 'Zézinho', que esta semana já atuou noutras escolas. A Lusa Verifica obteve contudo informação segundo a qual o vídeo da polémica terá sido apagado das redes sociais do artista a pedido de alguns pais de alunos cujas imagens foram captadas e publicadas sem autorização.

Avaliação Lusa Verifica: Verdadeiro, mas...

O vídeo que circula nas redes com alunos menores a cantarem uma canção brasileira com letra de teor sexual é verdadeiro e foi gravado numa escola básica de segundo e terceiro ciclos do concelho de Ansião, no distrito de Leiria, mas o animador é português e a festa foi promovida por uma lista candidata à associação de estudantes, não pela escola.

Leia Também: Desinformação com IA sobre assassinato de Charlie Kirk chegou a Portugal

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