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'Rede para o Decrescimento' propõe economia sem PIB e com mais bem-estar

Hans Eickhoff e Álvaro Fonseca defendem um mundo sem publicidade, uma economia sem ser medida pelo PIB e dizem que com um "decrescimento" haverá mais bem-estar e o mundo será melhor em termos ambientais e sociais.

'Rede para o Decrescimento' propõe economia sem PIB e com mais bem-estar
Notícias ao Minuto

08:58 - 14/04/24 por Lusa

Economia Álvaro Fonseca

Os dois fazem parte do movimento 'Rede para o Decrescimento', que surgiu de forma mais estruturada há quase duas décadas em França, sobretudo através de pessoas ligadas à academia, e que em Portugal existe desde 2018, ainda que de maneira mais formal e com uma orgânica interna desde 2021, mas sempre de forma discreta.

Hans Eickhoff e Álvaro Fonseca são 'decrescentistas' mas não são "dirigentes" da Rede, como explicaram em entrevista à Agência Lusa, afirmando que o movimento surgiu de forma muito espontânea, que não tem uma estrutura hierárquica de liderança nem tem "crachás" de membros.

A 'Rede para o Decrescimento', diz Álvaro Fonseca, pretende "desconstruir a falácia de que uma economia baseada na acumulação, na mercadorização, no extrativismo, e no crescimento constante da produção e do consumo pode ser sustentável em termos ambientais e sociais".

A verdade é que, acrescenta, o que se diz sempre é que o país está a crescer, ou mais ou menos, ou que a economia está a desacelerar, embora nunca ninguém explique exatamente qual o impacto da percentagem de determinado aumento do Produto Interno Bruto (PIB), ou como é que isso se reflete verdadeiramente num bem-estar generalizado.

"E não se diz que de facto esse aumento do PIB se reflete apenas, em muitos casos, na concentração de riqueza em muitos poucos", afirma.

É por isso que Hans Eickhoff defende a importância de "abolir esse indicador errado que mede as coisas erradas" que é o PIB como indicador de bem-estar. E devem ser as pessoas a decidir como querem medir esse bem-estar, através de um novo indicador.

E depois, continua, é preciso diminuir o tráfego aéreo. "O projeto de expansão do aeroporto de Lisboa não é só nefasto em termos climáticos e ambientais, porque o avião é a forma de transporte mais poluente para o ambiente, também tem impactos nefastos sobre a saúde da população a nível local, pela poluição atmosférica e pelo ruído".

Além de não estar a cumprir a lei do ruído, a "turistificação" promovida pelo aeroporto "destrói o tecido social da cidade de Lisboa" e o rendimento do turismo nem reverte para a população mas sim para os grandes investidores, acusa.

Hans Eickhoff fala ainda de outra medida cara para os 'decrescentistas', a de acabar com a publicidade, vista como "uma maneira de fomentar cada vez mais o consumo", sendo que "o consumo excessivo é responsável pela destruição do planeta", sendo que "há consumos que não fazem sentido nenhum".

É por isso que a Rede para o Decrescimento, que tem um caracol como símbolo, quer não um regresso ao passado, nem falta de alimentos ou pobreza, mas um reduzir do consumo exagerado de recursos, que são finitos.

"Um sistema assente num crescimento económico infinito num planeta com recursos finitos não pode estar certo", salienta Hans Eickhoff, avisando que "crescer nem sempre é bom" e que "o que cresce sempre (sem limites) é um cancro".

Álvaro Fonseca explica à Lusa que o 'decrescentismo' surge de um pensamento crítico em relação ao sistema económico vigente, juntando pessoas que confluem na ideia da necessidade de uma alteração profunda na sociedade, de redução da produção e do consumo, de um sistema que, ao contrário do atual, "não esteja erguido sobre a exploração de humanos por outros humanos".

"Temos de garantir que as pessoas têm o mínimo para o seu bem-estar sem um impacto demasiado grande para o planeta", temos de mudar para um sistema económico que tenha em conta o ambiente, não podemos ter uma economia que não faz parte de um sistema que é a biosfera, resume Álvaro Fonseca.

E, tal como Hans Eickhoff, garante que os 'decrescentistas' não querem acabar com nada, nem sequer, para já, com os combustíveis fósseis. Não defendem a miséria mas a frugalidade, e dizem que 'reduzir' é a palavra, à qual Hans acrescenta outra, 'simplificar'.

Aliás, diz também, miserável é a vida de muitas pessoas hoje, com casas para pagar e sem recursos, com horas a caminho de casa e do emprego, a comprar 'fast food' e 'fast fashion' porque é mais barato. "Isto não dá alegria a ninguém".

"Temos de por a tónica no bem-estar das pessoas. Vamos construir mais uma estrada para as pessoas irem viver mais longe e passarem mais horas nos transportes?", questiona.

E depois, diz Álvaro Fonseca, é preciso ainda descentralizar a capacidade de decisão e de participação, criar "ferramentas para reduzir um pouco o poder de certas grandes empresas, da banca por exemplo", ou ter uma comunicação social isenta e independente.

Hans Eickhoff acrescenta que é preciso reduzir o peso dos automóveis na vida das pessoas e que é preciso fomentar a produção de alimentos que preservem os ecossistemas.

É a Rede uma organização ambientalista? Os dois respondem que não. Dizem que é mais uma forma de ver o mundo, uma critica social, de intervenção cidadã e de pensamento crítico. E é viver mais dentro dos ritmos da natureza.

Leia Também: Crescimento do PIB do Reino Unido desacelera para 0,1% em fevereiro

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