A denúncia foi feita na página da Divergente na rede social Instagram, na qual a revista digital de jornalismo narrativo atribui à Junta de Freguesia de Arroios uma "atitude inexplicável de autoritarismo" e considera que o executivo liderado por Madalena Natividade (coligação Novos Tempos, eleita pelo CDS-PP) "está a boicotar o arraial dos santos populares", em frente à sua sede, na Rua de Arroios.
Contactada pela Lusa, a Junta de Freguesia de Arroios rejeita a acusação e, em resposta escrita, diz que "o parecer desfavorável emitido este ano resultou de fatores relacionados com segurança e logística, nomeadamente devido à realização de obras significativas no local durante o período previsto para o evento".
A zona da Rua de Arroios, onde se situa a sede da Divergente, "encontra-se diretamente abrangida pelas intervenções, o que compromete as condições de circulação, instalação de estruturas temporárias e, sobretudo, a segurança de participantes e moradores", acrescenta.
A equipa da Divergente, projeto de jornalismo sem fins lucrativos, soube em fevereiro que a Rua de Arroios ia sofrer obras e que, de acordo com o plano, esses trabalhos poderiam estar à porta da sua sede em junho.
Por isso -- e apesar de não terem sido avisados das obras, segundo a editora executiva da Divergente, Sofia da Palma Rodrigues --, pediram uma reunião à junta, que aconteceu no início de março, na qual apresentaram "uma proposta com uma série de espaços alternativos" para garantir o arraial.
"Mas não nos ajudaram em nada", conta a jornalista à Lusa.
De acordo com a resposta da junta, algumas das alternativas sugeridas "foram inviabilizadas por já estarem comprometidas, como é o caso do Largo do Intendente", e "outras pela sua impossibilidade natural, como o Mercado de Arroios, que não recebe eventos noturnos, ou o Campo Mártires da Pátria Norte, onde outrora já o Instituto da Conservação da Natureza tinha recusado".
A junta refere ter sugerido o Jardim do Caracol, espaço que é gerido pela Câmara Municipal de Lisboa.
A recusa de licença para o arraial chegou no final de abril, apesar de as obras continuarem "no sítio onde estavam antes não terem avançado nada", segundo relata Sofia da Palma Rodrigues.
Acresce que, na semana passada, a Divergente soube que o vizinho Clube Atlético de Arroios, "que tem já obras à porta, ia ter licença" e enviou "novo pedido, com toda a documentação" exigida.
A junta distingue que, "no caso do Clube Atlético de Arroios, embora situado na mesma rua, o troço em causa terá já as obras concluídas à data do evento" e garante que, "ainda assim, e de forma preventiva, foram exigidas condições de segurança adicionais, nomeadamente o reforço do policiamento".
Sofia da Palma Rodrigues sublinha que ficou "contente com a licença dada ao Clube Atlético de Arroios", mas não percebe "a inviabilização" do mesmo pedido feito pela Divergente.
Para a jornalista, "não há interesse em que se realize um arraial que tem uma programação alternativa", juntando pessoas que "não vão ao encontro daquilo que a junta de freguesia acha que devem ser os santos populares".
Realçando que valoriza as tradições populares e culturais da comunidade, a junta assegura que "todas as decisões foram tomadas com base em critérios técnicos, respeitando os princípios de equidade e segurança".
Após a publicação feita no Instagram, entretanto reportada pela comunicação social, a Divergente recebeu hoje uma convocatória da Junta de Arroios para uma reunião, na próxima quarta-feira, às 10:00.
"Respondemos que vamos, mas salientámos que não pedimos uma reunião, mas uma resposta ao novo pedido de licença, dado o pouco tempo até aos santos", realça Sofia da Palma Rodrigues.
A editora da revista digital disse ainda que "há anos em que não faria tanta diferença" a não realização do arraial, "mas 11 mil euros [receita angariada no último] é o que nos permitirá estar aqui, seria o colchão para garantir a renda o ano inteiro".
"A nossa situação financeira é grave: neste momento, só conseguimos manter a nossa equipa, tal como existe, até junho", alertava a Divergente, num email posto a circular recentemente, no qual pediam contribuições.
"O Arraial dos Santos Populares financia parte importante do nosso jornalismo: é essencial para pagarmos a renda anual e outras despesas fixas. Sem a sua realização, ficaremos numa situação económica ainda mais dramática", lê-se na publicação mais recente no Instagram, na qual a Divergente incita os apoiantes a escreverem ao executivo de Madalena Natividade.
A Junta de Freguesia de Arroios diz manter "total disponibilidade para colaborar com a revista Divergente", mas em "futuras edições do arraial".
Leia Também: Todos os imigrantes já foram retirados de restaurante em Arroios