"Sol, mar, gastronomia e paisagens de cortar a respiração. Portugal é, há muito, um dos destinos preferidos da Europa e o verão é o seu palco principal. Todos os anos, milhões de pessoas chegam às nossas praias, vilas e cidades à procura de experiências únicas. Mas há uma pergunta que começa a pairar, discretamente, nas malas dos viajantes e nas estratégias dos destinos turísticos: como tornar o turismo mais sustentável sem perder autenticidade? A resposta pode estar onde menos se espera: no lixo. Ou melhor, nos resíduos que produzimos todos os dias e que podem ser transformados em energia limpa.
Imaginemos um hotel no Algarve onde os restos do pequeno-almoço ajudam a aquecer a água dos duches ou um restaurante em Lisboa onde o óleo da fritura se transforma em combustível para abastecer a frota de transferes. Pode soar estranho, mas é, na verdade, a base da bioenergia avançada.
Esta utiliza resíduos, como óleos alimentares usados, gorduras animais, borras de café ou restos de comida, para produzir biocombustíveis líquidos e gasosos, como é o caso do biometano, com capacidade real para descarbonizar setores como os transportes e a hotelaria. Em vez de enviar toneladas de resíduos para aterro ou esgotos, dá-lhes uma segunda vida, poupando emissões, água, energia e dinheiro.
E aplicado a este contexto, pode mesmo ser uma vantagem benéfica. Não é preciso reinventar o turismo, apenas repensá-lo. A bioenergia pode ser aplicada a qualquer divisão dos hotéis, hostels, Airbnb’s, até mesmo no conforto dos nossos lares. E, ao contrário de outras soluções renováveis que exigem grandes investimentos ou infraestruturas complexas, esta energia adapta-se ao que já existe. É uma transição energética sem fricção.
Além disso, há que considerar que, cada vez mais turistas procuram destinos com um forte pendor ambiental. Querem saber de onde vem o que consomem, como se gere o que sobra e que impacto têm as suas escolhas. Sustentabilidade já não é uma palavra da moda, mas sim um critério de escolha, uma vantagem competitiva e uma história que se conta com orgulho. Em muitos casos, pode mesmo ser o fator decisivo na escolha de um destino para umas férias.
A bioenergia avançada pode ser o elo que faltava entre aquilo que Portugal tem de melhor - a sua hospitalidade, gastronomia e natureza - e aquilo que o futuro exige: neutralidade carbónica, circularidade e inovação.
Neste verão, quando subir a bordo de um transfer, pedir um prato típico ou dormir num eco-hotel, pense nisto: talvez parte da energia que está a usar tenha sido colhida dos próprios momentos que tornam o turismo memorável. Porque viajar com energia é viajar com consciência."