Apontando a falta de professores como o "problema mais visível da Educação em Portugal", Mário Nogueira disse que "deveriam ser responsabilizados os que, por negligência ou dolo, não atuaram no tempo devido", recordando os muitos alertas da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), que era então acusada "de ficcionar problemas para gerar instabilidade".
"Indiferentes aos alertas, os governantes agravavam horários de trabalho e alteravam currículos com o único intuito de reduzir o número de docentes", disse Mário Nogueira, um dos oradores da cerimónia de abertura do 15.º Congresso da Fenprof, que começou hoje e termina no sábado, véspera das eleições legislativas, um assunto que também não foi esquecido.
"Já que estamos a dois dias de eleições, que ninguém se deixe enganar por discursos de liberalização da Educação que vendem uma alegada liberdade de escolha, reduzindo o papel do Estado a mero regulador. A liberdade de escolha, bandeira do neoliberalismo, não é mais do que uma tentativa de tornar gratuita ou quase a escolha elitista de algumas famílias e seletivas de alguns colégios, à custa da degradação da escola de todos", afirmou.
A falta de professores e o subfinanciamento do setor foram dois dos problemas apontados pelo ainda líder, que voltou a apresentar números para justificar esta realidade: Entre 2007 e 2024, as verbas para a Educação aumentaram 16,9%, enquanto a inflação foi de 32,65%.
Numa despedida de secretário-geral, mas com a promessa de se manter na federação que tem cerca de 50 mil associados, Mário Nogueira disse que a Fenprof é uma "organização reconhecida e respeitada", que conta com "apoios e ódios de estimação".
Em vésperas de eleições, Mário Nogueira repudiou ainda os discursos sobre imigração "marcados pelo ódio" em relação aos que "fogem da guerra, do terrorismo e de perseguições, que trabalham e que procuram uma vida melhor do que a que tinham nos países de origem".
A manhã foi ainda marcada por uma homenagem aos palestinianos, com a presença da Embaixadora da Palestina, que agradeceu a atenção dada pelos professores ao que se passa na Faixa de Gaza.
Centenas de docentes de todo o país reunidos em Lisboa para debater o futuro da profissão defenderam a libertação da Faixa de Gaza gritando "Palestina Vencerá", numa reivindicação a que se juntaram docentes convidados de todo o mundo.
Manuela Mendonça, presidente do Conselho Nacional da Fenprof, lembrou uma declaração recente da Amnistia Internacional, que denunciou "o inferno de morte e destruição em que Israel transformou Gaza" e insistiu que "Gaza é o território mais perigoso do mundo para as crianças".
Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou uma mensagem vídeo saudando o 15.º congresso da Fenprof, associação à qual reconheceu a importância na vitórias de várias lutas como a da recuperação do tempo de serviço congelado durante a Troika.
O Presidente da República lembrou que ensinar é "mais do que uma profissão, é uma vocação, é uma missão" e agradeceu a dedicação de Mário Nogueira à defesa dos direitos dos professores.
Também David Edwards, secretário-geral da Internacional da Educação, saudou o trabalho de Mário Nogueira: "Em nome de todos os colegas de todo o mundo agradeço o teu trabalho que nos tem inspirado", afirmou.
"Admiro profundamente a sua visão estratégica" e o compromisso "com a justiça social e direitos humanos", acrescentou, lembrando que "sem docentes não há escola e sem escola publica não há democracia. Merecemos respeito e um salário digno".
O 15.º Congresso da Fenprof, que terá como um dos pontos altos a eleição dos dois novos secretários gerais -- Francisco Gonçalves e José Feliciano Costa -- começou esta manhã com um concerto da Orquestra dos alunos da Escolas Luís António Verney, de Lisboa.
O concerto terminou com os presentes a aplaudir de pé e a gritar "A cultura é um direito, sem ela nada feito".
"É isto que deve orgulhar o nosso país: uma escola pública", sublinhou ainda Mário Nogueira.
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