No Tribunal de São João Novo, no Porto, onde teve hoje início o julgamento, o suspeito - o único que quis prestar declarações - afirmou perante o coletivo de juízes ter sido "leviano" ao aceitar trabalhar por 1.500 euros num processo que envolveu o desalfandegamento de dois contentores que chegaram ao porto de Leixões, em Matosinhos, em 11 de julho de 2024.
"Assumo que dadas as circunstâncias [económicas] fui pouco cauteloso. Foi um erro que não voltaria a fazer desta forma", declarou o arguido, que, de acordo com a acusação, estava encarregado de tratar de toda a logística e organização relacionada com o desalfandegamento dos contentores e posterior armazenamento do produto estupefaciente.
Segundo o Ministério Público (MP), os quatro arguidos integravam uma associação criminosa internacional destinada à importação de cocaína do Equador, dissimulada em contentores de bananas.
Os suspeitos, três homens e uma mulher, respondem por um crime de associação criminosa e um crime de tráfico de droga agravado, após terem realizado o desalfandegamento de mais de 91 quilos de cocaína em dois contentores chegados ao porto de Leixões.
De acordo com a investigação, um dos arguidos - aquele que hoje prestou declarações - estava encarregado de tratar de toda a logística e organização relacionada com o desalfandegamento dos contentores e posterior armazenamento do produto estupefaciente, cabendo aos outros três a descarga e retirada do produto estupefaciente e transporte até a local escolhido pela organização.
Na audiência desta tarde, o arguido explicou que estava em recuperação de um cancro quando foi contactado por um amigo para ajudar com o desalfandegamento dos contentores retidos em Leixões e cujos custos já ascendiam aos 70 mil euros.
A sua participação, contou, limitava-se a reduzir estes custos, terminando quando se efetivasse a saída dos contentores que alegadamente continham bananas estragadas.
Perante o coletivo de juízes, o arguido disse não conhecer nenhum dos outros suspeitos, bem como a real natureza da mercadoria transportada, acrescentando não ter recebido os 1.500 euros devidos pelo seu trabalho.
Sublinhou ainda que abandonou o processo quando acumulou desconfiança face aos pagamentos em numerário e às pressões sobre prazos e procedimentos, tendo comunicado por mensagem que se retirava e não queria ter mais qualquer intervenção.
Toda a logística de transporte e entrega da respetiva carga ficou, segundo o arguido, ao cuidado de terceiros ligados ao importador e ao despachante oficial.
A juíza presidente confrontou o arguido com o seu envolvimento numa operação que desconhecia, questionando-o: "Como é que alguém, não conhecendo ninguém, se vai meter numa atividade que não é sua para descarregar dois contentores do Equador?"
"A sua boa vontade foi ajudar a traficar 90 quilos de cocaína. Não achou estranho receber 24 mil euros em dinheiro?", insistiu a juíza.
A droga foi localizada pela Polícia Judiciária entre 12 e 13 de agosto de 2024, oculta na carga, que acabou por ser enviada em estado de decomposição para um armazém em Paços de Ferreira.
Os quatro arguidos encontram-se em prisão preventiva.
A próxima sessão ficou agenda para 02 de outubro, pelas 09:15, prolongando-se pelo período da tarde em virtude da sessão de hoje ter começado mais de hora e meia depois da hora agendada devido a atrasos no transporte dos detidos e da tradutora.
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