Vários caças furtivos F-35 que os EUA venderam a Israel fizeram escala na Base das Lajes, na ilha Terceira, Açores, no passado mês de abril, o que está a gerar muita controvérsia e até pedidos de demissão do ministro da Defesa, Nuno Melo.
De acordo com o El País, foram pelo menos seis as aeronaves enviadas pela administração de Donald Trump a Israel e que fizeram escala na Base das Lajes.
Tal como avança o Expresso, num vídeo partilhado pela Island Aviation Terceira no Youtube - e que pode ver abaixo -, é possível ver os caças 967, 968 e 969 a aterrarem, a 23 de abril, na base dos EUA, localizada no arquipélago português. As mesmas terão levantado voo no dia seguinte, acompanhados por dois reabastecedores norte-americanos KC-135.
Segundo o mesmo jornal, três dias depois, a 27 de abril, a revista israelita especializada em assuntos militares Israel Defense, escrevia que a sua Força Aérea tinha recebido estes três F-35 e que os mesmos tinham feito uma escala na Europa. A fotografia que ilustrava a notícia era precisamente do avião 968, filmado dias antes na Base das Lajes.
Revela o mesmo jornal que outros três F-35 terão também passado pela ilha Terceira em março, apesar de não ser possível confirmar este movimento.
Confrontado com esta informação, o Ministério dos Negócios Estrangeiros terá começado por negar a passagem dos aviões em causa pelo arquipélago, mas depois corrigiu as declarações.
Será assim aberto um processo "de apuramento de responsabilidades", por esta matéria "não ter sido reportada ao gabinete do ministro".
Paulo Rangel assume ainda uma "falha de procedimentos", com responsabilidade remetida para uma entidade do Ministério da Defesa, tutelado por Nuno Melo, líder do CDS-PP.
Segundo o El País, a passagem dos caças pela Ilha Terceira terá sido decidida porque o governo espanhol negou a passagem armamento com destino a Israel pelo país.
Portugal não é "um apêndice dos EUA"
Entretanto, começaram a surgir algumas reações à notícia do El País e às justificações de Paulo Rangel.
O secretário-geral do PCP defendeu que Portugal não é "um apêndice dos Estados Unidos" e não pode permitir que os seus aviões aterrem em solo nacional sem autorização, considerando particularmente grave que fossem destinados a Israel.
"Portugal não é uma província da União Europeia, não é um apêndice dos Estados Unidos e Portugal não pode permitir que aviões dos Estados Unidos aterrem no nosso território sem autorização, sem informar, sem dar uma justificação que seja", declarou.
Paulo Raimundo considerou que, "fosse qual fosse o avião, viesse de que viesse dos Estados Unidos", já seria "grave por si só" que aterrasse na base das Lajes ou em Lisboa sem "informação ou sem autorização para tal".
"Mas ainda é mais grave porque os aviões que aterraram nas Lajes sem autorização e sem conhecimento do Estado português dirigem-se para as mãos daquele Governo genocida de Israel que está a levar por diante o genocídio do povo da Palestina", criticou, com as centenas de militantes que encheram o Salão de Bombeiros Voluntários de Queluz, em Sintra, a entoarem o cântico "Palestina vencerá".
Rui Tavares sugere demissão de Nuno Melo
Já o porta-voz do Livre, Rui Tavares, sugeriu mesmo a demissão do ministro da Defesa, Nuno Melo, acusando-o de "estar do lado de terroristas".
"Eu não percebo como é que Nuno Melo se pode manter como ministro da Defesa", considerou Rui Tavares, em declarações à Lusa e Antena 1, à margem de uma ação de campanha para as autárquicas de dia 12, em Lisboa.
"O Ministério dos Negócios Estrangeiros chuta a bola para a Defesa e diz que é responsabilidade da Defesa. Isto não foi conhecido antes das eleições de 18 de maio e significa que o território português foi usado para enviar aviões, talvez daqueles que estiveram a bombardear Gaza, numa operação que já merece, de muitas organizações internacionais, a designação de operação genocida e que inclui crimes de guerra", criticou Rui Tavares.
O porta-voz do Livre considerou que "está lançada a baderna e a bandalheira no Governo", com dois ministros "que não se entendem".
Depois de esta manhã Nuno Melo ter classificou como "panfletária e irresponsável" a participação de portugueses na flotilha rumo à Faixa de Gaza com ajuda humanitária, onde se inclui a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, Rui Tavares devolveu que é o centrista que "está do lado dos terroristas".
"Que Nuno Melo, que pelos vistos dá autorização a que aviões que vão fazer operações destas passem por um território português, ainda se venha pôr com lições de moral acerca de quem está com terroristas ou quem não está, quando ele está ativamente a deixar passar ou a fechar os olhos aos hábitos de terrorismo de um dos lados (...) é uma farsa de muito mau gosto", acusou.
Recorde-se que Israel trava uma ofensiva em Gaza, que já matou mais de 66.100 palestinianos, incluindo 151 crianças vítimas de fome e desnutrição, segundo as autoridades controladas pelo Hamas.
Seguiu-se ao ataque do movimento islamita palestiniano Hamas em Israel de há dois anos, que causou 1.200 mortos e 251 reféns, de acordo com as autoridades israelitas.
Israel é acusado de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, acusações que nega.
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