Segundo o estudo Media Trust.Lab 2022, mais de metade dos 308 municípios podem ser considerados em 'situação de deserto noticioso' ou a caminho de se tornarem um, ou seja, "áreas que não têm órgãos de comunicação social, mas também zonas que não têm qualquer representação mediática", explicou a investigadora à Lusa.
Na investigação que tem desenvolvido, a professora universitária explica que os jovens destas zonas consideram que o jornalismo está desatualizado, porque "não há notícias sobre a comunidade deles, pelo que procuram essa informação através das redes sociais e de contas que muitas vezes não são jornalísticas".
Para a académica, isto "cria o ecossistema perfeito para que outros intervenientes, não jornalísticos, possam aproveitar estes desertos noticiosos e cheguem mais rapidamente a estas pessoas".
Assim, "a extrema-direita tem uma comunicação de proximidade nas redes sociais que lhe traz muitas vantagens porque não há concorrentes, principalmente jornalísticos, tornando as pessoas mais vulneráveis a qualquer tipo de comunicação e desinformação", afirma.
Além disso, acrescenta Dora dos Santos Silva, os algoritmos das redes sociais "favorecem a proliferação de mensagens que geram polémica ou que são mais facilmente partilhadas, um ecossistema perfeito para espalhar desinformação".
A professora universitária explica que, em zonas de deserto noticioso, o jornalista é retratado como "corrupto, que trabalha para o Estado, um agente do Governo".
"Há uma tentativa de descredibilizar a atividade jornalística, que também é uma arma política", acrescenta.
"Todos os dias vê-se André Ventura [presidente do Chega] dizer mal dos jornalistas e se alguém é capaz de o fazer num canal televisivo, então o que diz nos comícios e bairros é muito pior. Aumentar, a teoria da conspiração é favorável", exemplifica Dora dos Santos Silva.
A investigadora explica que "se se fizer uma avaliação das estratégias de comunicação de partidos, percebe-se que os partidos mais novos, e que de certa forma se aproximam da extrema-direita, são mais eficazes a passar as suas mensagens, porque o discurso também é mais fácil".
Neste sentido, Dora dos Santos Silva questiona: "Como é que os partidos mais democratas e com um discurso mais representativo e inclusivo não conseguem chegar às pessoas, quando defendem propostas mais inclusivas para chegar à diversidade, equidade e inclusão".
Em junho, uma equipa de investigadores alertou para os riscos da desinformação da direita radical nas redes sociais na confiança na democracia e no pluralismo democrático, durante as campanhas eleitorais.
O investigador da Universidade da Beira Interior (UBI) João Canavilhas, que tem estudado a desinformação em tempo eleitoral, afirma que a grande quantidade de dados nas eleições autárquicas impossibilita a análise da desinformação.
"O número de candidatos, partidos e independentes que seria necessário acompanhar, que implicaria um grande número de recursos humanos para fazer o acompanhamento da desinformação", justifica à Lusa o investigador do LabCom - Unidade de Investigação em Ciências da Comunicação da UBI.
Nas eleições autárquicas, torna-se "muito difícil confirmar algumas afirmações e os dados que são atirados para a discussão", diz o académico, acrescentando que "há uma dificuldade em fazer a recolha de informação que permita contrastar as afirmações quando elas são de nível local".
Nas autárquicas de domingo, os eleitores vão eleger os órgãos dirigentes de 308 câmaras municipais, 308 assembleias municipais e assembleias de 3.221 freguesias.
Outras 37 freguesias vão escolher o executivo em plenários de cidadãos, por terem menos de 150 votantes.
São candidatos 618 grupos de cidadãos eleitores, além das candidaturas de 181 coligações partidárias diferentes e de 18 partidos políticos.
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