O Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Álvaro Almeida, considerou, esta quarta-feira, que "partos nas ambulâncias sempre aconteceram", notando, ainda assim, que, nos últimos tempos, têm acontecido cada vez mais.
"Os partos nas ambulâncias sempre aconteceram. Agora, a questão é saber se acontecem mais ou menos. Parece que estão a acontecer um pouco mais, estamos a analisar as razões", começou por referir em declarações aos jornalistas esta tarde em Lisboa.
E acrescentou: "Vamos criar urgências regionais, precisamente começando pela área da Obstetrícia. [...] Aquilo que nós estamos a construir é um modelo de urgências regionais que tem várias vertentes, incluindo o reforço dos transportes. Estamos confiantes com esse reforço [dos transportes]".
Álvaro Almeida referiu que a "situação poderá ser minimizada", mas que "não vão acabar os partos em ambulância porque sempre existiram".
Questionado acerca da criação de urgências regionais - e se os números de partos em ambulâncias não poderão aumentar com este modelo -, o CEO do SNS admitiu ser "uma possibilidade".
"O que nós queremos é que as crianças nasçam onde devem nascer que é nas salas de partos. Mas, nos sabemos que, na prática, isso é impossível", salientou, acrescentando que "o reforço dos transportes é um elemento chave do processo de criação de urgências regionais."
Já sobre o plano de inverno para este ano, Álvaro Almeida admitiu que não "vão acabar com picos de procura com tempos de espera elevados". "O que queremos é que sejam situações que ocorram cada vez menos".
De acordo com dados do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) enviados à Lusa, o número de partos em ambulâncias, só entre 01 de janeiro e 14 de setembro, já ultrapassou o total registado nos três anos anteriores.
Verificaram-se 25 partos em ambulâncias em 2022, 18 em 2023 e 28 em 2024, mas, até 14 de setembro deste ano, o INEM já tinha registo de 32, a que se somam mais dois assistidos pelos bombeiros da Moita nas últimas semanas.
Recentemente, numa audição parlamentar, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, referiu que este ano foram registados cerca de 150 partos em ambiente extra-hospitalar, ou seja, em ambulâncias, na rua ou em casa.
Para a Península de Setúbal, a mais crítica por falta de profissionais de saúde para completarem as escalas, o Governo pretende criar, a curto prazo, uma urgência regional de obstetrícia, com o Hospital Garcia de Orta a funcionar em permanência e o de Setúbal a receber casos referenciados pelo SNS 24 e o INEM.
Urgências regionais? Serão constituídas por equipas partilhadas entre hospitais
O Ministério da Saúde pretende criar urgências regionais constituídas por equipas partilhadas entre hospitais, dando prioridade às "especialidades mais críticas" ao nível dos recursos humanos, como a obstetrícia e a pediatria.
A medida consta do Programa do Governo, entregue no Parlamento, e que avança com a necessidade de reforçar a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no âmbito dos cuidados urgentes e emergentes, assegurando um "melhor ajustamento da rede às necessidades da população e aos recursos disponíveis".
O Governo adianta no documento que será dada prioridade às especialidades mais críticas - a obstetrícia e a pediatria -, "nomeadamente através da criação de urgências regionais constituídas com equipas de saúde partilhadas entre hospitais".
Ministra diz que urgências regionais são "determinantes"
Recorde-se que a ministra da Saúde disse, em setembro, em Coimbra, que as urgências regionais são "absolutamente determinantes" para o Estado continuar a garantir cuidados de saúde hospitalares aos cidadãos, embora com um modelo diferente nas próximas décadas.
No final do lançamento do Observatório Nacional de Saúde Global pela Universidade de Coimbra (UC), Ana Paula Martins reiterou aos jornalistas que a falta de recursos é o maior desafio do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que o Governo tem de ser capaz de "fazer uma adaptação do ponto de vista territorial e daquilo que são as diversas realidades ao longo do país".
"As urgências regionais são absolutamente determinantes para conseguirmos continuar a garantir cuidados de saúde no âmbito da urgência e emergência aos cidadãos, mas não vamos poder fazê-lo da mesma forma como até agora", sublinhou.
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