Miguel Pinto, jornalista de profissão, foi diagnosticado com leucemia linfática crónica em 2021, e está agora a acusar legalmente o Hospital Lusíadas Porto, do Grupo Lusíadas, de ter ignorado sinais da doença ao longo de quase uma década.
A história é contada pelo jornal Público, que teve acesso ao processo judicial, e que diz que o homem começou a fazer um 'check-up' anual, no grupo Lusíadas, quando fez 50 anos, porque tem familiares com problemas cardíacos e um historial de colesterol.
Aos 59 anos, e para sua "surpresa", foi diagnosticado no hospital Santos Silva, em Vila Nova de Gaia, com a doença.
Após analisar os resultados de exames que fez, reparou que "eram mencionadas sombras nucleares de Gumprecht". “Isto não pode surgir de um dia para o outro, subitamente. Todos os anos tinha feito análises. O médico recebia os resultados, dizia-me que não tinha nenhum problema de saúde. Ele mostrava muita proactividade e ser bastante zeloso", disse o homem ao Público.
Depois da descoberta, e uma vez revisitados os resultados de análises anteriores, percebeu que os valores dos linfócitos surgiam superiores ao normal, e "sempre a subir" desde, pelo menos, 2017.
“Ao fim de vários anos com valores alterados qualquer médico diria que havia ali qualquer coisa e iria investigar. Há aqui uma discussão técnica sobre o conceito de negligência médica, na qual eu não entro, porque não sou médico. O que sei é que tenho uma doença e o hospital não me disse”, lamentou.
Segundo o Público, desde 2021 até agora, Miguel Pinto pediu uma reunião ao hospital e apresentou uma reclamação no portal das denúncias do próprio grupo Lusíadas, que diz nunca ter tido resposta. Ao fim de mais de dois anos, recorreu à justiça, requerendo o pagamento "do que perdeu em benefícios fiscais" durante o período de tempo em que não foi diagnosticado.
"Ninguém me tirará a leucemia, mas enquanto doente oncológico tenho uma série de benefícios fiscais. Não pude reivindicar esses direitos por causa de não ter sido diagnosticado. Há um flagrante incumprimento do hospital daquilo que é o seu contrato comigo, acompanhar e zelar pelo meu estado de saúde", recorda o doente, pedindo uma indemnização de cerca de 40 mil euros (27 mil referentes a danos morais e 12 mil referentes a dados patrimoniais).
Na contestação citada pelo jornal diário, os advogados do grupo Lusíadas argumentam que o homem não sofreu "qualquer dano de ordem patrimonial ou não patrimonial", rejeitando existirem razões para lhe pagar uma indemnização.
Mais: a defesa do hospital diz que "é impossível determinar, com segurança e certeza, desde quando é que se encontra afetado por esta doença", até porque "apenas é certo que o autor evidenciava os sintomas de linfocitose entre 2017 e 2019, atentos os valores nas análises de rotina".
"Todos estes ‘tormentos’ por que o autor alega ter passado não têm qualquer relação com o atraso no diagnóstico, mas sim com o diagnóstico propriamente dito. É a própria doença que pode, porventura, causar desgostos e tristezas e nunca um eventual atraso no seu detectar, uma vez que não ficou, de modo algum prejudicado na sua saúde, tanto que nem sequer realiza tratamentos, apenas monitoriza", defenderam.
Ao Público - e, posteriormente, ao Notícias ao Minuto - o grupo Lusíadas respondeu dizendo apenas que "as unidades hospitalares e clínicas da Lusíadas Saúde não podem, nos termos legais, partilhar, divulgar ou comentar informações, designadamente do foro clínico, relativa aos seus clientes".
"O Grupo Lusíadas Saúde pauta a sua atividade pelo cumprimento das regras legais, éticas e deontológicas aplicáveis, no sentido de prestar os melhores cuidados de saúde a todas as pessoas que procuram os seus serviços, e deposita absoluta confiança no seu corpo clínico", lê-se na resposta por escrito do grupo do setor da Saúde.
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