"O que pretendem [os opositores que estão a concorrer nestas eleições] é ganhar algum espaço. Não vão conseguir nenhum poder, mas sim submissão, vão ter de se submeter às indicações do Governo venezuelano. O regime [do Presidente venezuelano, Nicolás Madruo] não lhes vai dar nada", declarou Élio Pestana, presidente da Associação Luso-Venezuelana de Cooperação e Desenvolvimento (ALUSVEN), com sede em Espinho.
Mais de 21 milhões de eleitores - entre os 31 milhões de habitantes do país - vão às urnas no domingo para eleger 285 membros da Assembleia Nacional e 24 governadores, além de autarcas e conselheiros municipais.
A maioria da oposição, liderada por María Corina Machado, não vai participar nas eleições de domingo. Entretanto, o candidato a deputado Henrique Capriles, que já concorreu à Presidência por duas vezes, reuniu parte dos opositores venezuelanos que estão convencidos de que a participação nestas eleições é essencial.
"Votar é uma ferramenta de mudança, de luta, de resistência", declarou recentemente Juan Requesens, candidato ao governo do estado de Miranda, onde se situa parte de Caracas.
Capriles candidatou-se a deputado após a súbita revogação da sua inelegibilidade de 15 anos imposta em 2017, uma arma frequentemente utilizada pelo Governo venezuelano para afastar os seus adversários. O ex-governador de Miranda disse que a reversão da sua inelegibilidade foi "surpreendente", mas parte da oposição acusa-o de ter negociado com o Governo.
"É mesmo muita coincidência ter a revogação da sua inelegibilidade agora", disse Pestana, um luso-venezuelano, que está em Portugal há 23 anos e que faz parte da equipe de apoio a María Corina Machado e Eduardo González Urrutia, candidato presidencial da oposição nas presidenciais de julho de 2024, que se encontra exilado em Espanha.
Segundo Pestana, "as eleições de domingo não deveriam sequer estar a acontecer, pois o processo relativo às eleições presidenciais de 28 de julho ainda não foi encerrado".
A oposição afirma que houve fraude eleitoral nas presidenciais de 2024 que reelegeram Nicolás Maduro - que teve a sua vitória posteriormente confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça venezuelano.
A comunidade internacional exigiu a apresentação das atas da votação eleitoral para confirmação dos resultados, situação que ainda não aconteceu, pois a autoridade eleitoral diz que sofreu um "ataque informático".
Para a oposição, o candidato opositor Eduardo González Urrutia foi o vencedor das presidenciais com mais de 67% dos votos.
"O mais relevante aqui é apesar das condições deles, com as regras deles, nós ganhámos e demonstramos que ganhámos. E isso, para o Governo, é uma revolta que não conseguiram ultrapassar", afirmou Pestana sobre as presidenciais de 2024.
O presidente da ALUSVEN lamentou também o atual estado económico do país que levou muitas pessoas "a passarem grandes necessidades, não terem o que comer nas suas casas", além da enorme imigração de venezuelanos para outros países.
Especialistas ouvidos pela BBC preveem uma inflação acima dos 200%, uma descida de 20% das exportações de petróleo e uma retração económica de 2,05% no final de 2025.
A reforma constitucional preparada pelo Governo também provocou medo nos mercados e assustou eventuais investidores. Este mês, Maduro decretou "emergência económica", que seu governo atribuiu ao impacto que terão o endurecimento das sanções internacionais à Venezuela e as tarifas impostas nas últimas semanas pelo Governo norte-americano.
Há mais de uma década que a Venezuela enfrenta uma crise, que segundo os especialistas, fez o país perder 80% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em oito anos consecutivos de recessão, entre 2014 e 2021.
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