Um médico dermatologista do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, ganhou cerca de 400 mil euros em dez sábados de trabalho adicional ao longo de 2024 - em média 40 mil euros por dia -, tendo beneficiado do SIGIC - Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia que permite fazer cirurgias fora do horário laboral para mitigar as filas de espera.
Segundo a notícia avançada pela CNN Portugal, houve um dia em que o médico ganhou mais de 51 mil euros e, em 2023, usou o SIGIC para retirar lesões benignas aos pais.
O presidente do Hospital de Santa Maria, Carlos Martins, garantiu que, "se existisse alguma situação anormal, ela seria reportada ou detetada". Ainda assim, decidiu pedir a suspensão, já a partir deste sábado, das cirurgias em programa adicional.
"O médico em causa não ganhou 400 mil euros em 10 dias. Isso era impossível. Digo-lhe que todos os sinais de alarme disparavam", disse, frisando que há "vários momentos de controlo" num SIGIC.
O presidente do hospital pediu à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) para investigar - e determinou uma auditoria internada.
IGAS abre inquérito ao Hospital de Santa Maria
O IGAS abriu um inquérito, na segunda-feira, ao serviço de dermatologia do Hospital de Santa Maria, sendo que, ao mesmo tempo, vai também lançar uma auditoria a 39 unidades locais de saúde do país e aos três institutos portugueses de oncologia (IPO) para avaliar a forma como controlam a atividade cirúrgica adicional, a classificação de doentes, entre outros aspetos.
Ordem dos Médicos "enviou ofício à ULS Santa Maria a pedir explicações"
Já o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, revelou que a Ordem dos Médicos teve conhecimento da situação através da reportagem televisiva da CNN Portugal e que, no sábado, "enviou um ofício à ULS Santa Maria a pedir explicações sobre a situação".
"Sabemos que envolve várias classes profissionais, não são só médicos. Há outros profissionais também envolvidos e a Ordem dos Médicos vai aguardar a resposta do hospital para, se for o caso, desenvolver os mecanismos internos de que dispõe para estas situações", afirmou.
Caso do dermatologista? "Em nada abona na confiança dos portugueses", diz ministra da Saúde
A ministra da saúde, Ana Paula Martins, salientou que "até as averiguações serem feitas, reside sobre a instituição, neste caso o maior hospital do país (...) uma suspeita que em nada abona na confiança dos portugueses, sobretudo daqueles que aguardam numa lista de espera por ter uma cirurgia ou por ter uma consulta".
Ana Paula Martins notou ainda que deseja que "as responsabilidade sejam apuradas e, de uma forma transparente, aquilo que verdadeiramente se passou seja comunicado ao povo português".
O Exclusivo TVI, do mesmo grupo da CNN Portugal, noticiou que teve acesso a uma deliberação do conselho de administração do Hospital de Santa Maria que, há meio ano, determinou a suspensão dos pagamentos das cirurgias adicionais de dermatologia de severidade intermediária.
Nessa deliberação é visível que o médico dermatologista em causa, Miguel Alpalhão, recebeu mais de 370 mil euros até outubro de 2024.
De acordo com a TVI/CNN Portugal, a deliberação mostra que o conselho de administração do Hospital de Santa Maria tinha conhecimento dos gastos há pelo menos seis meses.
[Notícia atualizada às 09h28]
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