A Câmara Municipal do Montijo não proibiu a realização do concerto do 'rapper' brasileiro Oruam, agendado para sábado, 21 de junho, no Montijo Arena, devido a um alegado abaixo-assinado de moradores descontentes.
A iniciativa realizou-se, mas teve de mudar de local porque o promotor não cumpriu as condições contratualizadas.
Alegação: "'Rapper' Oruam é proibido de atuar no Montijo pela câmara municipal" porque "a população realizou um abaixo-assinado"
Na noite de sábado, a conta nacionalista 'Resistência Lusitana' fez uma publicação na rede social X a afirmar que o 'rapper' brasileiro Oruam foi "proibido de atuar no Montijo pela câmara municipal" porque "a população realizou um abaixo-assinado que impediu a atuação do cantor brasileiro de funk". A mesma conta acrescentava: "o povo Portuguez está farto", linguagem e ortografia habituais entre a extrema-direita nacionalista.
Na manhã de domingo, outra conta nacionalista reforçou essa narrativa, afirmando que "os portugueses fizeram um abaixo-assinado que impediu a atuação do cantor brasileiro" no Montijo e que "em Portugal mandam os Portugueses".
Ao final da tarde desta segunda-feira estas duas publicações no X já tinham ultrapassado 1 milhão de visualizações e continuavam a ver o seu alcance amplificado através de contas nacionalistas brasileiras em várias redes sociais além do X, críticas do artista.
Oruam, nascido Mauro Nepomuceno, é filho de um dos líderes da organização criminosa Comando Vermelho e envolveu-se recentemente em duas polémicas com as autoridades portuguesas, nomeadamente com agentes da GNR em Alcochete e no Algarve (exemplo via Jornal Polígrafo), mas já atuou várias vezes em Portugal.
Factos: Não houve qualquer abaixo-assinado e o local do concerto foi alterado devido ao incumprimento das obrigações legais por parte do promotor
Diversas análises OSINT (inteligência de fontes abertas) não revelaram a existência de qualquer abaixo-assinado ou iniciativa cidadã contra o concerto deste cantor brasileiro. Revelaram, no entanto, que, nessa noite de 21 para 22 de junho, o cantor Oruam atuou na discoteca Velho Texas, no Seixal, e no espaço Lisboa ao Vivo, em Lisboa, sem registo de incidentes.
Ou seja, é um facto que o concerto não se realizou na Praça de Touros Amadeu Augusto dos Santos (Montijo Arena), como esteve anunciado nas redes do promotor até pelo menos dia 18, mas nada aponta para a existência de um movimento de moradores contra o concerto.
Em resposta escrita ao Lusa Verifica, a Câmara Municipal do Montijo confirma que "não tem conhecimento de qualquer abaixo-assinado e não teve intervenção no cancelamento do espetáculo em questão."
Segundo o gabinete de comunicação da autarquia, "a câmara 'foi informada por e-mail, assinado por Ilídio Massacote, Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Montijo, no dia 18 de junho, do cancelamento do espetáculo previsto para dia 21 (...) devido ao 'não cumprimento das obrigações legais e regulamentares expressamente comunicadas e acordadas...' por parte da produtora."
Esta versão é confirmada pela Santa Casa da Misericórdia do Montijo, a entidade que gere o Montijo Arena. Fonte do gabinete de comunicação explicou à Lusa que a decisão prendeu-se com o incumprimento das obrigações impostas por algumas das entidades consultadas, que incluíram os bombeiros, a PSP ou o INEM, e que teriam procedido da mesma forma perante qualquer outro promotor.
"Essas entidades emitiram pareceres favoráveis condicionados ao cumprimento de um conjunto de condições que não foram asseguradas até ao final da semana, incluindo a contratação de serviços de segurança especializados junto da PSP, dado tratar-se de um evento de risco, razão pela qual foi comunicado ao promotor que teria de cumprir esses requisitos, caso contrário não poderia utilizar aquele espaço", explicou a mesma fonte.
A Lusa tentou ouvir o responsável pela Bacha Produções, Vítor Bacha, mas não obteve resposta.
Conclusão da Lusa Verifica: Falso
A verificação de factos da Lusa conclui que é falsa a narrativa que circula nas redes sociais sobre a alegada proibição do concerto do cantor Oruam por parte do município do Montijo em resultado de um abaixo-assinado de moradores. Não só a autarquia alega não ter tido qualquer intervenção no processo, como a entidade detentora do espaço, a Santa Casa do Montijo, explica que o promotor foi forçado a encontrar outro local porque não cumpriu as obrigações contratuais e legais para aquele tipo de evento.
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