Há cerca de uma semana veio a público que três caças furtivos F-35 que os Estados Unidos venderam a Israel fizeram escala na Base das Lajes, na ilha da Terceira, nos Açores. Um tema que gerou alguma controvérsia - e até pedidos de demissão.
Na quinta-feira passada, dia 9 de outubro, o semanário Expresso questionou a embaixada de Israel em Portugal sobre se tinha garantias do Governo português para a passagem de mais aviões de combate via Lajes.
Em resposta, fonte oficial da embaixada admitiu a existência de conversas, dizendo que "tais assuntos são discutidos em salas fechadas entre as partes".
Note-se que, na semana passada, o embaixador de Israel em Portugal, Oren Rozenblat, numa entrevista à CNN Portugal, havia admitido que este tema estava a ser secretamente falado com o Executivo de Luís Montenegro.
"Estes assuntos dos caças são assuntos um pouco secretos entre os governos de Israel, Estados Unidos e Portugal. Eu prefiro não falar sobre isso", disse Oren Rozenblat.
Já esta sexta-feira, dia 10 de outubro, o Expresso avançou que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, em comunicado enviado ao semanário, desmentiu as declarações do embaixador israelita.
"A respeito da notícia publicada hoje no Expresso, o Governo português desmente categoricamente a existência de quaisquer contactos com o governo de Israel ou dos Estados Unidos da América", referiu.
Também a embaixada de Israel esclareceu a situação, notando que "o embaixador está em Israel desde segunda-feira e que a resposta dada ao Expresso estava errada, dada a ausência do embaixador". Referiu ainda que "ao contrário do que foi escrito no artigo do Expresso, na sua entrevista na CNN, o embaixador Rozenblat não disse que tinha havido discussões entre governos".
Afinal, o que aconteceu?
Na semana passada, veio a público que aeronaves israelitas tinham feito escala na Base das Lajes. O sucedido remonta ao passado mês de abril.
Tal como avançou o Expresso, num vídeo partilhado pela Island Aviation Terceira no Youtube - e que pode ver abaixo -, é possível ver os caças 967, 968 e 969 a aterrarem, a 23 de abril, na base dos EUA, localizada no arquipélago português. As mesmas terão levantado voo no dia seguinte, acompanhados por dois reabastecedores norte-americanos KC-135.
Segundo o mesmo jornal, três dias depois, a 27 de abril, a revista israelita especializada em assuntos militares Israel Defense, escrevia que a sua Força Aérea tinha recebido estes três F-35 e que os mesmos tinham feito uma escala na Europa. A fotografia que ilustrava a notícia era precisamente do avião 968, filmado dias antes na Base das Lajes.
MNE falou em "falha procedimento"
Na quinta-feira passada, de acordo com um comunicado divulgado pelo ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), tutelado por Paulo Rangel, três aeronaves norte-americanas fizeram uma escala na base açoriana das Lajes com destino a Israel, sem comunicação prévia ao Governo português, uma "falha de procedimento" sobre a qual o chefe da diplomacia portuguesa quer apurar responsabilidades.
A nota refere que esta operação teve "comunicação e autorização tácita (isto é, por decurso do prazo respetivo)" e a comunicação tinha já parecer favorável da AAN (Autoridade Aeronáutica Nacional), que depende do ministério da Defesa Nacional, tutelado por Nuno Melo.
O MNE realça que "a escala e sobrevoo de três aeronaves americanas para entrega a Israel", ocorrida em 22 de abril, não significa que "tenha sido estritamente violado o compromisso assumido pelo ministério ou pelo Governo nesta matéria", referindo-se ao embargo à venda de armas e passagem pelo território nacional de material militar para Israel, determinado pelo executivo de Luís Montenegro.
"Lamento que tenha havido um erro processual"
Já, na sexta-feira, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, salientou ter havido "um erro processual no início quando a questão foi suscitada ao ministério dos Negócios Estrangeiros".
"Lamento que tenha havido um erro processual no início quando a questão foi suscitada ao ministério dos Negócios Estrangeiros, que está neste momento identificado. Não há mais nada a dizer sobre isso", começou por dizer, em declarações aos jornalistas na Nazaré, distrito de Leiria.
"Tudo o resto foi termitação perfeitamente normal. Não percebo mesmo estas reações tão radicalizadas, a pedir demissões de ministros. Era o que faltava que o Governo encarasse decisões que são normais com este tipo de espírito", afirmou, face às críticas e pedidos de demissão pro parte de outros partidos. Montenegro acrescentou: "Estamos em campanha eleitoral, se calhar também tem a ver com isso."
"Não interviemos em ato que pudesse ser entendido como venda de armas"
Luís Montenegro, afirmou, no sábado, que Portugal não interveio "em nenhum ato que pudesse ser entendido como uma venda de armamento a Israel" depois de aviões norte-americanos terem estado na Base das Lajes, nos Açores, em abril deste ano.
"Isso já foi clarificado. A explicação e o esclarecimento que nós demos tem a ver com o facto de numa primeira reação não haver toda a informação disponível no âmbito do ministério dos Negócios Estrangeiros", começou por dizer, em declarações aos jornalistas, durante uma arruada em Chaves, no distrito de Vila Real.
E acrescentou: "Nós não interviemos em nenhum ato que pudesse ser entendido como uma venda de armamento a Israel. Isso não aconteceu. O que aconteceu foi uma escala, creio de três aviões, não propriamente de armamento militar".
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