"Não meti dinheiro ao bolso. Não confunda os meus bolsos, porque julgamos muitas vezes os outros à nossa medida", disse, em tom exaltado, o ex-governante ao ser questionado pelo procurador Rómulo Mateus sobre os programas públicos do país sul-americano para a construção de casas, num comentário que valeu uma advertência da presidente do coletivo de juízes que está a julgar a Operação Marquês.
Antes, Susana Seca tinha impedido o magistrado do Ministério Público de fazer perguntas sobre as transferências sob suspeita, lembrando que ficou acordado que tal será tratado num momento posterior do interrogatório ao chefe de Governo entre 2005 e 2011.
Na manhã do sétimo dia de depoimento, dedicada a pedidos de esclarecimento sobre o Lena, José Sócrates reiterou, confrontado com vários 'e-mails' entre terceiros, que não acompanhou nem teve qualquer intervenção na escolha do grupo para a construção de milhares de casas de natureza social na Venezuela.
"O que vejo aqui é um comportamento diligente de um Governo que tinha como linha política a diplomacia económica", defendeu, acrescentando que não houve "nenhum favorecimento" ao grupo Lena.
José Sócrates contrapôs que o "grande projeto a que ligava" era o do computador Magalhães, no âmbito do qual, reconheceu, teve uma intervenção e lidou com o então presidente venezuelano Hugo Chávez.
O antigo primeiro-ministro, de 67 anos, está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES), e o empreendimento Vale do Lobo, no Algarve.
No total, o processo conta com 21 arguidos, que têm, em geral, negado a prática dos 117 crimes económico-financeiros que globalmente lhes são imputados.
O julgamento decorre desde 03 de julho, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.
Leia Também: TGV? Sócrates acusa MP de basear alegada corrupção em "posição política"