"Vimeiro escuta, trabalhadores estão em luta" e "a luta continua, na empresa e na rua", gritaram os trabalhadores concentrados, que ergueram também uma faixa onde se lia "Erradicar a precariedade, mais tempo para viver, mais e melhor contratação coletiva".
Já a empresa esclareceu, em comunicado, que dos cerca de 60 trabalhadores, oito aderiram à greve, dos quais três são dirigentes sindicais, números que "demonstram de forma inequívoca que a grande maioria dos trabalhadores não se identifica com os motivos invocados para a paralisação".
Na concentração dos trabalhadores, o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, disse aos jornalistas que "o que está em causa nesta greve tem muito a ver com o posicionamento da empresa com pressão constante, assédio, repressões e ameaças diárias com um palavreado que não é admissível nos dias de hoje".
A EAV "mantém total disponibilidade para o diálogo sério e construtivo, mas não pode aceitar formas de coação nem greves utilizadas como resposta a processos internos legítimos e específicos".
A greve foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias da Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB).
O dirigente sindical Rui Matias admitiu que, nesta primeira paralisação na EAV, os trabalhadores "têm medo de fazer greve, mas a necessidade de fazer é muita".
Ainda que sem dados da adesão à greve, Rui Matias adiantou que "os trabalhadores dentro [da empresa] são muito poucos, porque alguns estão de férias ou meteram dias para não estarem cá" no dia da greve.
"Estamos no século XXI e estamos a fazer uma greve para pedir respeito e dignidade, parece que o 25 de Abril aqui ainda não passou", sublinhou, apelando à intervenção da ministra do Trabalho e da presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras.
Ruben Marques, que trabalho na empresa há 12 anos e delegado sindical, disse que os trabalhadores são obrigados a transportar à mão garrafões de 20 quilogramas, quando essa linha de produção devia ser mecanizada.
"Nas duas horas em que está sozinho na linha, um trabalhador transporta 5.600 quilogramas", concretizou.
"Há pessoas com lesões que estão de baixa e a serem acompanhadas pelo seguro e temos colegas com mais de 30 anos que tiveram de sair por não aguentarem mais", afirmou, acrescentando que os "trabalhadores que reclamam é que passam aí mais tempo" como forma de "castigo".
Luciana Abrantes, trabalhadora há seis anos, lembrou que há discriminação no subsídio de turno.
"Ganho 44,75 euros de subsídio de turno, quando a maioria ganha 100 euros e acho injusto. A empresa alega que não há verbas, mas há dinheiro para comprar equipamentos ou para pagar o subsídio de eficiência, que é de 100 euros para as chefias e de 50 para os outros trabalhadores", explicou.
Às várias queixas, Filipe Ribeiro, trabalhador há três anos e delegado sindical, juntou a imposição pela empresa da hora de almoço entre as 10h00 e as 13h00, quando os trabalhadores entram às 07h00 e saem às 16h00.
"Sempre que demonstramos o nosso descontentamento, somos convidados a sair", disse.
Segundo a EAV, "alguns dos motivos invocados, como a alegada desvalorização profissional ou a recusa da chamada polivalência, correspondem a recusas individuais de formação e de flexibilidade funcional, que contrastam com o comportamento da maioria dos trabalhadores, que têm demonstrado profissionalismo e disponibilidade para a aquisição de novas competências".
A administração da empresa acusou o SINTAB de "instrumentalizar os trabalhadores, convocando uma greve assente em interesses próprios dos seus representantes [ligadas a situações laborais de cada um deles] e não em reivindicações legítimas da generalidade dos colaboradores".
Já o SINTAB acusou administração da empresa de atacar dirigentes e delegados sindicais, "na tentativa de os amedrontar e desmobilizar a sua capacidade agregadora pelos direitos e pela legalidade", instaurando processos disciplinares a alguns deles.
[Notícia atualizada às 17h21]
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