O dermatologista do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que recebeu 407 mil euros em 10 sábados de trabalho, esteve de baixa durante vários meses no último ano, revela, esta quinta-feira, a TVI.
O caso que está a chocar o país e já levou à abertura de uma investigação por parte do IGAS e de um inquérito por parte do Ministério Público (MP) está a ganhar contornos cada vez mais inusitados.
De acordo com a TVI, o presidente do Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria, Carlos Martins, confirmou que Miguel Alpalhão recebeu efetivamente 406.930,06 euros em apenas 10 sábados.
Valor este faturado apenas nos primeiros nove meses de 2024, uma vez que, de outubro a dezembro, o médico esteve de baixa.
E este ano não é único: em 2023, Miguel Alpalhão trabalhou apenas quatro meses e esteve o resto do ano de baixa. Ou seja, em dois anos, o dermatologista esteve quase um de baixa.
Como nota o canal de televisão de Queluz, o absentismo de Miguel Alpalhão faz com que se torne ainda mais difícil de compreender como pôde o médico perfazer horas de trabalho suficientes para realizar tantas cirurgias adicionais.
O presidente do Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria garante que o caso não vai ficar por aqui e diz que está à espera de receber novos dados para serem tomadas decisões. Caso as respostas não sejam claras, admite afastar os diretores envolvidos no caso, que lesou financeiramente o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Ainda segundo a TVI, há uma "rede de cumplicidades entre o auditor, que não detetou qualquer irregularidade na codificação destas cirurgias, e o diretor do serviço de dermatologia, que é o chefe direto de Miguel Alpalhão".
E quem aprovou as cirurgias?
Paulo Filipe é o responsável pelo serviço de dermatologia do Santa Maria e quem aprova tudo o que tenha a ver com esse departamento médico - incluindo as cirurgias adicionais de Alpalhão ao sábado. Ao mesmo tempo, este médico é consultor da Comissão de Farmácia e Terapêutica do Santa Maria, na área da dermatologia, ou seja, quem aprova tudo o que é medicamentos inovadores ou mais caros a qualquer médico da área.
A decisão final cabe depois ao presidente da Comissão de Farmácia e Terapêutica, Carlos Moreira, que é também responsável pelo gabinete de codificação da Unidade Local de Saúde (ULS) de Santa Maria.
Segundo a TVI, Carlos Moreira é também o diretor do Departamento de Medicina e Adjunto da Direção Clínica e foi ele que realizou a codificação feita no ano passado.
Recorde-se que o MP abriu um inquérito ao caso, depois da TVI ter noticiado que Miguel Alpalhão teria recebido 51 mil euros em apenas um dia de trabalho no Hospital de Santa Maria e mais de 400 mil em 10 sábados de trabalho adicional, em 2024, tendo um dos dias sido utilizado para retirar lesões benignas aos pais.
Em causa está o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), que permite fazer cirurgias fora do horário laboral, de modo a mitigar as longas filas de espera nos hospitais.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) também abriu esta segunda-feira um inquérito à atividade cirúrgica adicional realizada no SNS, assim como uma auditoria aos factos relacionados com a atividade cirúrgica realizada em produção adicional e classificação dos doentes em grupos de diagnósticos homogéneos (GDH), no Serviço de Dermatologia da Unidade Local de Santa Maria, desde 2021 até ao momento.
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