Um cirurgião do Hospital de Faro pode vir a ser suspenso por um período de 40 dias por casos de negligência médica - que podem ter levado a três mortes.
O caso foi denunciado em 2023 pela, então, médica interna Diana de Carvalho Pereira, que estava a ser orientada pelo profissional em questão.
Dois anos depois, é ela que vem também dar esta novidade, numa publicação nas redes sociais, onde na descrição escreve: "Este país não é para justos nem para corajosos. É para quem alinha em ir com o rebanho. Como nunca fui aspirante a ovelha, por cá continuo a caminhar, enquanto houver energia, tempo, dinheiro e acima de tudo, esperança."
Nas fotos que partilha, está uma página da deliberação da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), onde é proposto à ULS do Algarve que o cirurgião em causa seja suspenso durante 40 dias, e perca não só o vencimento, como a antiguidade.
Nas conclusões, a IGAS considera que o cirurgião violou não só os seus deveres deontológicos, como também, as boas práticas clínicas.
"Dá-se assim como provado que, com a sua conduta a título negligente, o arguido violou assim os deveres gerais e especiais que lhe foram imputados, e consequentemente incorreu nas infrações disciplinares", concluiu o inquérito.
Ao todo, a IGAS dá razão à denúncia de Diana Pereira em cinco casos distintos. Tinham sido referidos 11.
"Quanto vale a saúde de alguém? Aqui tem a resposta: 8 dias", apontou na publicação.
Cirurgião terá feito castrações acidentais, causado a perda de rins e até a morte
O inquérito surgiu na sequência de uma queixa efetuada pela médica interna na Polícia Judiciária sobre "11 casos ocorridos entre janeiro e março" no hospital de Faro de "erro/negligência" no serviço de cirurgia.
Segundo a médica, dos casos relatados de 11 doentes, "três morreram, dois estão internados nos cuidados intermédios, os restantes tiveram lesão corporal associada a erro médico, que variam desde a castração acidental, perda de rins ou necessidade de colostomia para o resto da vida".
Uma colostomia é uma intervenção cirúrgica onde é criada uma abertura na parede abdominal, que liga o intestino grosso a um armazenamento exterior, com o objetivo de recolher as fezes do paciente fora do corpo do mesmo.
O caso de alegada negligência - a que a IGAS veio dar, em parte, razão - foi tornado público por Diana Pereira nas redes sociais da própria, e acabou por levar à abertura de inquéritos na IGAS, na Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e no Ministério Público.
Mais tarde, em conferência de imprensa, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, adiantou que este caso tem de ser avaliado de forma mais aprofundada, porque "há indícios de alguma gravidade".
Em comunicado enviado à Lusa, o Ministério da Saúde garantiu também que, na altura, não tinha recebido nenhuma denúncia de alegadas más práticas no Centro Hospitalar Universitário de Faro (CHUA).
Mas, perante as informações da comunicação social, o "ministro da Saúde [à época, Manuel Pizarro do PS] definiu como orientação ao Conselho de Administração do CHUA a solicitação à OM da realização de uma avaliação pericial sobre a qualidade do serviço de cirurgia do Hospital de Faro", referiu o ministério.
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