"Lembro-me de chorar e dizer para a barriga: 'A mãe ama-te na mesma'"

A clínica do Pinhal Novo que está a ser acusada de não ter detetado malformações graves num feto em 2023, também ignorou o risco de trissomia 21 numa outra gravidez.

A notícia é avançada pela SIC Notícias, à semelhança do primeiro caso - que envolve uma criança que nasceu sem parte da perna direita e com apenas dois dedos dos pés.

Segundo o que explica a emissora esta terça-feira, a menina em questão, identificada como Leonor, nasceu saudável, mas a mãe apenas soube da possibilidade de a filha não estar tão saudável quanto achava numa altura em que já não era permitido por lei abortar.

"Fiquei sempre com a sensação de que [as ecografias] eram um pouco a correr. Não permitiam acompanhantes. Era tudo muito a correr, o doutor não nos explicava o que estava a fazer", conta Tânia Correia, a mãe, à SIC Notícias, dando conta de que médico também "mal falava" com ela.

Foi quando estava grávida de 25 semanas que esta mulher ficou sem médico de família, passando a seguir seguida por um obstetra. "Quando foi verificar as ecografias que eu tinha feito disse-me: 'Nesta segunda ecografia o nariz está pequenino. Não lhe disseram nada?'", lembrou, revelando que nunca lhe foi feito nenhum "reparo sobre isso".

Segundo Tânia Correia, foi aí que o médico lhe disse que também a primeira ecografia, que despista anomalias cromossómicas, não estava bem feita. O médico, explicou sobre o exame: "Falta-lhe a ampliação certa para fazerem a medida da translucência da nuca, e assim este cálculo de risco das trissomias já não me dá confiança. Junto com o nariz pequenino ficamos com desconfiança de que pode haver uma trissomia 21".

A progenitora, que não apresentou queixa contra a clínica, mostra ainda os resultados das ecografias feitas, onde se lê que "não se observam sinais de fenda facial e as órbitas, nariz e mandíbula são aparentemente normais".

"Ficámos sem chão"

Tânia recorda ainda a reação que teve, apontando que às 25 semanas, altura em que a questão foi levantada "já não há nada a fazer, é aceitar". "Ficámos sem chão", aponta ainda.

"Lembro-me de chorar e dizer para a barriga: 'A mãe ama-te na mesma'. Foram uns dias muito duros para processar", afirmou.

Feitas novas ecografias, os resultados afastaram o diagnóstico de trissomia 21, e a mãe viu a diferença das imagens e também do tratamento: "Foi totalmente diferente. [A médica foi] Mais atenciosa, falando comigo".

À SIC Notícias, a clínica em causa disse não ter poder de fiscalização sobre ecografias feitas, recusando entrevistas.

O caso da mal formação na perna (e as queixas)

O processo da criança que que nasceu sem parte da perna decorre no Departamento de Investigação e Ação Penal de Setúbal e, recorde-se, sempre foi dito aos progenitores que tudo estava a correr bem. As mal-formações só foram detadas no momento do parto, tendo o diagnóstico chegado mais tarde: De acordo com os exames, tratava-se da forma mais grave de hemimelia do perónio direito, ou seja, do tipo II. Em causa está um condição rara, que causa a ausência total ou parcial do osso perónio (fíbula).

Segundo o que foi esta terça-feira conhecido, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) recebeu, desde 2023, oito reclamações referentes ao detentor da Clínica Ceraque, que tem uma unidade em Queluz e outra no Pinhal Novo. Quatro da queixas são referentes a 2023, duas ao ano passado e as outras duas são já deste ano.

Leia Também: ERS recebeu 8 queixas sobre detentor da clinica que não viu malformação